A crise energética e inflacionista está a paralisar o mercado de trabalho português..De acordo com dados do Instituto Nacional Estatística (INE) até janeiro deste ano, divulgados ontem (quarta-feira, 1), o emprego está virtualmente estagnado desde novembro (nos últimos três meses a taxa de variação homóloga média foi de 0,02%) e o ónus recai totalmente no grupo de trabalhadores com idades superiores a 25 anos, onde a destruição de empregos já se prolonga desde essa altura..Em janeiro (dados ainda preliminares), o emprego total avançou apenas 0,1% face a igual mês do ano passado, depois de ter sofrido uma quebra de 0,4% em dezembro..É preciso recuar a março de 2021, estava o país a sair da fase mais letal da pandemia, para se encontrar um recuo no emprego (na altura a descida chegou aos 0,3%)..No desemprego, também regressaram as más notícias. Em janeiro, a taxa de desemprego (que mede o peso do número de pessoas sem trabalho no total da população ativa) superou a fasquia dos 7%..Chegou a 7,1%, o valor mais elevado desde os piores dias da pandemia covid-19. Em janeiro de 2021, a taxa também foi dessa magnitude..Segundo cálculos do Dinheiro Vivo (DV) com base nos números do INE, a taxa de desemprego nacional está a subir de forma persistente desde julho do ano passado, quando estava em 5,8%..A taxa de desemprego jovem (pessoas entre 15 e 24 anos) acompanhou e também superou a fasquia dos 20% (foi 20,5% em janeiro). O aumento deste rácio face a dezembro chegou a 1,3 pontos percentuais, o maior agravamento desde abril de 2021..Muito significativo é também o alastramento do desemprego em termos absolutos..Em janeiro, a população ativa sem trabalho aumentou mais de 22% (face a janeiro de 2022), para 375 mil pessoas. Está a subir há três meses consecutivos..Este salto de 22% é o maior desde maio de 2021 (23%), estava a economia a sair lentamente da paralisação imposta pelos confinamentos e pela pandemia..Em janeiro, o desemprego dos muito jovens (pessoas com menos de 25 anos) disparou quase 18%. O país tem agora cerca de 77 mil jovens sem trabalho..Nos mais velhos (25 anos ou mais), a subida em janeiro chegou aos 23,5%, a mais forte desde agosto de 2020 (24,2%), segundo indicam os novos dados do INE.."É um alerta e deve ser acompanhado com atenção".Para Vânia Duarte, economista do gabinete de estudos do BPI (BPI Research), "o aumento do desemprego no início do ano deverá ser visto como um alerta e acompanhado com atenção nos próximos meses"..Numa nota divulgada ontem, a analista observa que "a taxa de desemprego aumentou para 7,1% em janeiro (face a 6,8% em dezembro e 5,9% em janeiro 2022)" e que "ao mesmo tempo, ficou ligeiramente acima do registado no pré-pandemia (7% em janeiro 2020)".."De facto, o número de desempregados aumentou em cadeia e em termos homólogos em janeiro (+5,5% e 22,3%, respetivamente), atingindo um total de 374.800 pessoas, o nível mais alto desde setembro 2020"..Acresce que "a comparação com o período pré-pandemia também é desfavorável: +4,4% de desempregados (+15.700 indivíduos)", considera a economista do BPI.."O aumento da população desempregada poderá estar relacionado com a entrada no mercado de trabalho de indivíduos anteriormente desencorajados. De facto, os dados da subutilização do trabalho apontam para uma redução de 6,1% em cadeia dos inativos disponíveis, mas que não procuram emprego e de -1,2% dos inativos à procura de emprego, mas não disponíveis", acrescenta a analista do referido departamento de estudos económicos.."Outro dado que reforça esta ideia é a diminuição da população inativa (-0,4% em cadeia em janeiro), atingindo o nível mais baixo da série mensal do emprego (2.424.700 pessoas).".No entanto, a analista escreve na nota sobre os novos números do INE que "os dados mais recentes do mercado de trabalho estão em linha com a desaceleração da atividade económica nos últimos meses de 2022, perante o aumento das taxas de juro, inflação, prolongamento do conflito na Ucrânia e o abrandamento dos parceiros comerciais"..Assim, "o aumento do desemprego deve ser objeto de acompanhamento nos próximos tempos". "Mantemos a expectativa de que a taxa de desemprego aumente em 2023 para níveis em torno dos 6.4%, mas consideramos que o risco de revisão em alta é significativo", remata a economista no mesmo estudo..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo