Portugal cai seis posições no ranking mundial de competitividade

O país regista este ano a maior queda na Europa, para a 39.ª posição, regressando aos lugares ocupados em 2016 e 2017. A culpa é da falta de investimento em educação e na transformação digital das empresas.
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Ganhou num ano, perdeu exatamente o mesmo no seguinte. Portugal caiu seis posições no ranking mundial de competitividade organizado pelo Institute for Management Development (IMD), o conceituado instituto suíço de gestão. O país regressa este ano à 39.ª posição onde tinha estado em 2016 e 2017.

No ano passado, Portugal ficou em 33.º lugar entre 63 economias, a melhor posição desde 2004, quando pontuou no 32.º. O IMD aponta dois fatores para explicar esta queda acentuada: a educação e a transformação digital das empresas.

"Regista-se uma redução de investimento em despesas públicas com a educação de 6,0 pontos percentuais em 2018 para 5,0 em 2019", refere o instituto de gestão suíço, acrescentando que "este é um dos argumentos que fundamentam a descida de Portugal no ranking global, no indicador Educação, da 22.ª posição que ocupava em 2018 para a atual 28.ª."

O IMD, que tem como parceiro em Portugal a Porto Business School (PBS), refere ainda a transformação digital nas empresas portuguesas que "registou um abrandamento em relação ao ano anterior, passando de 6,36 para 5,25", com Portugal a "ocupar atualmente a 35.ª posição quanto à utilização de ferramentas e tecnologias digitais, estando a média global nos 6,07 e o valor nacional nos 5,81", indica a nota divulgada esta terça-feira.

O economista Álvaro Almeida, da Porto Business School, lembra que "se trata de um ranking e não de valores absolutos", portanto, a economia "até pode estar a crescer, mas a piorar nos critérios do desempenho económico, desde que outros países tenham uma performance melhor", conclui. Ou seja, em termos comparativos "o crescimento da economia portuguesa foi mais lento porque há outras que melhoraram mais", conclui. O professor de economia da Escola de Negócios da Universidade do Porto e coordenador do PSD para as finanças públicas acrescenta ainda a "degradação do ambiente empresarial, com a questão das greves."

Já na legislação empresarial, Portugal pontua bem, face aos parceiros do ranking onde é o 19.º país mais competitivo. Também apresenta uma boa posição na categoria infraestruturas, nomeadamente na área da saúde e ambiente, onde ocupa o 21.º lugar. "Já quando avaliada a performance económica do país, destaque para a 26.ª posição relativa ao comércio externo", indica o comunicado do IMD.

Desafios: défice e dívida

Na parte do relatório dedicada à economia portuguesa são apontados os desafios para o país.

A redução estrutural do défice público surge à cabeça, de modo a atingir "um excedente permanente e a reduzir a dívida pública no longo prazo", refere o documento, que indica também o crescimento, mesmo "num contexto internacional de restrição e constrangimentos", como "outro dos grandes objetivos."

Este ano, o IMD insiste num acordo alargado entre os partidos para "uma maior aposta na formação nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas, no sentido de desenvolver nas novas gerações competências e responsabilidade para abraçar as novas tecnologias emergentes."

Dos 235 indicadores avaliados, o relatório identifica alguns em que Portugal se destaca. O emprego melhorou, o desemprego jovem desceu e o desemprego de longa duração também registou uma melhoria. Também as "finanças públicas registam uma leve aceleração, conseguindo subir Portugal do 54.º para o 53.º posto no ranking global, e o volume das exportações nacionais também subiu de 62,21 pontos em 2018 para 68,45 este ano." Ainda de destacar o PIB per capita,, que apresenta "uma subida notória, passando de 21,159 para 23,176 pontos percentuais em 2019."

Europa perde fôlego

O Velho Continente está a "perder gás" na perspetiva do IMD, sublinhando que "a Europa tem lutado para ganhar terreno com a maioria das economias em declínio ou estagnadas. E este ano, por causa dos países do Norte e do Reino Unido. "Os nórdicos, tradicionalmente uma região de força motriz para a competitividade, não conseguiram fazer progressos significativos este ano, enquanto a constante incerteza sobre o Brexit conduziu o Reino Unido a uma queda da 20.ª para a 23.ª posição", lê-se no comunicado do instituto suíço.

A Irlanda foi o país que mais melhorou, trepando cinco posições para o 7.º lugar, "devido à melhoria das condições de negócios e ao fortalecimento da economia". Por outro lado, "Portugal registou a maior queda na região".

EUA ultrapassados pelos asiáticos

Singapura recupera este ano o primeiro lugar do ranking mundial de competitividade, trocando de posição com os Estados Unidos, que passaram para terceiro. De acordo com o instituto suíço, a cidade-Estado consegue melhores resultados nos critérios da infraestrutura tecnológica, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, leis de imigração mais favoráveis e eficácia na abertura de novos negócios.

Em segundo lugar surge Hong Kong. A região administrativa especial da China ganha com políticas fiscais e acesso a financiamento mais fáceis.

A queda dos EUA deve-se, em primeiro lugar, ao facto de a política fiscal mais agressiva de Donald Trump estar a "desvanecer", segundo o ranking. A pesar nesta descida estão também os elevados preços das matérias-primas, em concreto o petróleo, exportações mais fracas de produtos tecnológicos e um valor do dólar mais fraco.

No fundo da tabela aparece a Venezuela, atingida pela elevada taxa de inflação, fraco acesso ao crédito e uma economia anémica.

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