Onda de choque ameaça centenas de milhares de empregos

Em todo o mundo, podem perder-se 25 milhões de postos de trabalho. É pior do que na crise de 2008, que só em Portugal varreu mais de 400 mil empregos.
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A incerteza pode estar ainda a conter as piores projeções, mas é também a incerteza que pode precipitar os empregadores portugueses para a decisão de cortar custos com trabalhadores, antes mesmo de se perceber quão longa ou profunda vai ser a paragem devido à crise de saúde pública com contágio à economia e ao tecido social.

Os primeiros sinais estão aí: há contratos que já não estão a ser renovados, trabalhadores temporários afastados e confederações patronais que, sem demoras, aconselham a despedir. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fez esta semana contas ao impacto que a pandemia do novo coronavírus terá nos mercados de trabalho a nível global. O pior cenário, de uma recessão aguda com menos 8% no PIB mundial, é só um pouco mais grave do que a crise financeira iniciada em 2008. Esperam-se até 25 milhões de perdas.

A Grande Recessão arrastou 22 milhões de pessoas para o desemprego. No auge, entre 2011 e 2013, a crise atirou para o desemprego oficial em Portugal mais de 428 mil pessoas, sem contar emigração e quem desistiu de procurar trabalho. Continental fecha fábrica de Palmela em 2021. 370 pessoas ficam sem emprego No final de fevereiro, os centros de emprego contavam 315.562 desempregados no país, de acordo com os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, com 148.903 pessoas a receberem subsídio de desemprego (mais 8.085 que no mês anterior, segundo os números da Segurança Social).

A previsão de taxa de desemprego de fevereiro só vai ser conhecida no final deste mês, mas em janeiro terá voltado já aos 6,9%, de acordo com o INE, depois de ter tocado os 6,4% no final do verão. Os dados do desemprego têm sido os melhores desde o ano de 2002, mas têm vindo a agravar-se desde o trimestre final de 2019, ao mesmo tempo que também o sentimento económico prosseguia a recuar em janeiro, consumo privado desacelerava e o investimento caía sobretudo no sector das indústrias (o contrapeso tem sido a construção, ao melhor nível desde o final da década de 1990 até aqui). Apesar dos sinais de enfraquecimento, as expectativas para o mercado de trabalho não estavam ainda a sair prejudicadas.

O Orçamento para este ano apontava a uma taxa de desemprego nos 6,1%, com a criação de emprego a abrandar um pouco para os 0,6%, números que estarão muito ultrapassados quando este for promulgado já na próxima semana. A falta de mão-de-obra, a pressão para subir salários, eram até aqui o discurso corrente no mercado, e o recrutamento não dava sinais de quebra.

Um estudo da consultora de recrutamento Manpower, a que o Dinheiro Vivo teve acesso, apontava para um aumento na criação líquida de emprego na ordem dos 13% para os meses de abril a junho. "Apesar de um contexto de desaceleração das economias europeias, uma vez mais, observávamos previsões de contratação bastante otimistas para o próximo trimestre, já que a conjuntura portuguesa apontava ainda para um cenário de crescimento económico", considerava Rui Teixeira, do grupo Manpower em Portugal Portugal, com base nas entrevistas a mais de 600 empregadores no mês de janeiro."Agora o contexto económico e social muda por completo", admite, na nota de apresentação da consultora. Se nos dados da consultora, sector financeiro e dos serviços liderava nas intenções de contratação (28% novos postos de trabalho), seguido da restauração e hotelaria (21%), agora são estes os sectores com o primeiro abalo da crise do novo coronavírus, a par de indústrias sem matéria-prima e a aviação.

A TAP fez saber que não renova contrato com 100 trabalhadores a prazo, a União dos Sindicatos de Setúbal denunciou despedimentos de mais de 500 trabalhadores, e a Confederação do Comércio e dos Serviços anunciou que está a aconselhar empresas a despedir, com agravo depois de o sector se considerado alvo de "desprezo" nas medidas tomadas pelo governo.
Ao contrário do que sucede em Itália e na Grécia, o governo não considera proibir despedimentos por motivos económicos. A opção, até aqui, passa pelo suporte a salários pela Segurança Social, incentivo ao teletrabalho, facilitação do lay-off, e crédito à tesouraria das empresas. Na sexta-feira, ao fim do dia, Antonio Costa anunciou mais medidas para conter os efeitos da pandemia do coronavirus na economia portuguesa - apoios apenas para as empresas que não despedirem, prazo alargado para as rendas prestes a caducar, subsidios de desemprego e apoios sociais renovados automaticamente, adiamento de pagamento das emprresas ao Estado, requisiçãao de bens e serviços ao sector privado e alargamento do prazo da inspeção automovel.

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