O mercado de trabalho envelheceu após a chegada da pandemia, e os trabalhadores com mais de 44 anos passaram a representar mais de metade da população empregada. A recuperação de postos de trabalho viveu em 2021 da contratação de trabalhadores mais velhos, com os mais novos a aprofundarem ainda as perdas de participação no trabalho..Segundo o último inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicado ontem, o ano passado somou, em estimativa média anual, mais 128,6 mil postos de trabalho do que um ano antes (mais 2,7%). O total da população empregada, de mais de 4,8 milhões de indivíduos, representa agora o ponto mais alto desde 2011 e também um regresso às subidas de emprego iniciadas em 2014..Mas, a melhoria não representou oportunidades para todos. Entre os mais jovens prosseguiram as quedas. Até aos 44 anos, o emprego caiu ainda 0,8%, com menos 19,6 mil indivíduos a trabalhar. E o peso dos trabalhadores nestas idades reduziu-se, passando a apenas 49% da população empregada, rente aos 2,4 milhões de indivíduos..A maior redução, em termos absolutos, ocorreu entre quem tem entre 25 e 34 anos, com menos 11 mil trabalhadores (menos 1,2%) para um total de 888,5 mil. Dos 16 aos 24 anos, a perda foi ainda de seis mil empregos face a um ano antes (menos 2,3%), para 249,8 mil indivíduos. Já dos 35 aos 44 anos, houve menos 2,6 mil pessoas a trabalhar, ou menos 0,2%, para um número acima de 1,2 milhões..Em sentido oposto, aumentaram os trabalhadores mais velhos, cuja contratação foi a grande contribuinte para a subida líquida do emprego. Aqueles que têm mais de 44 anos passaram a 51% da população empregada, invertendo posição com os mais novos..O principal contributo para a subida no emprego foi dado pelo aumento de postos de trabalho ocupados por quem tem entre 55 e 64 anos. Foram mais 70,5 mil, num crescimento de 8,4% face a 2020, para 910,2 mil pessoas. Também o emprego dos 45 aos 54 anos somou mais 47,2 mil trabalhadores, sendo mais 3,7%, numa subida para um pouco mais de 1,3 milhões..Em termos relativos, porém, destaca-se o grande crescimento entre aqueles que, após os 65 anos, se mantêm a trabalhar. Foram mais 30,5 mil no último ano, disparando 19,2% para um total de 189,7 mil..Há outras tendências a assinalar na recuperação do emprego de 2021. Nomeadamente, uma subida expressiva dos trabalhadores com qualificações mais elevadas, ao mesmo tempo que a perda de emprego prosseguiu entre quem não estudou além do nono ano de escolaridade, e também o reforço dos vínculos permanentes, com queda continuada dos contratos a prazo..Segundo o INE, a contratação permanente teve no ano passado um reforço de 80,1 mil postos de trabalho, com a contratação a prazo e de outras tipologias a perder nove mil e 14,2 mil trabalhadores, respetivamente. O peso dos contratos a prazo no trabalho por conta de outrem recuou para 14,4%, correspondendo a 586,6 mil indivíduos..O resto do aumento de emprego considerado representa mais trabalho por conta própria (mais 45,4 mil do que um ano antes), mas também de trabalhadores familiares não remunerados (mais 26,3 mil). O exercício de atividade sem contrato em empresas familiares quase triplicou, abrangendo no último ano 41 mil pessoas..Ao nível das qualificações, foi a contratação de trabalhadores com ensino superior que deu o grande impulso de subida de emprego. O INE estima mais 200,8 mil trabalhadores com ensino superior com emprego, com o total a superar já 1,6 milhões. Assim, a percentagem de diplomados no emprego passou de 31% a 34%..Os trabalhadores com habilitações ao nível do secundário e pós-secundário também aumentaram. Foram mais 56,2 mil, passando a superar 1,4 milhões. Apesar disso, o peso destas qualificações no emprego não se alterou (30%). Já os trabalhadores que não estudaram além do terceiro ciclo do ensino básico caíram substancialmente. Saíram do emprego 128 mil pessoas com qualificações até ao nono ano, com o total a ficar agora em pouco mais de 1,7 milhões. A percentagem destes trabalhadores caiu de 39% para 36%..Maria Caetano é jornalista do Dinheiro Vivo