CEO da Boeing afastado após um ano de acidentes e atrasos
O CEO da Boeing, Dennis Muilenburg, foi esta segunda-feira afastado do cargo após um ano em que a empresa passou por um período conturbado, com vários atrasos na entrega do avião 737 MAX - que deu vários problemas e esteve na origem de dois acidentes trágicos. David Calhoun assumirá o cargo a partir de 13 de janeiro de 2020.
Em comunicado, a Boeing disse que o conselho de administração decidiu "que era necessária uma mudança de liderança para restaurar a confiança na empresa, enquanto trabalha para reparar o relacionamento com reguladores, clientes e todos os outros interessados".
Muilenburg, de 55 anos, tornou-se CEO da maior empresa aeroespacial do mundo em julho de 2015.
O 737 Max da Boeing, projetado para ser o principal avião comercial da empresa, deixou de operar a nível mundial em março de 2019, após dois acidentes trágicos. O cenário negro agravou-se após uma cápsula que a empresa estava a construir para transportar os astronautas da NASA para a Estação Espacial Internacional ter funcionado mal, na semana passada, naquela que era a sua primeira viagem ao espaço.
Em outubro, Dennis Muilenburg, admitiu que a empresa cometeu "erros" nos acidentes mortais com aviões do modelo 737 Max 8 na Indonésia e na Etiópia, ao falar perante o Senado norte-americano.
"Sabemos que cometemos erros e que estávamos errados. Somos culpados disso", afirmou Muilenburg, citado pelas agências internacionais, perante o Comité do Comércio do Senado norte-americano.
Foi a primeira vez que a Boeing reconheceu no Congresso norte-americano ter cometido erros que estiveram na origem dos acidentes que resultaram na morte de centenas de pessoas e que custaram milhares de milhões de dólares à empresa com sede em Chicago, nos Estados Unidos.
"Em meu nome e no nome da Boeing, sentimos muito. Lamentamos profundamente", disse também Dennis Muilenburg, numa audiência na qual estiveram presentes alguns familiares de vítimas mortais dos acidentes.
O primeiro testemunho do presidente executivo da Boeing no Congresso norte-americano ocorreu exatamente um ano depois do acidente de um avião 737 Max 8 da companhia aérea indonésia Lion Air, que provocou 189 mortos, incluindo todos os passageiros e tripulantes.
Desde então, todos os Boeing 737 Max 8 foram retirados de circulação em todo o mundo.
Em abril, a Boeing e o organismo que regula a aviação nos EUA - A Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) - disseram que a empresa precisava de mais tempo para corrigir o sistema de controlo de voo que se suspeita ser responsável pelos dois acidentes que mataram 346 pessoas.
A norte-americana Boeing, sediada em Chicago, ofereceu o mesmo cronograma de tempo para convencer os reguladores de que pode corrigir o 'software'.
"A segurança é nossa primeira prioridade, e vamos adotar uma abordagem metódica e completa para o desenvolvimento e teste da atualização", disse o porta-voz da Boeing, Charles Bickers.
A Boeing precisa de aprovação não apenas da FAA, mas em outros países, incluindo Europa e China, onde as autoridades de segurança que regulam a aviação já indicaram que vão conduzir os seus próprios testes.
A informação da FAA sugere que as companhias aéreas podem ser forçadas a deixar em terra os seus aviões 737 Max por mais tempo do que esperavam.
As companhias aéreas que possuem jatos Max estão a recorrer outros aviões para preencher alguns voos que deveriam ser garantidos por aquelas aeronaves, enquanto cancelam outros.
"Estamos cientes de que o regresso ao serviço da nossa aeronave 737 Max pode ser adiada, e a nossa equipa trabalhará com todos os clientes afetados por cancelamentos", disse Ross Feinstein, porta-voz da American Airlines.
A Boeing está a proceder a alterações no sistema automatizado que serve para evitar que o nariz do avião suba.
As mudanças incluem contar com leituras de mais de um sensor antes que o sistema seja ativado e empurre o nariz para baixo, tornando as ações do sistema mais fáceis de gerir pelos pilotos.