Pensionistas perdem 471 euros por mês face ao valor do último salário
Atualmente, cada pensionista está a perder cerca de 471 euros por mês ou 6594 euros anuais face ao valor do último salário, segundo as respostas dadas por reformados portugueses, entre os 65 e 84 anos, a um inquérito realizado pela Deco Proteste e que é publicado hoje. Esta é a realidade para quase metade (43%) dos aposentados, cuja única fonte de rendimento é a pensão legal paga pelo Estado, seja via Segurança Social, no caso do setor privado, ou Caixa Geral de Aposentações, que serve a Função Pública, de acordo com o mesmo estudo.
A perda de rendimentos é uma consequência da reduzida preocupação dos trabalhadores portugueses, entre os 25 e 65 anos, em preparar financeiramente a pensão futura. O estudo da Deco Protesto revela que mais de 61% dos portugueses em idade ativa não está a poupar para a reforma. O cenário é semelhante mas menos negativo relativamente a Espanha e Itália, onde 69,5% e 66,4% dos inquiridos, respetivamente, afirmaram não estar a amealhar ou a investir em produtos financeiro para complementar o valor da reforma. Os belgas mostram estar mais preocupados, com 58,6% a ignorar esta questão.
A falta de dinheiro é a principal razão apontada pelos portugueses para não poupar para a reforma. "Em Portugal, a percentagem é mais expressiva, fruto, porventura, dos baixos salários", de acordo com a análise da Deco Proteste. Por outro lado, existe ainda uma perceção otimista e errada sobre o valor da pensão futura, o que desmotiva o investimento em produtos financeiros.
Quase um terço dos inquiridos tem a expectativa de vir a receber como pensão entre 50% e 75% do último salário. E cerca de um quarto acredita mesmo que pode ter entre 75% e 100%. Ora de acordo com o mais recente Ageing Report, da Comissão Europeia, a diferença entre o último salário no ativo e a pensão (conhecida por taxa de substituição) baixará, gradualmente, dos atuais 74% para menos de metade do último salário, a partir da década de 2050. Ou seja, quem tem agora entre 30 e 40 anos de idade, previsivelmente, irá obter, mais tarde, uma taxa de substituição de apenas 43 por cento. Por isso, é muito provável que os trabalhadores de hoje tenham pensões bem mais baixas do que o último vencimento da carreira contributiva. Ainda assim, a maioria dos inquiridos (63%) desconhece quanto vai receber.
A Deco Proteste comparou as respostas dos que estão entre os 25 e 65 anos e as do grupo da faixa etária superior e concluiu que os primeiros estão mais pessimistas relativamente à pensão que os espera: apenas 36% dos inquiridos consideram que o valor será suficiente. Já entre os mais velhos, 52% afirmaram que a pensão iria ser adequada.
Para o analista financeiro da Deco Proteste, António Ribeiro, que conduziu este inquérito, "a realidade portuguesa é muito preocupante : a maioria dos portugueses não estão a poupar para a reforma e, quando o fazem, começam muito tarde". Por isso, "cerca de 80% das poupanças estão em Plano Poupança Reforma (PPR) sob a forma de seguros, um produto conservador, com garantia de capital, mas pouco rentável", explica António Monteiro. Há ainda 22% da população que prefere deixar o dinheiro em depósitos a prazo e contas poupança.
O ideal, para acautelar uma boa reforma, "seria começar a investir assim que se entra no mercado de trabalho, entre os 25 e 30 anos", recomenda o especialista em assuntos financeiros. Nessa idade, mais jovem, explica António Monteiro, "é possível aplicar o dinheiro em produtos mais rentáveis, ainda que sejam de maior risco, como os fundos de investimento ou os PPR sob a forma de fundo". Mais tarde, "aí pelos 57 anos, é aconselhável transferir o capital daqueles fundos para produtos mais conservadores como os PPR sob a forma de seguros", remata António Monteiro.
Salomé Pinto é jornalista do DInheiro Vivo