Empresas dos EUA criam mais de 20 mil empregos em Portugal
Há mais de 130 empresas norte-americanas com atividade em Portugal. Geram quase 3% do PIB e querem distância das eleições
O Estado Novo ainda rompia em Portugal quando a IBM atravessou o Atlântico para se instalar na Rua Augusta, em Lisboa. Chamava-se Sociedade de Máquinas Watson e aterrou na capital a 4 de novembro de 1938, há precisamente 78 anos, para vender máquinas de escrever.
No rescaldo da II Guerra Mundial, a gigante tecnológica assinou o primeiro grande contrato no país com as Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade, uma empresa conhecida hoje como EDP. Em pouco mais de meio século o pequeno escritório da IBM Portugal, movido a duas dezenas de funcionários, transformou-se num conjunto de cinco centros tecnológicos com mais de 1400 colaboradores diretos.
Na terça-feira, dia em que mais de cem milhões de eleitores norte-americanos vão às urnas escolher o próximo ocupante da Casa Branca, Marcelo Rebelo de Sousa vai a Viseu inaugurar o novo Centro de Inovação Tecnológica da IBM. "É um centro multitecnologia que visa a prestação de serviços a clientes nacionais e internacionais e muito vocacionado para o desenvolvimento de soluções tecnológicas na área das Smarter Cities e do sistema financeiro", explicam os responsáveis da IBM Portugal ao DN/Dinheiro Vivo.
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Oito décadas depois de ter desbravado o caminho entre Nova Iorque e Lisboa, a IBM já não fabrica máquinas com 800 kg e tem quem lhe faça companhia. Atualmente são cerca de 130 as empresas norte-americanas com morada em Portugal, segundo os dados mais recentes da Câmara de Comércio Americana. Juntas, são responsáveis por um volume de negócios que ascende a cinco mil milhões de euros, quase 3% do produto interno bruto (PIB) português, e empregam mais de 21 mil pessoas.
Cerca de 70% destas empresas estão em Portugal há mais de 25 anos e mais de 90% optaram por ficar sediadas na região de Lisboa.
As tecnológicas ocupam o lugar cimeiro na lista de setores que veem em Portugal um bom destino para assentar. Juntamente com as atividades financeiras e de seguros, a área tecnológica representa cerca de 20% da presença norte-americana em Portugal.
É o caso da Dell, que chegou ao país em 1996 e conta hoje com mais de cem trabalhadores nas unidades nacionais. "Em termos de volume de negócios, a Dell Portugal é uma das maiores empresas a operar no país na área das tecnologias de informação. Os nossos investimentos estão ligados aos milhares de empregos que a companhia gera nas mais de duas mil empresas que trabalham ligadas à Dell em todo o país", explica ao DN/Dinheiro Vivo Gonçalo Ferreira, diretor-geral da Dell Portugal.
O "desastre" Trump
Os Estados Unidos foram responsáveis, no primeiro semestre de 2016, por apenas 1,6% do investimento estrangeiro em Portugal, o que equivale a um montante superior a 1700 milhões de euros. Um valor que, apesar disso, já ultrapassa o total registado no final do ano passado, quando o investimento norte-americano em solo nacional totalizou 1688 milhões.
Dados positivos, segundo as empresas, que não deverão sofrer o impacto do ato eleitoral de terça-feira, seja qual for o vencedor. As empresas norte-americanas com atividade em Portugal contactadas pelo DN/Dinheiro Vivo garantem que o resultado das eleições nos EUA pouco ou nada as afeta. "A Dell não tem posição oficial relativamente às eleições. Qualquer resultado democrático será sempre bem-vindo e a Dell Technologies ficará satisfeita precisamente pela democracia de todo o processo. Não esperamos impactos significativos na companhia seja qual for a escolha dos cidadãos dos EUA para o seu governante nos próximos quatro anos", remata a tecnológica.
Uma posição semelhante à defendida pela seguradora Liberty. A empresa que nasceu no Massachusetts em 1912 e chegou a Portugal 90 anos depois defende que "o impacto das eleições na atividade da Liberty é nulo, mas na vida das pessoas poderá vir a ser maiúsculo, dependendo do resultado final".
As palavras são de José António de Sousa, CEO da Liberty Seguros em Portugal. O responsável descarta que a saída de Obama possa vir a ter efeitos práticos nos resultados da empresa, mas confessa-se preocupado "enquanto cidadão" em relação a uma possível vitória de Donald Trump no próximo dia 8. "O processo eleitoral americano afeta-nos sempre enquanto cidadãos, não enquanto companhia. Não tenho uma bola de cristal para prever o desfecho e portanto é prematuro afirmar que vai haver uma mudança, sobretudo aquela que muitos esperam que aconteça, que seria a vitória de Trump", realça.
E vai mais longe. "A minha opinião pessoal, que em nada compromete ou vincula a minha empresa, é que seria um desastre Donald Trump tomar as rédeas do poder. Ele é um títere que irá ser manipulado por poderosos e obscuros interesses, como grandes multinacionais nas áreas da energia, indústria do armamento, agências governamentais que defendem o rearmamento, complexo industrial-militar, entre outros, e o mundo passará a ser muito menos seguro com ele no poder. Voltaremos a ver o recrudescer de guerras, o extremar de posições, arriscamo-nos a voltar aos piores tempos da Guerra Fria, pois a Rússia também é liderada por um belicista convicto. Portanto, como alguém disse uma vez, prognósticos só depois de terminar o jogo, e também aqui só depois de conhecido o resultado da eleição poderei dizer se estou ou não otimista", ressalva o CEO da Liberty Seguros.
Das mais de dez empresas norte-americanas presentes em Portugal contactadas pelo DN/Dinheiro Vivo, a esmagadora maioria optou por remeter-se ao silêncio.