Regresso a 2016. Toda a retoma pós-troika em Portugal deve desaparecer
Por cada mês de paragem forçada dos setores económicos ditos "não essenciais", o tamanho da economia (medida pelo PIB - produto interno bruto nominal) emagrece o equivalente a 3% do seu valor anual, alertou esta semana, Poul Thomsen, economista de topo do FMI, num estudo sobre o que pode acontecer às economias europeias por causa do coronavírus.
Aplicando esta matriz à realidade portuguesa significa que por cada mês de paragem forçada (lock- down) evaporam da economia cerca de 6,4 mil milhões de euros.
Se a paralisia durar três meses (até final de maio), o custo macroeconómico direto ascende a 19 mil milhões de euros.
Se a situação se prolongar mais um mês (até final de junho, o que é bem possível pois parece que o pico da pandemia está a ser adiado), o ónus direto sobre o PIB anual português pode facilmente ultrapassar os 25 mil milhões de euros, de acordo com cálculos do Dinheiro Vivo a partir do referencial dado pelo economista do FMI.
Ora, isto significa, basicamente, que o PIB, que terminou 2019 a valer 212 mil milhões de euros, segundo informação recente oficial (INE), vai regressar ao passado, aos níveis de 2016, isto é, facilmente recuará até aos 186 mil milhões de euros em 2020.
O mesmo que dizer que a economia está a caminho de perder quatro anos de crescimento. O vírus vai apagar maior parte da riqueza que se conseguiu acumular com a retoma que se processou após a saída do programa de ajustamento, só para se ter uma ideia da escala de destruição aqui envolvida.
Thomsen, diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI), é bem conhecido de muitos portugueses; foi o primeiro chefe de missão do FMI a Portugal na altura do plano de resgate.
Segundo ele, esta doença "atingiu a Europa com uma ferocidade impressionante". "Embora não saibamos quanto tempo durará a crise, sabemos que o impacto económico será severo" e que nas economias europeias, "os serviços não essenciais encerrados por decreto do governo representam cerca de um terço da produção".
Portanto, continua o economista, "isto significa que por cada mês que esses setores permanecem encerrados isso traduz-se numa queda de 3% no PIB anual".
Thomsen avisa que este grau de destruição resulta de uma aritmética simples e que não leva em conta sequer "outras perturbações e repercussões no resto da economia". "Podemos prever com muita certeza que a Europa vai ter uma recessão profunda este ano", lamentou.
Os economistas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), o clube de três dezenas de economias ditas desenvolvidas ao qual Portugal pertence, também traçam um cenário negro em 2020.
O bloqueio económico e social "afetará diretamente setores que representam até um terço do PIB das principais economias". O resultado imediato é que "por cada mês de contenção, haverá uma perda de 2 pontos percentuais no crescimento anual".
A OCDE deixa um aviso que toca especialmente em Portugal. "Só o setor do turismo enfrenta uma queda que pode ir até 70%. Muitas economias vão entrar em recessão, é inevitável".
O Banco de Portugal foi a primeira instituição oficial a fazer contas aos impactos da pandemia em Portugal e indicou que a economia portuguesa pode mergulhar, em 2020, na pior recessão anual alguma vez registada nas séries históricas que remontam a 1960.
O colapso previsto de 5,7% na atividade económica real (cenário mais grave para 2020) traz consigo más notícias em toda a linha. A destruição de emprego vai ser a mais cavada de que há registo, o investimento ficará de rastos, a hecatombe nas exportações será também a mais aguda das séries.
O banco central avisou ainda que "a importância do setor do turismo na atividade económica implica uma elevada exposição à redução esperada da procura global deste tipo de serviços, que será muito significativa".
jornalista do Dinheiro Vivo