Desportos
01 junho 2019 às 18h52

Liverpool volta a conquistar a Europa. Salah, Origi e muito Allison

Salah logo a abrir e Origi a fechar marcaram os golos que permitiram ao Liverpool voltar a festejar uma Liga dos Campeões 14 anos depois. Foi a sexta orelhona da história do clube e a primeira de Klopp, num jogo onde voltou a brilhar o guarda-redes.

Nuno Fernandes

O Liverpool conquistou este sábado a Liga dos Campeões, ao vencer na final disputada em Madrid o Tottenham, por 2-0, no segundo jogo da história da competição que opôs clubes ingleses. Golos em altura cruciais do jogo (aos dois minutos por Salah e aos 87' por Origi) e boas intervenções de Allison nos momentos de maior aperto, permitiram aos reds colocar um ponto final num longo jejum de títulos europeus que durava há 14 anos, precisamente desde a final de Istambul (2004/05) em que os reds venceram o AC Milan de Rui Costa no desempate por grandes penalidades.

Este troféu marca também o fim do jejum na era Jürgen Klopp. O técnico alemão chegou a Anfield em outubro de 2015 com uma boa carta de recomendação, graças aos dois títulos de campeão germânico ao serviço do Borussia Dortmund, nas temporadas 2010-11 e 2011-12. E ainda uma final da Champions, que perdeu para o rival Bayern Munique em 2013. Klopp viu ainda terminar a malapata das finais europeias perdidas, ele que tinha sido derrotado em dois jogos decisivos da Champions (em 2012/13 pelo Dortmund e na época passada pelo Liverpool) e numa final da Liga Europa (com o Liverpool em 2015/16).

Na primeira final da Champions desde 2013 sem Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, confirmaram-se as presenças dos dois jogadores que estavam em dúvida numa e outra equipa: Firmino foi titular no Liverpool e Harry Kane pelo Tottenham.

O jogo não podia ter começado da melhor maneira para os reds, que aos 25 segundos beneficiaram de um penálti (mão na bola de Sissoko após cruzamento de Mané), que Salah se encarregou de marcar com êxito, colocando o Liverpool em vantagem logo aos dois minutos.

O Tottenham, que atuou no seu esquema habitual de 4X2X3X1, com Eriksen, Dele Alli e Son no apoio a Kane, o jogador mais adiantado, tentou ir à procura do golo do empate, mas do outro lado apanhou uma defesa do Liverpool (4X3X3) bem liderada pelos centrais Van Dijk e Robertson, que durante a primeira parte esteve quase intransponível.

Apesar de ter mais posse de bola na primeira parte (63% contra 37%), a equipa de Pochettino parecia presa de movimentos, com grandes dificuldades em construir lances de ataque. Em contraponto, o Liverpool, com menos bola, terminou o primeiro tempo com oito remates à baliza (contra um do Tottenham), e em dois lances criou muito perigo - aos 17' num remate de Alexander-Arnold, e aos 38' com Loris a responder com uma grande defesa a um pontapé forte de Robertson. A prova de que, ter mais posse de bola, nem sempre compensa.

Tottenham carrega, Allison brilha e Origi marca

Provavelmente devido às indicações de Pochettino ao intervalo, o Tottenham entrou bem na segunda parte, a tentar sair em transições rápidas para o ataque com Dele Alli, Son e Harry Kane mais em jogo. Mas depois nos contra-ataques, o Liverpool espalhava o perigo na área dos rivais, aproveitando a velocidade dos três homens do ataque. O segundo tempo estava bem melhor do que o primeiro.

Aos 58', Klopp mexeu pela primeira vez na equipa. Tirou Firmino, algo apagado, e colocou Origi em campo. E aos 62' voltou a mexer, com Milner a entrar para o lugar de Wijnaldum. O técnico alemão percebeu que o Tottenham estava mais atrevido e que precisava de dar mais consistência à equipa. Apesar de, na verdade, os londrinos não criarem oportunidades claras de golo.

Pochettino foi ao banco aos 66 minutos, lançando no jogo o brasileiro Lucas Moura, o herói da meia-final com o Ajax, autor de um hat-trick decisivo para o Tottenham poder estar na final. Era o tudo por tudo dos londrinos, que abriram uma frente de ataque com Lucas, Kane e Son. Mas curiosamente, no lance imediatamente a seguir (66'), James Milner quase fez o segundo dos reds, atirando ao lado após uma grande jogada de Mané. Na resposta, o Tottenham ameaçou a baliza de Allison com um remate em jeito de Del Alli. E logo a seguir entrou Eric Dier em campo, o jogador inglês que se formou e jogou no Sporting antes de rumar aos spurs.

Foi o melhor período do Tottenham, que carregou, carregou em busca do golo do empate. E a defesa do Liverpool passou por minutos de autêntico terror. O melhor exemplo disso foi um lance aos 80', com Lucas Moura a rematar forte para defesa de Alisson e com o guarda-redes do Liverpool a voltar a brilhar na recarga ao pontapé de Son.

Nos últimos minutos, tal como no jogo da meia-final diante do Barcelona, veio ao de cima a classe do guarda-redes brasileiro do Liverpool, que fez a defesa da noite aos 85' após um livre direto de Eriksen. E como quem não marca arrisca-se a sofrer, a equipa de Klopp matou o jogo aos 87', obra do homem que havia entrado na segunda parte, Origi, que num remate cruzado fez o 2-0. O apito final chegou e o Liverpool voltou a comemorar um título europeu 14 anos depois. Depois, seguiu-se a festa, a entrega da taça e o momento arrepiante com os adeptos a cantarem o famoso hino do clube - You'll Never Walk Alone.

Finalmente o prémio a quatro anos de Klopp

Klopp rendeu em outubro de 2015 o galês Brendan Rodgers, que estava no clube desde 2012. O alemão mudou quase tudo, a começar pelo sistema de jogo utilizado pela equipa, implementando o famoso gegenpressing, dos tempos do Dortmund - pressionar imediatamente o adversário portador da bola para criar ocasiões de golo em vez de recuar e compor a defesa.

Nessa temporada 2015-16, Klopp estreou-se com um empate sem golos diante do Tottenham, precisamente o mesmo adversário deste sábado. Foi uma temporada de adaptação ao futebol inglês e a uma equipa que já estava construída sem jogadores indicados pelo técnico alemão. O Liverpool terminou no oitavo lugar e chegou, mas chegou à final da Liga Europa, onde foi batido pelo Sevilha (3-1), depois de ter eliminado o Manchester United e o Dortmund durante a prova da UEFA.

Na sua segunda época começou o investimento. O clube estava sedento de títulos e era preciso tornar o Liverpool numa equipa ainda mais competitiva. Os donos do clube gastaram 70 milhões de euros em reforços, e chegaram a Anfield nomes como Sadio Mané, Wijnaldum, Matip e o guarda-redes Loris Karius. E dispensou uma mão-cheia de jogadores. A estreia na Premier League foi promissora, com uma vitória (4-3) no campo do Arsenal. Mas a equipa tanto era capaz de alcançar bons resultados diante dos clubes do top 5 como desiludia perante adversários da última metade da tabela. O Liverpool terminou na quarta posição, com 42 golos sofridos.

Na época passada, os donos do Liverpool abriram os cordões à bolsa para satisfazer os pedidos de Klopp. As contratações mais sonantes foram Mohamed Salah (hoje a grande figura da equipa), Oxlade-Chamberlain, Robertson e Virgil van Dijk. Este último custou quase 80 milhões de euros, um valor na altura considerado exorbitante para um defesa central. Mas saíram Mamadou Sakho e Coutinho. A equipa de Anfield voltou a ficar em quarto lugar no campeonato, mas chegou à final da Liga dos Campeões, onde foi derrotada pelo Real Madrid (3-1).

Esta temporada, o clube foi outra vez em força ao mercado e gastou como nunca - cerca de 170 milhões de euros. Começou pela baliza, com a contratação do internacional brasileiro Alisson para substituir o desastrado Loris Karius. Chegaram ainda Fabinho (ex-Mónaco), Shaqiri (ex-Stoke City) e Naby Keita (ex-Leipzig). A equipa esteve até à última jornada a lutar com o Manchester City pelo título de campeão inglês, mas falhou esse objetivo. Não houve campeonato, mas houve Liga dos Campeões, um troféu que premeia o trabalho feito por Klopp ao longo das últimas quatro temporadas, mas também o grande investimento feito na equipa.