Março. Desconfinamento deu fôlego à atividade económica
Seja qual for a métrica usada para medir o andamento da atividade económica no final de março, tudo aponta para o reforço da recuperação, iniciado depois de 15 de março com o início da primeira fase de desconfinamento.
"Na quarta semana de março, o indicador diário de atividade económica (daily economic indicator ou DEI, na sigla inglesa) voltou a registar uma variação homóloga muito superior à da semana anterior", refere o Banco de Portugal na nota divulgada ontem. Mas este salto é explicado pela violenta queda verificada no mesmo período do ano passado, durante a primavera de 2020, quando o país se fechou em casa no primeiro confinamento geral que arrancou no dia 19 de março.
Esta evolução está sobredimensionada uma vez que há um efeito de base, tendo em conta que no mesmo período do ano passado a economia afundou quase 18% em termos homólogos.
"Tal [variação] reflete o agravamento acentuado dos indicadores no mesmo período de 2020, aquando do primeiro estado de emergência, acentuando a evolução em termos homólogos", explica o supervisor, acrescentando que "esta recuperação também é reforçada pela atual fase de desconfinamento".
Segundo os dados do banco central, a média móvel semanal deste indicador, na semana centrada em 25 de março, aponta para uma variação homóloga de 25,2% da atividade económica face à recuperação de 1,5% da semana centrada a 18 de março.
Para amenizar este efeito estatístico, desta vez, o Banco de Portugal calculou uma nova taxa de variação a dois anos, numa tentativa de alisar o resultado. "Para mitigar a influência na análise económica deste efeito base muito marcado, calcula-se a taxa bienal, o que corresponde a acumular as taxas de variação do DEI, em dias homólogos, para dois anos consecutivos", refere o supervisor.
Olhando para esta taxa bienal, a variação homóloga é bastante mais modesta, o que poderá estar mais próxima da realidade. Em termos de média móvel semanal, a variação homóloga é de apenas 2,3% na quarta semana do mês de março.
Utilizando esta mesma métrica, as quedas superiores a 11% registadas no início de março, são agora revistas em ligeira baixa, com a média móvel semanal a dois anos a descer para valores a rondar os 10%.
O DEI sintetiza um conjunto de informação de natureza quantitativa e com frequência diária, como o tráfego rodoviário de veículos comerciais pesados nas autoestradas, o consumo de eletricidade e de gás natural, a carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e as compras efetuadas com cartões em Portugal por residentes e não residentes. Por isso, permite traçar, em tempo real, um quadro da evolução da atividade económica no país -- são os chamados indicadores de alta frequência.
Os dados atualizados são divulgados todas as semanas pelo Banco de Portugal, à quinta-feira, com informação até ao domingo anterior.
Para este ano, o governo prevê um crescimento do PIB a rondar os 5,4%, mas o ministro das Finanças já indicou a revisão do cenário macroeconómico, ao que tudo indica em baixa. O Conselho das Finanças Públicas, que apresentou as projeções anteontem, aponta para um crescimento de 3,3%. Já o Banco de Portugal está um pouco mais otimista, apontando para 3,9%.