Seleção feminina dos EUA perde batalha em tribunal pela igualdade de salários
A seleção feminina dos EUA perdeu a batalha pela igualdade salarial em tribunal. Elas perderam a batalha, mas esperam não ter perdido a guerra do equal pay (pagamento igual aos homens) e prometem recorrer da decisão do juiz.
O juiz do processo, Gary Klausner, considerou que não houve um tratamento desigual. "A equipa feminina recebeu mais em termos acumulados e em média por jogo do que a equipe masculina durante o período em causa", destacou na sentença, abrindo a porta a outros processos sobre ajudas de custo nas viagens, estadias e apoio médico.
"Estamos chocadas e desiludidas, mas não vamos desistir de continuar a lutar pelo equal pay. Acreditamos no nosso caso e vamos continuar a lutar para que as raparigas e as mulheres que praticam este desporto não sejam desvalorizadas apenas pelo sexo", garantiu Molly Levinson, a representante do grupo de jogadoras, que não vão desistir do processo e vão avançar com um recurso.
Megan Rapinoe, que venceu a Bola de Ouro e o prémio The Best para melhor jogador do ano, não escondeu a desilusão com o veredicto fina, mas avisou: "Nunca vamos deixar de lutar pela igualdade", escreveu a capitã no Twitter. Também Alex Morgan se manifestou "desiludida" com a decisão.
A federação promete continuar o diálogo para dotar a equipa feminina das melhores condições para o desenvolvimento do futebol feminino. "O futebol feminino dos EUA tem sido o líder mundial dentro e fora do campo, e estamos comprometidos em continuar esse trabalho para garantir que a seleção nacional feminina continue sendo a melhor do mundo e estabeleça o padrão para o futebol feminino", afirma o organismo em comunicado.
O protesto liderado pela capitã, Megan Rapinoe, em 2019, resultou num processo judicial, em que 28 jogadoras da seleção exigiam à federação dos Estados Unidos (US Soccer) uma indemnização de 66 milhões de dólares (quase 60 milhões de euros) por discriminação salarial em relação à seleção masculina, que, segundo elas, exercem as mesmas funções e são muito menos bem-sucedidos.
Nos EUA o futebol feminino é mais popular que o masculino, tendo a equipa nacional sido campeã mundial por quatro vezes -a última vez foi no verão passado. Razões mais do que suficientes para elas exigirem pagamento igual para homens e mulheres em representação da seleção. Uma exigência "justa" na opinião do sindicato de jogadores masculinos, que apoiaram a luta das mulheres por tratamento salarial igual.
A realidade do futebol nos EUA espelha essas desigualdades. O salário mínimo anual praticado na liga feminina de futebol é pouco superior a 6800 dólares (6000 euros) e as principais estrelas ganham à volta de 60 mil dólares (53 mil euros), que é o salário mínimo praticado na liga masculina (MLS). O jogador masculino mais bem pago recebe cerca de oito milhões de dólares (7,2 milhões de euros).
A já chamada guerra dos sexos do futebol americano levou mesmo à demissão do presidente da US Soccer, o luso-americano Carlos Cordeiro, por declarações, consideradas discriminatórias, feitas em tribunal, durante o julgamento. A federação norte-americana defendeu a diferença salarial entre homens e mulheres com o facto de as jogadoras serem "menos dotadas tecnicamente" e "terem menos responsabilidades" que os jogadores. Justificações que levaram várias jogadoras a criticar o líder federativo. Megan Rapinoe considerou mesmo "cruel" e "inaceitável" a posição da federação. Carlos Cordeiro pediu desculpas, justificando que não comunga da opinião do organismo, mas não resistiu à polémica.