Dinheiro
03 dezembro 2021 às 22h35

Promotor inobiliário chinês Evergrande avisa que pode falhar reembolso de dívida

Os reguladores garantiram que os mercados financeiros chineses podem ser protegidos de um grande impacto.

DN/Lusa

O promotor imobiliário chinês Evergrande, que se confronta com uma dívida de 310 mil milhões de dólares (274 mil milhões de euros), avisou esta sexta-feira que pode vir a ficar sem dinheiro para "cumprir as suas obrigações financeiras".

De imediato, os reguladores chineses garantiram que os mercados financeiros chineses podem ser protegidos de um grande impacto.

O Grupo Evergrande está com dificuldade em obedecer à pressão oficial para reduzir o seu endividamento, o que tem alimentado ansiedade com um seu possível incumprimento, por poder desencadear uma crise financeira.

Entre os economistas dá-se uma baixa probabilidade a uma crise nos mercados internacionais, mas bancos e obrigacionistas podem sofrer perdas pesadas, uma vez que os dirigentes de Pequim querem evitar o 'bailout' da construtora.

Em comunicado hoje divulgado na bolsa de Hong Kong, a Evergrande informou que, depois de analisar as suas finanças com consultores externos, "não há garantias de que o Grupo tenha fundos suficientes para continuar a cumprir as suas obrigações financeiras".

Pouco tempo depois, os reguladores procuraram acalmar os investidores, com a emissão de declarações em que asseguraram que o sistema financeiro chinês era forte e que as taxas de incumprimento eram baixas.

Acrescentaram que muitos promotores imobiliários são financeiramente saudáveis e que Pequim vai continuar a deixar funcionar os mercados de crédito.

"O risco de contágio dos eventos de risco do grupo no funcionamento estável do mercado de capitais é controlável", asseverou a comissão reguladora do mercado de capitais chinesa, no seu sítio na internet.

O banco central e o banco regulador fizeram declarações semelhantes.

Os dirigentes de Pequim aumentaram no último ano as restrições sobre os níveis de endividamento dos promotores imobiliários, para procurarem controlar a crescente dívida empresarial, que é vista como uma ameaça para a estabilidade económica.

O governante Partido Comunista tem feito da redução dos riscos financeiros uma prioridade desde 2018.

Em 2014, as autoridades autorizaram o primeiro incumprimento obrigacionista desde a revolução de 1949.

Os incumprimentos têm sido permitidos ocorrer de forma gradual, na esperança de forçar credores e investidores a serem mais disciplinados.

Não obstante, o endividamento total de empresas, governo e famílias aumentou do equivalente a 270% do produto interno bruto de 2018 para cerca de 300% no ano passado, valores pouco vistos em economias de países com rendimentos médios.

Os economistas avançam que é pouco provável uma crise financeira, mas que a dívida pode limitar o crescimento económico.

A Evergrande, o maior devedor da indústria da construção, tem uma dívida de dois biliões de yuans (310 mil milhões de dólares), na maioria devidos a bancos domésticos e investidores em obrigações. Também deve 19 mil milhões de dólares a obrigacionistas estrangeiros.

A companhia tem vendido ativos para pagar dívidas e anunciou planos para dar a alguns obrigacionistas apartamentos em projetos que está a construir.

O presidente da Evergrande, Xu Jiayin, foi chamado hoje para uma reunião com dirigentes da sua província, Guangdong, informou o governo, em comunicado. No texto, adiantou-se que uma equipa governamental iria ser enviada para a sede da Evergrande para ajudar a gerir o risco.

Os problemas da Evergrande desencadearam alertas para a possibilidade de uma crise financeira no imobiliário -- um setor que propulsionou o crescimento económico explosivo da China entre 1998 e 2008 --- poder conduzir a problemas para os bancos e a um colapso súbito e politicamente perigoso do crescimento económico.

O comunicado da Evergrande adianta que a empresa enfrenta solicitações para honrar um pagamento de 260 milhões de dólares. Se não for capaz de cumprir, previu, então outros credores podem ser levados a exigir os respetivos reembolsos mais cedo do que previsto.

Hoje também, outro promotor imobiliário, o Kaisa Group Holdings Ltd., avisou que poderia falhar o reembolso de um empréstimo obrigacionista de 400 milhões de dólares na próxima semana.

O Kaisa adiantou que tentou renegociar o pagamento, devido para quinta-feira, mas que muito poucos obrigacionistas concordaram com os termos avançados, mas não revelados.

Em 05 de outubro tinha sido um promotor imobiliário de média dimensão, o Fantasia Holdings Group, a anunciar que ia falhar um pagamento de 205,7 milhões de dólares devido a investidores obrigacionistas.

Centenas de pequenos promotores imobiliários chineses têm ido à falência desde que os reguladores começaram a intensificar o controlo sobre as finanças do setor, em 2017.

O arrefecimento na construção na China trouxe para baixo os números do crescimento económico, tendo-se registado uns inesperados 4,9% homólogos no terceiro trimestre.