O défice comercial dos Estados Unidos com a Europa nunca foi tão desfavorável como é atualmente, o que explica a crescente hostilidade do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação aos países da União Europeia (UE) que acusa de "tratarem mal" os EUA.De acordo com dados novos do Eurostat publicados esta segunda-feira e cálculos do DN com recurso às séries históricas, o desequilíbrio dos americanos com a Europa duplicou nos últimos dez anos.As exportações europeias duplicaram para o valor mais elevado de sempre, mais de 531 mil milhões de euros em 2024 face a 2014, fazendo o mesmo ao défice comercial, que hoje é altamente desfavorável para as empresas norte-americanas: fixou-se em mais de 198 mil milhões de euros no final do ano passado, mais do dobro face aos 97 mil milhões de 2024, mostra a autoridade estatística europeia.E, ao que parece, Portugal aproveitou ainda melhor a onda. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações de mercadorias portuguesas mais do que duplicaram nestes dez anos que terminam em 2024, até 5,3 mil milhões de euros.O défice dos EUA com Portugal no comércio de mercadorias deteriorou-se na mesma proporção (duas vezes mais desde 2014), para um excedente favorável ao nosso País que hoje supera 2,9 mil milhões de euros.Segundo informou ontem, segunda-feira, o Eurostat, as exportações da Europa (UE) para o resto do mundo em 2024 face a 2023 cresceram apenas 1%, mas para os Estados Unidos avançaram muito mais, o aumento foi superior a 5%.Considerando toda a relação comercial com os EUA, a Comissão Europeia explica que os principais parceiros comerciais da economia norte-americana são, por esta ordem, Alemanha, Países Baixos, Itália, França e Irlanda.Nestes termos, a Europa é, de longe, o maior parceiro comercial dos EUA, respondendo por quase 20% do valor total do comércio bilateral. A seguir surge o México (16%), o Canadá (15%) e a China (11%). Não há coincidências. Estas quatro regiões foram os primeiros alvos preferenciais da retórica e ação protecionista anunciada por Trump desde que assumiu o poder (segundo mandato), no início do mês passado.A principal exportação da Europa para o mercado norte-americano são equipamentos mecânicos e elétricos (mais de 25% do total), depois surgem os produtos farmacêuticos (quase 17%), em terceiro, os automóveis e outros veículos (13% do total vendido).Trump atacaNa quinta-feira passada, Trump oficializou, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, que avançará com os já prometidos aumentos tarifários sobre todos os países "que tratam mal os Estados Unidos" (no comércio externo), isto numa lógica de "reciprocidade", de olho por olho, dente por dente. No grupo dos 'maus', Trump inclui a Europa, todos os 27 países da União Europeia.A ideia de Trump é subir brutalmente muitos dos tributos cobrados nos produtos que os EUA compram à Europa até que estes fiquem equiparados aos respetivas taxas cobradas pela Europa aos EUA.Carros e mariscoTrump diz que tem razões de queixa da Europa e até menciona algumas que, caso resolva agir, podem gerar situações bem críticas. No comércio de veículos automóveis, por exemplo.Segundo o memorando da Casa Branca, "a UE impõe uma tarifa de 10% sobre os automóveis importados" dos Estados Unidos, mas, "no entanto, os EUA impõem uma tarifa de apenas 2,5%" sobre os carros que vêm da Europa.Mais. Trump considera que "a União Europeia pode exportar todo o marisco [crustáceos e moluscos] que quiser para a América, mas a UE proíbe as exportações de marisco de 48 dos nossos estados, apesar de se ter comprometido em 2020 a agilizar aprovações para as exportações de marisco dos EUA".A Comissão Europeia diz que "a política recíproca proposta pelo Presidente Trump é um passo na direção errada" e que, caso este concretize as ameaças, responderá da mesma forma.