Dinheiro
27 novembro 2021 às 17h39

Apostar no enoturismo é investir na economia portuguesa

Para o Ministro da Economia há uma relação óbvia e estreita entre economia e vinho. Não é por acaso que os mercados para onde se exporta este produto são aqueles onde o turismo mais cresce em valor. Até agora já receberam financiamento público 60 projetos no valor de 90 milhões de euros. É uma aposta que deverá continuar.

A aposta no enoturismo não só é para continuar como é para reforçar. A afirmação foi dada por Pedro Siza Vieira, Ministro da Economia, durante um périplo no final dqa semana passada pelo Douro Vinhateiro. A visita serviu, por um lado, para dar enfoque ao enoturismo, área onde o governo focou a sua atenção em 2017, com a criação de uma estratégia de promoção específica nos mercados externos, mas, também, para ver in loco alguns dos projetos já apoiados.

Porque, como referiu Pedro Siza Vieira, o governo já apoiou projetos no valor de 90 milhões de euros, num total de 60 projetos apoiados e 40 milhões de euros de incentivo financeiro público. Isto fez com que Portugal conseguisse, cada vez mais, turistas que têm como interesse principal e/ou secundário o enoturismo. Com uma particularidade: "existe uma enorme correlação entre os países para onde exportamos o nosso vinho e os mercados onde mais cresce o nosso turismo em valor", constatou o ministro da Economia. Há ainda uma outra consequência - a atração de investimento para outros setores. "As pessoas podem não saber onde é feita a peça do seu automóvel, "mas todos sabem de onde vem o vinho que consomem". A imagem que, nos últimos tempos, se tem conseguido passar, de quem em Portugal se faz vinho de grande qualidade, tem consolidado "a vontade de visitar o nosso país, assim como a vontade de investir no nosso país". Dito de outra forma, há uma estreita relação entre a economia e o vinho, uma relação que, para Pedro Siza Vieira é óbvia, e, por isso, deve ser fomentada.

Em conversa com os jornalistas, o ministro da Economia reforçou a mensagem de que há muitos turistas que escolhem o seu destino a partir do vinho. "O enoturismo é uma tendência muito forte no turismo mundial e nos destinos mais maduros", referiu, acrescentando que os viajantes que viajam com o objetivo de conhecer os vinhos têm estadias mais longas nos destinos turísticos e fazem mais despesa. "E, por isso, procuramos atrair isso", afirmou Pedro Siza Vieira, relembrando o investimento do governo na promoção externa do "nosso enoturismo", a par de apoiar "quer instalações de enoturismo, quer, também, a formação para explicarem os vinhos que temos". E os resultados estão à vista. Na opinião do governante, "hoje somos um destino de enoturismo já muito procurado". A prova está nos cerca de 2,5 milhões de turistas que visitaram Portugal e que tinham como motivação principal e/ou secundária o vinho. "É portanto uma parceria de sucesso que o Ministério da Economia continuará a apoiar".

A visita pelo Douro Vinhateiro incluiu uma visita à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a única universidade com vinhos de autor. A marca "Alumni UTAD" nasceu em 2016 e todos os anos apresenta três vinhos - branco, tinto e vinho do Porto - produzidos por diferentes enólogos, que, no fim, escolhem os enólogos que irão participar no ano seguinte. Este ano, pela primeira vez, foi produzido um espumante, alargando o portefólio da marca.

A forma como tudo começou foi, até, muito simples. A iniciativa teve início com um convite a três ex-alunos para produzir um vinho com a marca UTAD. Depois, esses alunos foram desafiados a "passar o testemunho" a outros ex-colegas e, assim, sucessivamente até esta quarta edição.

Durante a prova, Pedro Siza Vieira elogiou a ligação que a universidade tem com o território, principalmente porque a instituição, ao evoluir, desenvolveu, igualmente, a região. A prova está, para o ministro da Economia, que, ao viajarmos pelo Douro, vimos não só uma paisagem transformada mas também uma economia aberta ao exterior e cada vez mais pujante. Mais ainda: "a universidade conseguiu projetar os seus formandos pelo país fora".

Focando especificamente no vinho Pedro Siza Vieira relembrou que este transformou-se num produto de exportação muito significativo. A prova é que "no ano passado foram praticamente 850 milhões de euros de exportações". Valor que "tem sido constante" e "uma conquista de reputação e reconhecimento".

O Périplo pelo Douro incluiu a visita à Quinta da Pacheca e Quinta do Bonfim, dois dos projetos apoiados pelo governo. No caso da Quinta da Pacheca o investimento rondou os 4,7 milhões de euros, com 75% de apoio elegível e cerca de 25% de incentivo e permitiu que, no ano passado, fosse construído um espaço contínuo à casa-mãe, uma nova ala, com 24 novos quartos, do The Wine House Hotel (que anteriormente contava apenas com 15 quartos). Além disso verificou-se um reforço da oferta enoturística, com a criação de um spa. Anteriormente, em 2018, a empresa tinha inaugurado 10 Wine Barrels, pipas gigantes transformadas em quartos e com vista para a vinha. O certo é que, se em 2019 a Quinta da Pacheca teve 90 mil visitantes. Este ano, com todas as vicissitudes e com mais quartos a contabilizar, outubro foi o melhor mês de sempre, com uma taxa de ocupação de cerca de 98% - novembro já vai com 72%.

A Quinta do Bonfim beneficia de uma localização ímpar - no Pinhão, a poucos metros, a pé, da estação de comboio e de onde os barcos atracam. No ano passado, e apesar das inúmeras restrições, a Quinta recebeu 25 mil visitantes e resolveu abrir, num formato pop-up, um restaurante, no meio da vinha, com a chancela do chef Pedro Lemos. O sucesso de algo que era para ser temporário fez com que esse mesmo espaço estivesse praticamente sempre aberto este ano - desde que abriu em Maio não voltou a encerrar. Entretanto, a Symington Family Estates, proprietária da Quinta do Bonfim, está a construir um restaurante com 90 lugares, junto ao centro de visitas. A obra, que representa um investimento de 1,4 milhões euros, deverá estar concluída em março do próximo ano.