Investimento direto estrangeiro duplica valor do melhor ano de sempre
"Foi um ano fantástico, o melhor em investimento contratualizado desde a criação da agência (AICEP), em todas as dimensões, seja em investimento industrial seja em Investimento Direto Estrangeiro (IDE)." A reação do secretário de Estado para a Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, não esconde quer o entusiasmo por um ano de resultados sem precedentes na captação de valor para o país quer o reconhecimento do "papel da AICEP, do seu presidente, Luís Castro Henriques, e da equipa da agência nestes resultados".
No ano que hoje se encerra, o investimento contratado pela AICEP superará em 229% o recorde de 2019, com três dos últimos quatro anos a quebrar barreiras sucessivas no investimento apoiado, sempre acima de mil milhões, revelam números oficiais disponibilizados ao Dinheiro Vivo. Com os valores anunciados na Reunião de Conselho de Ministros de quarta-feira e as decisões ao nível do PT2020 em conclusão, até hoje serão apoiados projetos de investimento produtivo e de investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT) que envolvem "um investimento total de 2,7 mil milhões, em implementação ou a implementar em mais de 70 concelhos". Destes, mais de metade são IDE e os restantes 48% são projetos promovidos por empresas de capital português, maioritariamente reinvestimentos.
Eurico Brilhante Dias justifica os números alcançados em plena covid com a combinação de três fatores, a começar pela existência de muitos projetos em pipeline que foram contratualizados positivamente - incluindo o recorde da década, com os 657 milhões da Repsol para ampliação do Complexo Industrial de Sines, alinhada com os objetivos do Acordo de Paris e a transição energética. "Também aqui contou o regime transitório que foi possível construir para aplicar o remanescente do PT2020, encontrando-se com apoio da Economia um bom instrumento financeiro e fiscal. E por fim pesaram os 124 projetos contratualizados, com grande componente de IDE e crescente diversificação de origens", explica o governante. O que permitiu ultrapassar os 76% do PIB em stock de IDE, num momento em que o crescimento do país está em grande aceleração - de recordar que o anterior peso de 75% estava assente num PIB com a maior queda de sempre, -8,4%, em 2020.
Para Brilhante Dias, a conquista prova que "Portugal continuou, em pandemia, a ter os valores que lhe garantem interesse internacional: é um destino seguro, há muito talento e qualidade de vida". O que, aliado ao movimento para maior autonomia estratégica que a UE está a fazer, potencia as oportunidades de ocuparmos cada vez mais espaço nos negócios globais. "Neste ano, entrámos no top 10 da EY dos melhores países europeus a atrair IDE, conseguimos angariar tantos projetos quanto a Irlanda", frisa o secretário de Estado, destacando a melhoria de Portugal nos rankings de ambiente de negócios.
As marcas atingidas estão aí para o comprovar. A começar pelo montante de investimento apoiado em 2016-2021, que duplicou (+190%) o valor dos cinco anos anteriores, para uns expressivos 6748 milhões, criando-se mais de quatro vezes (420%) os postos de trabalho, num total de 26 273 empregos.
Se as restrições de movimentos e a incerteza à escala global motivadas pela pandemia não impediram o interesse de 137 novos investidores estrangeiros neste ano, quase uma centena (88) foi além dos estudos, concretizando em Portugal o destino dos seus projetos. Um terço destes estrearam-se em 2021 (36 leads decididas), com "projetos que têm um potencial de criação de 6210 empregos e 355 milhões de investimento, a ser instalados em Alcoutim, Beja, Guimarães, Lisboa, Lousada, Mira, Nelas, Porto, Póvoa do Varzim, Sines, Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira, entre outros", revela a tutela ao Dinheiro Vivo. E destaca o peso crescente da diáspora nesta realidade, "quer direta quer indiretamente, através do seu papel de prescritores do nosso país junto das redes nas comunidades onde estão inseridas".
Conhecida na sequência do Conselho de Ministros foi ainda "a aprovação de benefícios fiscais a 26 projetos, envolvendo 937 358 002 euros de investimento, a realizar na sua maioria a 24/36 meses" e capazes de criar perto de 2 mil empregos (e manter 9 mil), em setores como automóvel e componentes; pasta e papel; mobiliário, madeira e cortiça; metalomecânica; químico, plásticos e borrachas; indústrias transformadoras e turismo". Metade é promovida por empresas de capital nacional, vindo os restantes de Alemanha, Bélgica, Brasil, Coreia, França, EUA, Suécia e Suíça.
"Além da forte aposta de investidores portugueses, temos investimento suíço na produção de componentes eletrónicos (a Fischer Connectors a investir 5,6 milhões na construção de uma fábrica em Amarante para fazer conectores de alta qualidade de última geração); reinvestimento francês, alemão e norte-americano no cluster automóvel e sua digitalização, capacitando-o para responder a desafios tecnológicos incluindo a aplicação de elementos de realidade aumentada, melhores sistemas de cibersegurança e maior conectividade à internet; ou ainda o renovar da aposta de uma multinacional sueca (Ikea, a investir 61 milhões na fileira casa) em Paços de Ferreira, onde já criou 1641 empregos; o investimento francês para fabricar maquinaria agrícola avançada; ou a construção de uma unidade para produzir hidrogénio verde a partir de uma solução inovadora desenvolvida por uma empresa portuguesa (a Fusion Fuel, num projeto de 8 milhões)", elenca a tutela.
Igualar estes resultados em 2022 não será tarefa fácil, admite Eurico Brilhante Dias. "Será difícil repetir, mas a tendência está lá. E sempre que batemos recordes, como aconteceu em três dos quatro últimos anos, estamos a levantar a fasquia", diz, antecipando um caminho de contínuo sucesso.