Comissão Europeia não vê recuperação no turismo antes de 2023
Para o ano, Portugal ainda terá mais de um quarto das dormidas de estrangeiros por reconquistar face a 2019.
Portugal está no grupo de países do euro que deverá ter uma recuperação da atividade turística mais lenta, não sendo ainda visível no horizonte de médio-prazo, de acordo com projeções da Comissão Europeia.
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Segundo Bruxelas, nem no melhor cenário se avista a retoma plena antes de 2023. Mas, Portugal não está só. Grécia, Espanha, Chipre e Malta enfrentam um destino previsível semelhante, de acordo com os cálculos do último relatório trimestral sobre a Zona Euro da Direção Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia, divulgado no final da última semana.
Este grupo de países deverá "sentir ainda algumas consequências negativas do choque Covid-19 no sector de turismo e no saldo externo, mesmo em 2022 no cenário otimista", escrevem os autores do documento.
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As razões prendem-se com a maior dependência do tráfego aéreo internacional para captar turistas, e com o facto de estes países serem os mais expostos à quebra de visitantes devido ao peso do turismo nas balanças de serviços nacionais.
No cenário central do estudo, e não o mais otimista, neste ano o turismo português terá de viver com 31% das dormidas internacionais do ano pré-crise, 2019, sendo que em 2022 ainda haverá mais de um quarto do mercado internacional da hotelaria por reaver, com a recuperação em 72%.
Os cálculos recorrem a estimativas dos autores, com base em dados da Airbnb, sobre o número previsível de críticas deixadas pelos hóspedes, e também às previsões de tráfego aéreo da Eurocontrol. O cenário otimista teria o fim da pandemia ou a vacinação disponível para a generalidade dos viajantes ainda durante verão de 2021, sendo que o cenário moderado - aquele para o qual são apresentados os cálculos - vê a normalização da situação pandémica apenas no verão do próximo ano.
Em contraste com os países do sul da Europa, Áustria, Países Baixos, Luxemburgo, Letónia, Alemanha, Bélgica, França e Eslováquia são os países que avançam mais depressa na recuperação. O Luxemburgo recupera mesmo mais de metade dos visitantes estrangeiros já em 2021.
Há ainda outros países que, apesar de terem o pior cenário em termos de recaptura do turismo internacional (caso da Irlanda com a retoma apenas a 54% em 2022), sofrem impactos reduzidos na balança externa.
Já no caso de Portugal, mas também Espanha e Chipre, o impacto das perdas turísticas no saldo externo será em 2021 pior, em termos absolutos, do que o sentido em 2020, antecipa a Comissão Europeia.
Num estudo à parte, dedicado à análise das transmissão dos impacto negativos sofridos pela economia alemã aos restantes países do euro, Portugal surge também com o segundo sector turístico mais penalizado, a seguir à Áustria, pela recessão trazida pelos confinamentos da pandemia à maior economia europeia.
Para Portugal, as perdas alemãs terão representado um recuo em quatro décimas no valor acrescentado da economia, sendo mais de metade da perda sentida nas atividades turísticas, de acordo com os cálculos. No conjunto da atividade económica, Portugal sofre o sexto pior impacto da crise sentida na Alemanha, atrás de Áustria, Eslováquia, Bélgica, Eslovénia e Países Baixos.
Portugal ainda não gastou todo o SURE, Bruxelas vigia
Portugal não tinha ainda gastado, até 25 de maio, todo o valor de 5,9 mil milhões de euros em empréstimos concedidos pelo instrumento europeu de emergência para apoiar a manutenção de postos de trabalho, o SURE, acionado em 2020.
Segundo uma última avaliação feita por Bruxelas, também conhecida no final da última semana, Itália e Roménia tinham igualmente fundos por gastar, sendo que Portugal apresenta a percentagem mais reduzida de verbas por executar, que não deverá ir além dos 5%. No caso da Roménia, estarão sensivelmente três quartos do valor por utilizar.
"Nestes Estados-membros, em particular, a Comissão está a monitorizar de forma próxima a absorção de fundos", avisa a documentação da Comissão Europeia.
Em Portugal, o SURE foi na sua maior parte mobilizado para o pagamento de medidas como o lay-off simplificado e outras dedicadas à manutenção do emprego. Cerca de 20% dos valores reverteram para despesas de saúde.
Maria Caetano é jornalista do DInheiro Vivo