Pilotos acusam ministro de passar dados incorretos. Tem que "afinar bússola"
O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) afirmou hoje que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, tem passado dados incorretos, à semelhança de outros responsáveis, aconselhando-os a "afinar as suas bússolas".
"Há várias pessoas, como o senhor ministro das Infraestruturas, que têm passado alguns dados que não estão corretos e nós temos como prová-lo", lamentou Alfredo Mendonça, em conferência de imprensa, em Lisboa.
De acordo com o responsável, dados incorretos "causam muitos danos na classe e no seu futuro".
Assim, "estas pessoas precisam de afinar as suas bússolas e reorientarem a navegação", considerou.
"Há uma grande campanha de desinformação relativamente aos pilotos e atacando a dignidade dos pilotos. Chegámos ao ponto em que começou a ser atacada a dignidade humana e laboral dos pilotos. Já os compararam com os bancos sujeitos a reestruturações", acrescentou Alfredo Mendonça.
Alfredo Mendonça lembrou ainda que os pilotos portugueses são disputados por todas as companhias do mundo e considerados "dos melhores trabalhadores que se pode ter".
Para o responsável, é necessário separar a TAP SGPS da SA. "Desde 1997 que não era injetado um cêntimo. A TAP SA normalmente apresenta resultados muito diferentes dos referidos", notou.
O SPAC disse ainda desconhecer qual a origem dos dados que apontam que a TAP tem mais pilotos do que as congéneres, defendendo que estes não são verdadeiros.
O ministro das Infraestruturas disse hoje que a TAP tem mais 19% de pilotos por aeronave do que "praticamente todos os concorrentes", sublinhando que a empresa tinha um conjunto de desvantagens competitivas face às congéneres, antes da covid-19.
"A TAP tem mais 19% de pilotos por aeronave do que praticamente todos os concorrentes. A TAP tem mais 28% de tripulantes por aeronave do que a maior parte dos concorrentes", disse Pedro Nuno Santos.
"A TAP tinha e tem um conjunto de ineficiências que a tornam menos competitiva do que os seus concorrentes, que são as companhias de bandeira. Antes da covid-19 tinha já um conjunto de desvantagens competitivas face às congéneres", acrescentou.
Segundo o governante, "para produzir o mesmo, a TAP precisa de mais pilotos", uma diferença face aos concorrentes diretos que, disse, tem que ser corrigido com o plano de reestruturação.
A informação foi transmitida em conferência de imprensa conjunta do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e do secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, no Ministério das Infraestruturas, em Lisboa, depois de o Governo ter entregado o plano de reestruturação da companhia aérea à Comissão Europeia, na quinta-feira.
O SPAC defendeu ainda que o plano de reestruturação da TAP vai impedir a companhia de competir com as outras empresas quando a procura começar a disparar, após a pandemia de covid-19.
Em conferência de imprensa, Rodrigo Guimarães do SPAC afirmou que o plano, da forma como está estruturado, congela o futuro da TAP à data em que o país está a atravessar uma segunda vaga da pandemia de covid-19.
"Este é o cenário de procura que vai fixar para sempre a estrutura da TAP. Vamos ter uma redução da frota e do que é quota da TAP no transporte aéreo europeu", apontou.
Assim, conforme notou este responsável, a companhia não vai ter capacidade de competir com as outras empresas "quando a procura" começar a aumentar.
"Entregámos um plano [à Comissão Europeia] que vai implicar uma enorme redução da TAP e do poder que tem de operar no mercado", reiterou.
O Governo entregou à Comissão Europeia a proposta inicial do plano de restruturação da TAP, que prevê para o próximo ano um auxílio do Estado de 970 milhões de euros, anunciou o executivo.
De acordo com um comunicado conjunto dos ministérios das Infraestruturas e da Habitação e das Finanças, "foi entregue hoje [quinta-feira] à Comissão Europeia uma proposta inicial do plano de reestruturação da TAP, ao abrigo da Diretiva Europeia que regulamenta os auxílios de Estado".
O Governo estima que a TAP tenha condições para começar a devolver os apoios do Estado em 2025, mas até lá poderá ter de receber um valor superior a 3,7 mil milhões de euros, segundo o ministro das Infraestruturas.