Salários de banqueiros na UE custam 10,3 mil milhões

Contas pecam por defeito já que incluem apenas banqueiros que ganharam mais de um milhão durante 2015.
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Os bancos europeus gastaram 10,3 mil milhões de euros só em salários e prémios para os seus principais gestores de topo, mais 71% do que os 6 mil milhões pagos em 2013 e mais 40% face aos 7,4 mil milhões de 2014. Os dados foram apurados pela Autoridade Bancária Europeia já neste mês (ABE) e dizem respeito ao exercício de 2015.

Apesar da dimensão do valor, este ficará bastante aquém do gasto real dos bancos com os gestores de topo, pois a ABE apenas compila dados sobre banqueiros que receberam mais de um milhão de euros em salários ou prémios em dado ano - os chamados high earners.

Em 2015, a ABE contabilizou 5 142 destes banqueiros milionários em 22 países europeus, um salto de 33% face aos 3865 registados no ano anterior. Grande parte deste salto, diz o supervisor, veio por culpa da evolução da libra ao longo de 2015, com a cotação da moeda a puxar muitos salários na City - onde ainda está a maioria da banca presente na Europa - para mais de um milhão depois da conversão.

Apesar do efeito cambial, e se expurgarmos das contas os salários pagos no Reino Unido, a evolução foi no mesmo sentido, ainda que menos pronunciada: a crise persiste, as margens estão reduzidas a mínimos, mas há cada vez mais banqueiros milionários. Sem contar com o Reino Unido, o total de high earners nos restantes 21 países considerados passou de 938 para 1009 de 2014 para 2015, um crescimento de 7,6%, tendo as instituições gasto 1,84 mil milhões de euros com estes gestores - mais 13%. Destes números, percebe-se, por um lado, a enorme concentração de grandes bancos na City londrina, mercado que concentrou 80% dos banqueiros milionários em 2015, mas também o porquê de o brexit ser uma enorme ameaça/oportunidade, dependendo se é britânico ou de um dos países que está a procurar aliciar estes mesmos bancos a deslocalizarem-se para o seu território.

Tal como o DN/Dinheiro Vivo escreveu na última semana, entre os banqueiros milionários contabilizados pela ABE, alguns estão em Portugal. De acordo com os dados desta autoridade, em 2015 houve 14 gestores bancários a levar para casa mais de um milhão de euros em remuneração fixa e variável, o dobro dos milionários da banca em 2013.

Variáveis pesam cada vez mais

Apesar das recomendações que vêm sendo transmitidas pela supervisão europeia, que pede uma postura "cautelosa e previdente" na definição de prémios, a componente variável continua a ser a principal cash cow dos gestores.

Segundo os dados recolhidos pela ABE relativos a 2015, dos 10,3 mil milhões pagos aos high earners da banca, 60% foram entregues à conta de componentes variáveis, ou seja 6,14 mil milhões. No ano anterior, em 2014, os prémios tinham respondido apenas por 56% do total. Olhando um pouco mais atrás, porém, nota-se que houve uma evolução significativa neste ponto: naquele ano a componente variável respondia por 76% das remunerações totais pagas a banqueiros milionários.

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