Atrasos e cancelamentos do verão valem 15 milhões em indemnizações

41 500 portugueses foram afetados em agosto e setembro por voos atrasados ou cancelados. Se todos reclamassem receberiam um total de 15 milhões de euros em indemnizações.
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Quando C. fechou a porta de casa com destino ao aeroporto, jamais pensou que a noite seguinte voltaria a ser passada no quarto do costume. Era um sábado de verão. Chegou às sete da manhã à Portela com voo marcado para as nove para São Vicente. À hora marcada foi avisada de que o voo estava atrasado por problemas técnicos. A porta não se abriu tão cedo. Passou o sábado no aeroporto, com malas despachadas, e à espera de mais notícias da companhia. E acabou por ser convidada a regressar a casa com 400 euros de compensação e nova viagem para dali a dois dias. Teria recebido imediatamente 500 euros se tivesse aceitado o pagamento por overbooking. Optou por não o fazer:

"Não aceitámos porque receber o pagamento por overbooking é aceitar a situação e retira a possibilidade de se fazer uma reclamação", conta ao DN/Dinheiro Vivo.
Ainda hoje C. não sabe exatamente o que se passou. Mas há uma coisa que a incomoda. "Eu tinha uma tarifa plus da TAP, a mais cara da económica, e que dá direito a embarque prioritário. É impensável ter sido recusado o embarque quando éramos dos primeiros a entrar", diz, adiantando que vai continuar a luta por uma indemnização.

A sua história está longe de ser inédita. Entre agosto e outubro deste ano, 41 500 portugueses ficaram em terra por atrasos, cancelamentos e impedimentos de embarque, como o de C. Ao todo, contaram-se 331 voos com perturbações no mercado português, revelam dados da AirHelp cedidos ao DN/Dinheiro Vivo. Ao todo, estas complicações valem 15 milhões de euros em indemnizações aos passageiros.
Mas a grande maioria dos que viajam de avião, diz Henrik Zillmer, CEO da AirHelp, continua a perder dinheiro por, simplesmente, desconhecer a possibilidade de pedir um reembolso.

"Infelizmente os passageiros não conhecem os seus direitos. Só cerca de 15% a 20% dos viajantes sabem efetivamente que podem receber indemnizações por atrasos ou cancelamentos de voos. Mas mesmo esses não sabem que tipo de recompensas existem", conta ao DN/Dinheiro Vivo. " Muitos passageiros aceitam vouchers das companhias quando na realidade eles estão aptos a receber compensações financeiras", acrescenta.

Nos últimos quatro anos, a empresa de compensações por atrasos e cancelamentos ajudou cinco milhões de passageiros aéreos a reclamarem as suas indemnizações, no montante global de 300 milhões de euros. Em Portugal foram ajudadas 230 mil pessoas neste período. A empresa não revelou dados sobre o valor dos reembolsos recebidos.
"O que tentamos fazer é obviamente dar maior conhecimento dos direitos de cada passageiro aéreo e ajudá-los caso não queiram avançar para um pedido de indemnização por si", revela o responsável. "As pessoas estão a perder dinheiro constantemente. É preciso apenas um atraso de três horas para se ficar elegível a uma indemnização de 600 euros. Mas pouca gente sabe disso e, por isso, não reclamam."

Portugal está longe de ser o país mais complicado da Europa e cai fora de uma tendência habitual dos países vizinhos. "No sul da Europa, como em Espanha e Itália, é preciso muito mais tempo para se obter uma compensação", refere o CEO da AirHelp, admitindo que em Portugal é um pouco melhor. "Fico sempre positivamente surpreendido com Portugal porque as pessoas têm um international mindset. Conseguem perceber o que se passa nos outros países e adaptam-se com facilidade. Tenho sempre um bom feeling em relação aos negócios feitos em Portugal e também em relação às pessoas", completa.

Desde 2011, segundo a AirHelp, os pedidos de compensação pedidos em Portugal dividem-se por quatro companhias aéreas. A TAP agrega 29,57% dos pedidos, seguida da Ryanair (13,26%), da easyJet (7,48%) e da SATA (6,85%). Mas as companhias com mais cancelamentos e atrasos nos aeroportos nacionais são a Aigle Azur, que lidera com 48,83% das dificuldades, seguida da Turkish Airlines com 37,28%, e da TAP, com 35,82%, revela a empresa.

Henrik Zillmer não tem dúvidas: "As companhias aéreas low-cost, que são as maiores companhias atualmente, são as mais complicadas de "embalar" e tentam afastar--nos o máximo possível para evitar pagar uma compensação. Mas as regras são iguais sejam low-cost, seja a TAP ou seja Lufthansa. Todos jogam num tabuleiro igual e nós garantimos que é isso que acontece."

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