Xi Jinping vem a Portugal anunciar mais investimento. EDP não domina agenda
Marques da Cruz, presidente da Câmara de Comércio Luso-Chinesa, diz que Xi Jinping não vai chamar à atenção do governo português por causa da EDP.
O presidente da China Xi Jinping estará em Portugal a 4 e 5 de dezembro e durante a visita deverá anunciar um "reforço do investimento chinês em Portugal". A garantia é dada por João Marques da Cruz, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, que amanhã organiza em Lisboa a conferência "Relações Portugal-China: Conhecer o Passado, Preparar o Futuro". O evento insere-se na V Gala Portugal-China, que contará com a presença do primeiro-ministro, António Costa.
Além dos setores em que a China já investe em Portugal - como a energia, seguros, saúde e imobiliário - há novas oportunidades noutros setores como os portos ou as infraestruturas, entre outros, garante. "Faz todo o sentido que exista esse investimento chinês e que Portugal possa diversificar as suas fontes de investimento estrangeiro. A China assume-se como muito relevante".
Marques da Cruz, que também é administrador da EDP, sedeado em Macau, não espera no entanto que as questões que opõe a elétrica e o governo português, nomeadamente ao nível dos recentes cortes nos valores a receber por via dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC), entre outros dossiês polémicos, dominem as conversas nas 48 horas do presidente chinês em Portugal.
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"Não acredito que haja nenhuma observação específica de desagrado. Mas é normal que os investidores queiram que haja estabilidade regulatória e capacidade de o governo português cumprir com todos os compromissos que foram feitos, nomeadamente com os investidores chineses. Eu genuinamente espero que esta visita possa contribuir para um processo de aproximação entre as partes", disse Marques da Cruz, garantindo não acreditar que Xi Jinping chame à atenção do governo português por causa da EDP.
"Não é normal na cultura chinesa colocar as coisas nesses termos. É verdade que houve problemas, mas acredito e espero que haja agora um processo de resolução desses problemas".
A visita do chefe de Estado chinês acontece em pleno contexto de OPA à EDP por parte do seu maior acionista, a China Three Gorges (detida pelo Estado chinês, que também tem participação na REN). António Mexia já garantiu que a OPA está "a decorrer como esperado", aguardando ainda as autorizações necessárias nos vários países onde a empresa marca presença, mas a decisão do governo em cortar 285 milhões de euros de alegada sobrecompensação à EDP (aos quais se podem somar mais 72,9 milhões de euros, ainda a exigir à empresa) levou o Conselho Geral de Supervisão, do qual os investidores chineses fazem parte, a avançar para a arbitragem internacional contra a decisão do governo português.
Mais investimento e parcerias empresariais em países estrangeiros
Na visão do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, a visita do presidente da China a Portugal terá duas grandes questões em cima da mesa: o reforço do investimento chinês em Portugal e investimentos conjuntos de empresas portuguesas e chinesas em países terceiros. "Vão falar de projetos a curto prazo. Nesta visitas geram-se dinâmicas que permitem gerar investimentos. Durante a visita serão feitos anúncios para uma nova dinâmica de investimentos em Portugal. Vão ser referidos também investimentos em terceiros países: empresas portuguesas e chinesas a investirem juntas na Europa e América Latina. O investimento conjunto não deve estar somente centrado em África. Europa e América Latina são geografias prioritárias", disse Marques da Cruz.
O anfitrião da V Gala Portugal-China, que este ano assinala os 40 anos das relações diplomáticas entre os dois países, diz que a visita do presidente chinês acontece numa altura em que "a relação económica entre os dois países está muito bem, quer em termos de investimento quer de trocas comerciais". "Há uma perspetiva de que o investimento chinês em Portugal possa crescer e fortalecer-se, e que o país possa ser um polo de atração de uma iniciativa chinesa muito relevante que é a Rota da Seda. Para a China é absolutamente estratégico e Portugal tem todo o interesse em se posicionar".
Fazendo o balanço de 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países, Marques da Cruz diz que "só pode ser positivo". Há uma década, no entanto, as relações económicas (nomeadamente em termos de investimento) eram ainda pouco expressivas, estando atualmente mais "sólidas". "É importante para Portugal que as empresas chinesas tenham descoberto um país que, ao contrário de outras na Europa, não tem restrições ao investimento chinês. Portugal nunca o fez. O investimento chinês em Portugal é muito bem vindo. Nem todos os países da UE podem dizer o mesmo".
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