TAP diz que renovação da frota automóvel permite poupar anualmente 630 mil euros

Notícia avançada pela TVI/CNN avançava que companhia encomendou uma nova frota de automóveis BMW corporativa, substituindo os da Peugeot, que terão um valor de mercado a partir dos 52 e dos 65 mil euros. Sindicato crítica e Marcelo Rebelo de Sousa fala em "problema de bom senso".
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A TAP defende que a renovação da frota automóvel para a administração e gestores permite uma poupança de 630 mil euros anualmente, justificando que a decisão foi assente neste racional ao mesmo tempo que cumpre os contratos.

"A Comissão Executiva quer esclarecer que a TAP dispõe de uma frota automóvel corporativa para a administração e diretores, em regime de 'renting' operacional. Com a opção que fizemos, estamos a poupar anualmente até 630 mil euros, se tivéssemos mantido os carros que temos hoje", refere a TAP num comunicado interno, ao qual a Lusa teve acesso.

Em causa está a notícia avançada pela TVI/CNN Portugal e pelo portal Away de que a TAP encomendou uma nova frota de automóveis BMW corporativa, substituindo os da Peugeot, que terão um valor de mercado a partir dos 52 e dos 65 mil euros.

Na mensagem interna, a TAP explica que a atual frota é maioritariamente de 2017 e atinge o máximo de prorrogações possíveis em contrato no próximo ano.

"Não havendo outra opção senão celebrar novos contratos, optou-se por viaturas híbridas plug-in, em vez do atual diesel, por motivos ambientais, mas, também pelos benefícios fiscais associados a estas viaturas, menos poluentes", escreve a comissão executiva da TAP, liderada por Christine Ourmières-Widener.

Segundo a empresa, "esta opção representa uma poupança superior a 20% do valor mensal da renda e tributação, relativamente a novos contratos de renting para viaturas com características semelhantes às atuais (gasóleo), estando em linha com o plano de reestruturação uma vez que representa o menor custo possível em sede de concurso no mercado", apresentando "também melhores prazos previstos para entrega das viaturas".

A TAP justifica que estão em causa 50 viaturas, para o qual foi feito um concurso ao mercado, tendo sido convidadas a participar seis entidades no mercado português.

"A proposta escolhida foi a que apresentou o preço mais baixo, com uma renda mensal de 500 euros. Como referência, as outras propostas apresentadas à TAP com valor mais competitivo contemplavam rendas mensais de 750 euros", pode ler-se.

Na mensagem interna, a companhia salienta que "a decisão da empresa teve assim um racional de poupança, cumprindo ao mesmo tempo os contratos estabelecidos com os gestores que incluem uma viatura de serviço".

O Presidente da República apontou hoje à companhia aérea portuguesa TAP "um problema de bom-senso", na sequência de notícias sobre a compra de carros de luxos para administradores e diretores, defendendo contenção em tempos difíceis.

"Já falei em relação a várias entidades públicas no passado e em relação à distribuição de dividendos e em relação aos salários e entendo que quando se está num período de dificuldade deve fazer-se um esforço para dar o exemplo de contenção", defendeu hoje Marcelo Rebelo de Sousa.

No entender do Presidente da República, é compreensível que as empresas façam despesas, mas defendeu que é preciso "ter algum bom senso" quando o país e o mundo atravessam um "período difícil".

"É um problema de bom senso", rematou, em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.

O Bloco de Esquerda considerou hoje "um insulto" ao país a TAP ter encomendado carros de luxos para administradores e diretores e defendeu que esta situação "deveria merecer um enorme reparo" por parte do Governo.

"É um insulto o que a administração da TAP fez ao país e creio que da parte do Governo, que é quem representa o Estado junto da TAP, porque é o representante do acionista deveria merecer um enorme reparo", defendeu o líder parlamentar do BE.

Pedro Filipe Soares, que falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa dos 112 anos da implantação da República, em Lisboa, reagiu assim às notícias que dão conta de que a TAP encomendou dezenas de carros de luxo para administradores executivos e diretores de topo, uma investigação da CNN Portugal, segundo a qual estas viaturas vão substituir a atual frota automóvel da companhia aérea.

"Quando tivemos milhares de milhões de euros de dinheiros públicos que foram usados para salvar a TAP por ser estratégica para o país, e nós consideramos que é estratégica para o país, não faz sentido que o dinheiro público seja usado com decisões que são incompreensíveis como essa", defendeu o deputado.

O líder parlamentar do BE apontou que "também é um insulto ao país a ideia do Governo de injetar milhares de milhões de euros na TAP no ano passado, há dois anos, e agora dizer que ela está disponível para ser privatizada".

E defendeu que "isso não é compreensível porque se ela era estratégica no passado, é estratégica no presente e será estratégica no futuro, tem é que ser salvaguardado o interesse público", considerando que "parece mais um exemplo" de que isso não está a acontecer.

O Chega vai questionar o Ministério das Infraestruturas sobre a compra de carros de luxo para administradores e diretores da TAP, situação que o líder, André Ventura, considerou hoje "absolutamente imoral" no atual momento.

"Num momento de crise como o que estamos a viver vamos questionar qual é a justificação para haver despesas deste tipo numa companhia aérea que os portugueses tem vindo a salvar com os seus impostos", afirmou à Lusa o presidente do Chega, André Ventura.

O líder do partido reagiu assim às notícias que dão conta de que a TAP encomendou dezenas de carros de luxo para administradores executivos e diretores de topo, uma investigação da CNN Portugal, segundo a qual estas viaturas vão substituir a atual frota automóvel da companhia aérea.

Ventura quer saber que justificação tem o Governo de António Costa para gastar "milhões em carros de luxo" numa altura de crise e em que a companhia aérea está a "conter o pagamento de salários e de despesas operacionais".

"E, por isso, através do parlamento, da figura da questão parlamentar, preparámos uma questão para o Ministério das Infraestruturas para perceber como tamanha imoralidade é possível num tempo como estamos a viver", frisou.

O SNPVAC defendeu hoje que a renovação da frota automóvel da TAP é ética e moralmente condenável, considerando que se não for sinal de disponibilidade para subir ordenados aos tripulantes é um ato de gestão "vergonhoso".

Num comunicado aos associados que a Lusa teve acesso, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) assinala que "foi com enorme estupefação e uma boa dose de vergonha alheia que os sindicatos, os trabalhadores do grupo TAP e os contribuintes portugueses foram confrontados com uma notícia que pode até ter uma rebuscada justificação económica, mas que é ética e moralmente condenável".

Para o sindicato, é "inaceitável" que, "além da administração da TAP, a tutela esteja também constantemente a apelar ao esforço dos seus colaboradores para a sobrevivência da companhia e venham a público notícias de 'pequenos luxos', de forma cíclica".

"Queremos assim acreditar que esta decisão, que envolve milhões, de renovação da frota automóvel por parte da administração, só pode trazer boas notícias", refere o comunicado, sublinhando que tal "pressupõe a disponibilidade para aumentar os ordenados dos tripulantes, acompanhando a subida da inflação".

"Se assim não for, estamos perante um ato de gestão vergonhoso, que coloca a Administração numa situação insustentável", vinca.

O sindicato diz ainda que "não pode deixar de confrontar a própria tutela, que deverá interrogar-se quanto à imagem passada aos contribuintes", questionando "como se justifica que uma Empresa intervencionada se dê a estes luxos".

"Esperamos sinceramente que este não seja um mau presságio para a entrega de prémios num futuro próximo", acrescenta.

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil sugeriu hoje à TAP a mesma lógica de "gastar-mais, para poupar", com que a companhia se defendeu sobre a renovação da frota automóvel corporativa, para a reposição das condições laborais dos trabalhadores.

Num comunicado enviado aos associados, a que a Lusa teve acesso, o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) cita o provérbio "à mulher de César não lhe basta ser séria, tem que parecer séria" para criticar a opção da TAP.

"Seguindo o racional da justificação por parte de quem optou por adquirir viaturas nesta altura tão sensível, que tem como fundamento uma miraculosa poupança, sugerimos a mesma lógica de "gastar mais, para poupar" para a reposição de dignidade aos trabalhadores", lê-se na mensagem do sindicato.

Em causa está a notícia avançada pela TVI/CNN Portugal e pelo portal Away de que a TAP encomendou uma nova frota de automóveis BMW para a administração e gestores, substituindo os da Peugeot.

Na nota, o SPAC sublinha que "enquanto uns têm cortes brutais nos seus vencimentos, quando ainda há processos de despedimento em curso e quando se condiciona a qualidade de vida a outros, em simultâneo, renova-se o parque automóvel dos cargos de direção", defendendo que "para a existência de paz social, é imperativa a presença de justiça social".

Neste contexto, considera que a "nova atitude" perante "os gastos" terá de abranger os pilotos na reposição das condições laborais.

"Se tal não acontecer ficaremos realmente surpreendidos e seremos obrigados a acreditar na hipótese de que a administração da TAP ou não quer aplicar o excedente financeiro na justa reposição das condições laborais dos trabalhadores, ou não existe excedente financeiro e esta renovação da frota foi paga com os cortes nos salários dos trabalhadores", é acrescentado no comunicado.

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