2023 está a ser um ano de grandes desafios para o empreendedorismo em Portugal. Estamos a ver o investimento de Venture Capital (VC) diminuir mais de 50% em relação ao ano anterior, refletindo uma tendência global, e é crescente a concorrência internacional na atração e retenção de talento qualificado, com Portugal a competir com países vizinhos como Espanha e França, com o Reino Unido, ou mesmo com países de outros continentes. O ecossistema empreendedor português já mostrou ser resiliente e ter uma elevada capacidade de adaptação (como foi evidente na crise do covid-19), com as startups portuguesas a darem cartas na inovação, na flexibilidade, na antecipação e reação às novas circunstâncias. Ao que já foi feito por empresários, investidores e agentes públicos nestes últimos 10 anos - que nos permitiu atingir o estatuto de referência internacional no empreendedorismo - têm que se acrescentar novas iniciativas, distintivas, que respondam às novas necessidades e tendências, e aos recentes movimentos dos nossos concorrentes, sob risco de perdermos o posicionamento que tanto custou a alcançar. O que foi feito nos últimos anos é, sem dúvida, muito relevante, vejamos alguns exemplos: 1. Foi fundamental para a competitividade do nosso ecossistema a promulgação da Nova Lei das Startups, em maio de 2023, diploma que define o que são startups e scaleups, tornando Portugal num dos primeiros países do mundo a ter estes dois conceitos vertidos na lei. Por outro lado, com a nova lei, Portugal ganhou um dos Regimes de Stock Options mais competitivos da Europa, fundamental na atração de talento e para o crescimento das nossas startups; 2. Está em curso a aplicação de importantes Fundos PRR no empreendedorismo, através de vouchers destinados a startups, incubadoras e aceleradoras, e de fundos geridos pelo Banco Português de Fomento destinados a venture capital e a projetos inovadores, canalizando para estas áreas apoios e investimentos (diretos e indiretos) na ordem dos mil milhões de euros; 3. Foram lançados e estão em desenvolvimento programas e iniciativas públicas de grande alcance, dedicadas, entre outros fins, ao empreendedorismo, como por exemplo: os Digital Innovation Hubs, as Zonas Livres Tecnológicas, os programas Tech Visa e Startup Visa ou o IRS Jovem. Agora, o que temos pela frente é tão ou mais importante: é fundamental reunir esforços em torno de uma renovada Estratégia Nacional para o Empreendedorismo para o médio-longo prazo, consistente e articulada entre os agentes privados e públicos que gere convergência e mobilize todos em torno deste desígnio: manter e reforçar a posição de Portugal como uma referência mundial no empreendedorismo e inovação. Entre as prioridades dessa Estratégia, destaco dois pilares fundamentais: 1. Aumentar a capacidade de atração e retenção de talento qualificado. A concorrência internacional por talento é intensa, com países vizinhos como Espanha a fortalecerem as suas políticas neste sentido. Devemos, por isso, continuar a lançar políticas ativas destinadas a atrair e reter talento, para garantir a continuidade deste tipo de empresas e o desenvolvimento do ecossistema. Neste campo, a aplicação do Regime de Residentes Não Habituais às startups e scaleups, é um argumento distintivo que importa não perder sob risco de regredirmos de forma significativa; 2. Aumentar o investimento privado de fundos de pensões em venture capital e startups. Portugal tem imperativamente de criar condições mais favoráveis ao investimento de fundos de pensões privados em startups e scaleups, com vista a reduzir a dependência de fundos públicos e a evitar que as startups mais bem-sucedidas tenham de sair do país, rumo aos EUA, para acederem a rondas de financiamento mais robustas. Isto envolve criar mecanismos de incentivo destinados a promover e a canalizar essas fontes de financiamento para estas empresas. Neste quadro, a edição de 2023 da Web Summit (WS) surge como um polo de atração e visibilidade para Portugal que importa aproveitar da melhor forma. Além dos milhares de startups, grandes tecnológicas e investidores que vão marcar presença no evento, é importante salientar que, este ano, só através do programa Road 2 Web Summit, a WS contará com um total 115 startups portuguesas que serão apresentadas a delegações estrangeiras, exibirão as suas conquistas e farão parte de Pitch Competitions, oportunidades que as poderão ajudar a atingir outros patamares. O futuro da economia portuguesa passa pelas startups. É vital que exista uma colaboração eficaz entre agentes públicos e privados, de forma a promover o desenvolvimento e prosperidade da nossa economia, sendo essa colaboração a essência da missão da Startup Portugal. Têm sido inúmeros os desafios superados, assim como os resultados alcançados. O futuro promete mais crescimento e inovação, e é fundamental que o país se continue a adaptar e a evoluir para responder às necessidades e desafios, em constante mutação, da economia global. Portugal tem todo o potencial e condições para se destacar internacionalmente neste campo, sendo para isso crucial dar continuidade e reforçar a aposta no empreendedorismo e nas startups..António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal