A transição tecnológica que vivemos hoje não é apenas uma questão de maior velocidade de processamento, mas sim uma mudança fundamental no modelo de interação homem-máquina. Se a Inteligência Artificial (IA) generativa já nos permite "conversar" com os computadores, a chegada da computação quântica promete ser o combustível que levará esta relação a um nível de sofisticação até agora inimaginável.Como refere Miguel de Castro Neto, diretor da Nova IMS, especialista em informática e um dos maiores peritos nacionais em smart cities e modernização da Administração Pública, a tecnologia não ditará o fim da profissão de programador, mas esta nunca mais será a mesma. "Eu acho que a IA vai redefinir o que é um programador, apesar de não ir substituir o programador", afirma ao DN, em entrevista concedida no fim de novembro. O antigo Secretário de Estado defende que o que está a acontecer é uma universalização sem precedentes: "Hoje já somos quase todos programadores, que não éramos. A IA democratizou também a programação".Neste novo paradigma, a interação deixou de ser uma barreira técnica para se tornar um diálogo. Castro Neto sublinha que a IA "alterou de forma disruptiva o modelo de interação homem-máquina. Nós passámos a conversar com os computadores, que era uma coisa que não fazíamos".O prompt tornou-se, assim, a nova sintaxe de uma era onde a fronteira entre o utilizador comum e o criador de soluções digitais está a desmoronar-se.O motor quântico – acelerando o cérebro digitalA simbiose entre a IA e a computação quântica será o grande salto qualitativo desta década, sustentada pela transição dos bits clássicos para os qubits. Esta mudança não é meramente quantitativa: ao permitir que a informação exista em múltiplos estados simultâneos através da superposição e do entrelaçamento, o motor quântico irá comprimir processos de treino de modelos massivos – que hoje levam meses – para meras horas, permitindo que a IA aprenda com volumes de dados exponencialmente maiores.Mais do que velocidade, trata-se de uma inteligência aumentada, onde os algoritmos quânticos conseguem descodificar padrões e correlações complexas que permanecem invisíveis aos sistemas tradicionais. Esta nova arquitetura promete eliminar a latência em tarefas de otimização pesadas, garantindo que a "conversa" entre o humano e a máquina se processe em tempo real e de forma fluida, mesmo quando aplicada à resolução de problemas de escala global.Para os profissionais, o futuro não será de obsolescência, mas de superpoderes. De acordo com Castro Neto, cujas valências em Business Intelligence são reconhecidas internacionalmente, "os programadores não vão acabar. Nós vamos continuar a precisar deles. Vamos é ser todos programadores. E os mais sofisticados vão fazer coisas muito mais espetaculares, muito mais depressa e com um impacto muito maior".A computação quântica será assim infraestrutura que permitirá a estes profissionais orquestrar sistemas que resolvem desafios de otimização, descoberta de materiais ou modelação climática através de interfaces de IA cada vez mais intuitivas, na base da conversação.A revolução que se avizinha não é sobre o fim da programação, mas sobre a sua evolução para uma forma de arte conversacional, onde a vontade humana e a velocidade quântica se fundem numa nova linguagem de criação..Computadores quânticos estão na nuvem. E o mundo divide-se em blocos de medo