Dinheiro
18 março 2021 às 07h00

Zonas campestres no topo das tendências do turismo

Apoios ao turismo em Portugal e Espanha vão ser importantes para setor recuperar aquando do alívio das restrições, diz OMT. Organização diz que retoma do turismo internacional ditará "procura mais forte" por viagens autênticas, em zonas campestres.

O turismo em Portugal vive dias de grande incerteza. Depois de 2020 ter sido um dos piores anos de que há memória, os primeiros meses de 2021 são uma continuação do ano passado. Com a Páscoa já perdida - devido ainda às fortes restrições à escala nacional e europeia - muitos esperam que o sol e o calor a partir de junho animem a atividade. Longe dos números de 2019 -, as projeções dos organismos internacionais sugerem que isso poderá acontecer em 2023 - a Organização Mundial do Turismo (OMT) acredita que, pelo menos, uma parte da herança da pandemia se vai prolongar nos próximos meses e anos: o turismo interno vai ser o primeiro a recuperar, com as zonas rurais a continuarem a assumir um papel relevante.

"Como vimos nos últimos meses, o turismo interno vai regressar antes do turismo internacional e, com isto, chegam oportunidades para as áreas rurais em particular. As ações levadas a cabo pelo governo para desenvolver infraestruturas e novas experiências, com instrumentos como o programa Revive, vai reforçar esta tendência", diz em entrevista ao DinheiroVivo Zurab Pololikashvili, secretário-geral da OMT. "Com a retoma do turismo internacional, antecipamos uma procura mais forte por experiências de viagem autênticas e únicas, incluindo experiências na natureza e em ambiente rural".

No ano passado, Portugal contou com 10,5 milhões de hóspedes - longe dos mais de 27 milhões em 2019 -, dos quais 6,5 milhões eram residentes no país (dados do INE). Foram registadas 25,8 milhões de dormidas (em 2019 foram mais de 70 milhões), das quais 13,6 milhões foram realizadas por residentes em Portugal.

À escala europeia, o panorama não foi muito diferente: "2020 foi o pior ano registado para o turismo, com as chegadas de turistas internacionais a cair mais de 70%, para níveis de 1990", desabafa. Por isso, Zurab Pololikashvili não tem dúvidas de que "recuperar a confiança no turismo internacional é uma prioridade". Nesta rota, o certificado verde digital, proposto ontem pela Comissão Europeia, pode dar um empurrão. Bruxelas antecipa que esse documento - que vai estar disponível em versão digital e papel - possa indicar se o cidadão de um país está vacinado contra a covid-19, o resultado de um teste à covid-19 e se está imunizado.

Com o objetivo de facilitar a livre circulação de pessoas, Bruxelas espera que esta proposta possa estar operacional em junho, a tempo de dar algum oxigénio ao turismo.

A OMT defende que "tanto Portugal como Espanha estão no topo dos destinos turísticos" e que os apoios ao setor vão ser uma alavanca para a retoma. Em Portugal, até à última semana de fevereiro, tinham sido aprovadas mais de 10 mil candidaturas, no valor de 92,9 milhões de euros, dos quais 83,3 milhões já tinham sido pagos, a maior parte na restauração (59% do total) e no alojamento.

"Os governos de ambos os países apoiaram ativamente o setor - incluindo através de pacotes de ajuda económica sem precedentes - e, por conseguinte, milhões de cidadãos cujos meios de subsistência estão ligados ao turismo, em conjunto com a infraestrutura existente, isto vai ajudar o turismo a estar pronto para recuperar da crise e tirar partido da procura reprimida que temos observado, quando as restrições forem levantadas", sustenta.

Ana Laranjeiro é jornalista do Dinheiro Vivo