Guerra comercial destrói 640 mil milhões de euros em apenas um ano
A guerra comercial pode destruir o equivalente a 640 mil milhões de euros (cerca de 700 mil milhões de dólares) na economia mundial, em apenas um ano, alerta a nova diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, no seu discurso inaugural, esta terça-feira, em Washington. Disse ainda que o FMI vai rever outra vez em baixa o crescimento mundial deste ano e do próximo, bem como o crescimento de vários países.
"Há dois anos, a economia global estava numa fase de recuperação sincronizada e quase 75% do produto interno bruto [PIB] mundial estava em aceleração".
Hoje, está tudo pior. "A economia mundial está mais sincronizada, mas, infelizmente, desta vez o crescimento está a abrandar; em 2019, esperamos um crescimento mais lento em quase 90% do mundo. A economia global está agora em desaceleração sincronizada".
"Este abrandamento generalizado significa que o crescimento deste ano cairá para o menor ritmo desde o início da década. Na próxima semana, lançaremos nosso World Economic Outlook, que trará revisões em baixa do crescimento económico para 2019 e 2020", revelou Georgieva.
"No passado falámos sobre os perigos das disputas comerciais. Agora, vemos que eles estão realmente a materializar-se. O crescimento do comércio global quase parou... Para a economia global, o efeito cumulativo dos conflitos comerciais pode significar uma perda de cerca de 700 mil milhões de euros até 2020, isto é, cerca de 0,8% do PIB", calcula a nova chefe do FMI, sucessora de Christine Lagarde, que foi liderar o BCE.
"Os resultados são muito claros. Toda a gente perde numa guerra comercial", aquela estimativa de valor destruído (os tais 640 mil milhões de euros ou 700 mil milhões de dólares) "é aproximadamente igual ao tamanho da economia Suíça", exemplificou a dirigente do FMI.
A análise de Georgieva incide essencialmente sobre "o conflito comercial que está a escalar entre os Estados Unidos e a China", referiu.
"Por que a desaceleração em 2019?", questionou a responsável. Segundo o FMI, "há uma série de questões e um tema comum: fraturas".
"As atuais fissuras na economia mundial podem levar a mudanças que se prolongarão por uma geração. São ruturas nas cadeias de fornecimentos comerciais, setores comerciais isolados, um "Muro de Berlim digital" que força os países a escolher entre sistemas de tecnologia", exemplificou.
E se é verdade que foram os Estados Unidos e a China a centralizarem esta disputa, dentro de pouco tempo "muitos outros países sentirão o impacto desses conflitos", avisou.
Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo