Inflação. Bruxelas, mais pessimista, prevê subida para 6,8%
Apesar de o governo ter inscrito no Orçamento do Estado para este ano uma inflação de 3,7%, o ministro das Finanças já admitiu que o aumento anual do índice dos preços pode atingir 7,3%.
O governo já reviu em alta a estimativa da inflação para o conjunto deste ano. Ao contrário dos 3,7% inscritos, em abril, no Orçamento do Estado de 2022, agora, o ministro das Finanças, Fernando Medina, já admite que a subida dos preços atinja 7,3%, um cenário que já se aproxima da previsão oficial mais pessimista de 6,8% de Bruxelas. Para 2023, a Comissão Europeia (CE) espera que a inflação, em Portugal, abrande para os 3,6%. Enquanto o executivo português antevê um cenário mais otimista de 1,7% na variação do índice dos preços no consumidor.
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As posições do Fundo Monetário Internacional (FMI) são semelhantes às da CE, ainda que levemente mais positivas. A instituição liderada por Kristalina Georgieva estima, para Portugal, uma inflação de 6,1% para 2022, e de 3,5% para 2023. Já o Banco de Portugal antevê uma subida dos preços de 5,9% no final do ano. E um desaceleramento para 2,7% em 2023.
Mas a incerteza que paira sobre a guerra na Ucrânia, e a consequente crise energética, o problema da escassez de matérias-primas, decorrente do corte nas cadeias de abastecimento por causa dos lockdowns da pandemia da covid-19, podem baralhar as contas. Neste momento, a inflação em Portugal está nos 8,9%. Mas na taxa que é usada para comparar subidas de preços entre os vários Estados-membros, o país está nos 9,3%, dois pontos acima do valor máximo alcançado pela Zona Euro (9,1%).
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Objetivo é chegar aos 2%
Ora, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, tem sido perentória quanto à necessidade de combater a inflação. A prioridade da União Europeia e da Zona Euro é chegar aos 2%. Por isso, o BCE decidiu, em julho, subir as taxas de juro em 50 pontos base e, agora, em setembro, avançar em mais 75 pontos para 1,25%. É a primeira vez desde 1999 que o banco central da Zona Euro opta por um aumento de juros desta dimensão, 75 pontos base.
Estas intervenções no mercado têm efeitos nos juros dos créditos à habitação, a tal ponto que podem agravar a prestação da casa em mais 150 euros por mês no caso de um empréstimo de 250 mil euros, segundo as simulações da Deco para o Dinheiro Vivo.
Nova subida das taxas de juro
À semelhança da Reserva Federal norte-americana (FED), o BCE não deverá ficar por aqui com a subida das taxas de juro. No final da reunião da semana passada, na qual os governadores do BCE decidiram aumentar as taxas em mais 75 pontos base, Christine Lagarde deixou um aviso: "A inflação mantém-se demasiado elevada e é provável que se mantenha acima da nossa meta por um longo período de tempo. Apesar dos constrangimentos à oferta estarem a aliviar, estes continuam a alimentar-se gradualmente dos preços nos consumidores e a colocar pressão sobre a inflação, tal como a recuperação da procura no setor dos serviços". "Face à avaliação atual", o BCE espera, "em várias reuniões futuras, subir as taxas de juro ainda mais para reduzir a procura e salvaguardar contra o risco de uma transição ascendente em alta nas expetativas de inflação", vincou.
FED já aumentou quatro vezes
Recorde-se que, do outro lado do Atlântico, os EUA já subiram quatro vezes as taxas diretoras, a última das quais, em julho, para mais 75 pontos percentuais. Este aumento coloca as taxas de referência no intervalo entre 2,25% e 2,50%. Estão previstos mais dois aumentos até ao final do ano.
O ciclo de subida dos juros nos EUA teve início em março, com um aumento de 25 pontos base, enquanto a segunda subida ocorreu dois meses depois, em maio, em 50 pontos base. Na reunião de política monetária, que decorreu nos dias 14 e 15 de junho, o banco central norte-americano realizou a terceira subida das taxas de juro, aumentando-as em 75 pontos base. Desde o início do ano, a FED aumentou os juros num total de 225 pontos base.
Consequência direta ou indireta desta política restritiva da FED, o certo é que os EUA conseguiram fazer recuar a inflação de 9,1%, em junho, um máximo desde 1981, para 8,5%, em julho. O objetivo é igual ao do BCE: chegar aos 2% de taxa de inflação.
Salomé Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo