Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, defende a criação de uma espécie de banco mau a nível comunitário para absorver o crédito malparado na carteira dos bancos, de modo a libertar fundos para relançar a economia. Só em Portugal, os bancos têm quase 20 mil milhões de euros de malparado, 64% dos quais de empréstimos a micro e pequenas e médias empresas (PME)..A melhor forma de revitalizar o sistema financeiro e a economia passa por criar um veículo a nível comunitário que absorva o malparado da banca do Velho Continente recorrendo a capitalização europeia. A ideia de Carlos Costa não é impor a solução, mas garantir que a opção exista..Mais do que salvar a banca destes créditos, o objetivo deste veículo é a revitalização da economia. É por culpa destes créditos que a banca continua a cortar no financiamento - que voltou a recuar no primeiro trimestre -, impedindo o relançamento e complicando a vida a um tecido empresarial que, em Portugal, está afogado em dívidas. Em março, segundo o Comparajá.pt, site de simulação de produtos financeiros, 28% dos 19 473 milhões de malparado em Portugal eram de responsabilidade das PME e 36% de microempresas. Perante estes níveis de empréstimos de cobrança duvidosa, a banca retrai o financiamento às sociedades desta dimensão, muitas vezes independentemente da qualidade dos projetos..[artigo:5119921].Fosse o banco central o decisor e não o supervisor e o veículo a nível europeu seria o caminho a seguir para revitalizar um setor cujo potencial está amputado pela explosão de créditos não rentáveis (non performing loans)..A posição de Carlos Costa, já detalhada em diferentes ocasiões, foi recentemente "apoiada" pela OCDE - este problema não é exclusivo português, é um mal europeu: segundo o FMI, de 2009 a 2014, os non performing loans duplicaram na União Europeia, totalizando um bilião de euros."A criação de uma Empresa de Gestão de Ativos a nível europeu iria maximizar as economias de escala e diversificar os riscos da recuperação de créditos", diz a OCDE. Em alternativa, "os Estados poderiam criar veículos semelhantes a nível nacional". Mas a opção exige não só capital público para compensar a retirada de ativos dos bancos, mas também de apoio político, ou seja, uma isenção às normas que fazem que a Comissão Europeia só aceite apoios públicos a troco da imposição de perdas a credores e reestruturações..[artigo:5201150].Além da criação de um veículo europeu, Carlos Costa, a OCDE e o FMI pedem aos diferentes Estados alterações legislativas que agilizem as insolvências, cujos longos calendários impedem recuperações mais céleres. Aumentar a eficiência destes processos, facilitaria a recuperação e venda de ativos não rentáveis, reduzindo o desconto com que estes ativos seriam transferidos para terceiros..António Costa, o primeiro-ministro português, mostrou-se já favorável a um veículo para absorver o malparado, mas Mourinho Félix, secretário de Estado do Tesouro, veio já dizer que a ideia pode "não ser a mais adequada".