Mário Centeno reagiu esta sexta-feira, 25 de julho, pela primeira vez à decisão do Governo de não o reconduzir como governador do Banco de Portugal, sublinhando que a escolha cabe ao executivo e recusando qualquer sentimento de desilusão.“Não pode haver desilusões nestes momentos, nestas áreas públicas”, afirmou Centeno em entrevista, garantindo estar “muito satisfeito com os anos de serviço público" prestado. “Desempenhei o cargo com o maior compromisso”, acrescentou.O economista frisou o papel desempenhado na estabilização do sistema financeiro e no reforço da posição internacional de Portugal, destacando ainda “dossiers importantes”, como o novo edifício-sede do banco central, projeto que considerou uma “expectativa de décadas” e cujos custos foram postos em causa ao longo da última semana.Centeno confirmou ter sido informado da decisão de não recondução no cargo pelo ministro das Finanças, Miranda Sarmento, e sobre o sucessor, Álvaro Santos Pereira, limitou-se a desejar-lhe “muitas felicidades”.Questionado sobre se a decisão do Governo representaria uma apreciação negativa ao seu desempenho, respondeu de forma contida: “Essa pergunta não deve ser dirigida a mim... o meu desempenho está aí para ser avaliado.”Mas, já no final da entrevista, garantiu: "A minha independência não pode ser posta em causa por ninguém, eu sempre usei aquilo que é a massa critica do banco para os trabalhos que foram divulgados. O banco não mudou de atitude."Centeno considera "levianas" dúvidas levantadas sobre a nova sede e diz que informou GovernoDizendo ter aceitado dar a entrevista sobretudo para explicar o negócio da nova sede do Banco de Portugal, o governador ainda em exercício afirmou que o Ministério das Finanças tinha conhecimento de todas as informações relativas à compra das novas instalações da instituição em Lisboa, considerando “muito levianas” as dúvidas levantadas sobre o processo. Centeno defendeu a decisão de avançar com o contrato de compra e venda do edifício com a Fidelidade, mesmo estando em final de mandato, afirmando que se tratava de um “desejo geracional” do banco, há décadas por concretizar."Passaram oito governadores e 22 ministros das finanças até conseguirmos hoje chegar a este ponto. É com enorme ansiedade e até expectativa que o banco vê este passo", defendeu-se, sobre a consumação de avançar com o projeto de construção do novo edifício nos terrenos da antiga Feira Popular, em Entrecampos.Centeno explicou que o projeto do novo edifício envolveu cerca de um ano e meio de trabalho e a colaboração de "dezenas de profissionais internos e externos, incluindo especialistas jurídicos, técnicos e engenheiros". E rejeitou que a proximidade do fim do seu mandato retire qualquer legitimidade à decisão, sublinhando que o processo foi conduzido com rigor e transparência. Apesar de o Ministério das Finanças ter solicitado uma auditoria e alegado desconhecimento sobre todas as implicações financeiras, Centeno garantiu que o ministério foi informado de todos os dados, incluindo os custos adicionais e o contrato de promessa de compra e venda. "Foram dadas todas as informações que respeitavam ao contrato de promessa de compra e venda, aos alertas, à forma como o banco tratou os alertas, ao custo nas avaliações", insistiu Centeno, que assegurou ainda que o ministério liderado por Joaquim Miranda Sarmento "também foi informado de que o custo final não era aquele que já estava contratado e que havia outras verbas" a ter em consideração. Depois do envio da informação, Centeno garantiu ainda que o atual ministro das Finanças Joaquim Miranda Sarmento não manifestou dúvidas. “Não chegou nenhuma pergunta do ministro das Finanças”.As explicações surgem após notícias que apontam para um custo final da obra acima dos 192 milhões de euros inicialmente contratualizados, podendo atingir os 235 milhões, já que o valor inicial se refere apenas às obras estruturais.Sobre o valor total do projeto, Centeno recusou-se a avançar estimativas, alegando risco de comprometer futuras negociações. Mas confirmou os 192 milhões contratualizados inicialmente, lembrando que, tal como numa compra de casa por um particular, o valor escriturado "não engloba o mobiliário". No entanto, assegurou que as estimativas foram partilhadas com o Governo e que o banco optou pela avaliação mais baixa entre duas realizadas, por prudência orçamental. E sublinhou que "nunca antes um processo deste tipo teve tanta divulgação", reiterando que "todas as decisões foram devidamente fundamentadas"..Recusa acusações de favorecimento nas nomeaçõesMário Centeno foi também questionado sobre nomeações feitas já no fim do seu mandato como governador do Banco de Portugal, designadamente a renovação do contrato do seu chefe de gabinete, Álvaro Novo, e a promoção de Rita Poiares a diretora-adjunta do Departamento de Estatística - esta última casada com Ricardo Mourinho Félix, antigo secretário de Estado de Centeno.Visivelmente incomodado com as acusações de favorecimento, Centeno defendeu o mérito dos dois nomeados e criticou duramente os autores das notícias. “As pessoas que fizeram essas notícias não têm currículo para entrar no Banco de Portugal. Para entrar no Banco de Portugal não se pode ter média de 10”.Sobre Rita Poiares, Centeno sublinhou que foi promovida por três governadores diferentes. Já relativamente a Álvaro Novo, defendeu que a continuidade do chefe de gabinete era necessária para garantir o normal funcionamento da instituição.Por fim, não fechou portas a um regresso à política: "O futuro a deus pertence. Esse aforismo popular - não tendo eu necessariamente raízes religiosas muito profundas - é bastante mais adequado neste momento." com Lusa.Álvaro Santos Pereira. O antigo ministro dos pastéis de nata sucede a Centeno.Álvaro Santos Pereira: um governador para a era da “incerteza excecional” no mundo e nos juros