Investimento de Centeno dispara com 37 aviões novos da TAP este ano

TAP confirma que vai receber 37 aeronaves em 2019; 33 delas estão avaliadas pela Airbus em mais de 6,6 mil milhões de euros.

O investimento nacional, o motor do crescimento no primeiro trimestre deste ano, está a ser impulsionado de forma significativa pela compra de aviões Airbus por parte da TAP. A companhia aérea confirmou que "receberá um total de 37 aviões novos este ano e 71 até 2025, ficando assim com uma das frotas mais modernas do mundo".

Esta quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE), revelou que a economia portuguesa acelerou o ritmo de crescimento homólogo de 1,7% no quarto trimestre para 1,8% nos três primeiros meses de 2019, sublinhando que "o contributo da procura interna para a variação homóloga do produto interno bruto (PIB) aumentou, refletindo uma aceleração significativa do investimento".

Antes da audição na comissão parlamentar de orçamento, numa nota enviada aos jornais, Mário Centeno, o ministro das Finanças, reagiu, recordando que a economia portuguesa está a crescer, em termos reais, há "22 trimestres consecutivos" e que agora isso se deve, sobretudo, ao investimento.

A procura interna (consumo privado, público e investimento, essencialmente) "mais do que compensou a diminuição do contributo para o crescimento proveniente do comércio internacional", referiu Centeno, reconhecendo um problema que já se arrasta há algum tempo.

"O abrandamento das exportações resulta, sobretudo, do aumento da incerteza geopolítica e das tensões comerciais globais", fatores que têm pesado, "em especial nas maiores economias da Europa", lamentou.

Investimento, importações, aviões da Airbus

O ministro das Finanças reiterou que "a aceleração do investimento no primeiro trimestre é o principal destaque da aceleração da economia", mas há um contra. Isso "reflete-se no aumento das importações, onde se destaca o crescimento expressivo da importação de bens de investimento, como máquinas e outros bens de capital, material de transporte e produtos transformados destinados à indústria".

As importações roubam valor ao PIB. Centeno não entrou em detalhes.

Foi o departamento de estudos do BPI que levantou o véu sobre o que pode explicar o crescimento "significativo" do investimento neste arranque de ano.

A aceleração do investimento "está em linha com o comportamento de vários indicadores no 1T 2019, nomeadamente a robustez das importações de bens de capital (incluindo transportes, reflexo da compra de aeronaves pela TAP) e a evolução positiva do volume de negócios no mercado interno dos bens intermédios e de investimento", escreveram os economistas do BPI numa nota sobre a conjuntura e o PIB.

A TAP é uma empresa controlada a 50% pelo Estado. O consórcio privado formado por Humberto Pedrosa (o empresário português, dono do grupo Barraqueiro), o brasileiro David Neeleman e os chineses da HNA detêm 45%. Centeno não disse, mas o impulso do investimento sobre a economia depende muito da operação de expansão em curso da TAP.

Guerra de números no Parlamento

No Parlamento, o ministro foi muito atacado, da esquerda à direita, por não mostrar a "verdade" dos números no investimento público.

Argumentou que "ao contrário do que tem sido dito, e uma mentira dita muitas vezes não se transforma em verdade, o financiamento do Orçamento do Estado dirigido ao investimento no período entre 2016 e 2018 aumentou 37,1% face à anterior legislatura".

"Passámos de 2.133 milhões de euros para 2.925 milhões de euros, um crescimento de 800 milhões de euros, repito, 800 milhões de euros por ano em média."

Em 2019, Centeno garante que o investimento público vai crescer "uma média de 10%", para cerca de 4,4 mil milhões de euros, ajudando assim o investimento total (privados incluídos) a avançar 5,3% (depois de um aumento de 4,4% em 2018, mostra o Programa de Estabilidade).

Tudo indica que, não obstante a "aposta" do governo em investimentos "estruturantes", só este ano vai ser muito rico em compras de aviões pela TAP, o que contribuirá bastante para as previsões das Finanças.

A TAP vai receber, como referido, 37 aviões novos da Airbus, em 2019.

Segundo o fornecedor, a Airbus (um consórcio alemão e francês), serão entregues (já estão a ser, aliás) 14 novos modelos A321 LR (longer range), cujo preço tabelado de 2018 (oficial, de acordo com o fabricante) é de 129,5 milhões de euros a unidade. Em euros (câmbio atual), dá um investimento total de 1,6 mil milhões de euros.

Há ainda os novos A330-900 neo, um total de 19 aeronaves a serem entregues este ano, cuja fatura andará à volta de 5 mil milhões de euros.

Neste total (33 aeronaves), estaremos a falar de valores que podem ascender a mais de 6,6 mil milhões de euros em aviões da Airbus de última geração.

O Dinheiro Vivo não conseguiu apurar o valor dos 4 aviões remanescentes. Mas isso acresce aos cálculos feitos até aqui.

Nem tudo será investimento público. A TAP tem uma participação privada de 45%, mas o contributo para a parcela do investimento na economia portuguesa vai ser, e já está a ser, como refere o BPI, muito relevante.

Recorde-se que este fenómeno conjuntural já aconteceu no passado, quando o PIB subiu muito em algumas ocasiões com compras de aeronaves; ou exportações de navios assinados pelos estaleiros de Viana do Castelo, por exemplo.

O efeito da importação/compra de aviões Airbus na economia (com o respetivo acréscimo de investimento em equipamento de transporte) deve continuar a sentir-se ao longo deste ano (as 37 aeronaves ainda não foram todas entregues) e até 2025, ano em que termina a encomenda da TAP.

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