Belga de 52 anos ainda marca no Europeu de hóquei em patins

O jogador mais velho de sempre a competir num Europeu de hóquei em patins, Serge Berthels, tem 52 anos, já apontou um golo e continua "apaixonado pelo desporto", embora esteja "triste por não haver mais jogadores" na Bélgica.

Competiu no último europeu em que os belgas participaram, em 1996, esta semana voltou para 53.ª edição da prova, que se realiza no Palácio dos Desportos Riazor, na Corunha, em Espanha, onde apontou um golo de belo efeito, frente à Inglaterra, colocando o esférico no ângulo superior da baliza.

Em conversa animada com a agência Lusa -- graças à tradução do preparador físico Dennis van Vlierberghe --, o segurança de profissão recuou no tempo 44 anos, quando começou a praticar a modalidade no clube da cidade onde nasceu e que nunca abandonou, o Rolta Leuven, falou sobre a quebra de importância do hóquei na Bélgica e garantiu que vai "jogar até não poder mais".

"Estou apaixonado pelo desporto, também quero ajudar as pessoas e o hóquei na Bélgica, que quase não existe. Sinto falta das pessoas jovens na modalidade, mas ainda tenho esperança de que o jogo singre no país. Eu gostava de jogar só com os veteranos, mas tenho que aproveitar esta oportunidade para jogar, porque é a única", confessou.

Já trabalhou como mecânico de carros durante quatro anos, mas passou grande parte da vida como segurança "interna, em hospitais, e externa, em bancos", mas sublinhou que, apesar dos requisitos exigidos para a profissão, "o trabalho não ajuda no jogo, nem vice-versa".

Confessa-se "triste" por não haver mais jogadores, mas, por outro lado, "contente por ter a oportunidade de participar numa competição destas e com esta idade", admitindo que se tivesse "opção e oportunidade, gostava de ser treinador ou outra coisa ligada ao hóquei".

Explicou que em 1996 a equipa tinha mais "experiência" e não tinha jogadores de fora, sendo essas as principais diferenças em termos de equipa, já sobre a relevância do hóquei no país apontou que o "facto de estar aqui, com esta idade, diz tudo sobre a qualidade da Bélgica".

"Não era o meu sonho estar aqui com esta idade, eu queria que a seleção fosse melhor...", lamentou, acrescentando que vai "ao mundial do próximo ano, de qualquer forma".

Marco Miguéis, um dos três portugueses que representam a Bélgica, estava sentado ao lado de Serge Berthels e não resistiu a intervir quando se falava sobre o tempo que faltava até à retirada do seu companheiro de equipa.

"Não há fim. Vai com os patins para o caixão. Ele tem prazer a jogar o desporto, ganhando ou não ganhando dinheiro. É uma pessoa que come, vive e absorve o hóquei. Ele não precisa de nenhum incentivo para jogar, agarra nos patins e vai jogar. Entrega a alma e o seu amor à modalidade. Quando ele fala, mostra o amor que tem e isso vê-se porque ele continua a jogar com a idade que tem", relatou, não escondendo a admiração.

Questionado sobre o golo apontado à Inglaterra, o veterano disse que "é sempre agradável fazer o golo", mas fê-lo "pela equipa", porque precisavam de um ou dois golos "depois dos maus momentos no torneio", reservando ainda espaço para falar sobre a família.

"Já digo há 20 anos que quero parar"

"De certa forma, a minha família está orgulhosa por me pedirem para continuar a jogar. Por outro lado, já digo há 20 anos que quero parar", brincou, entre risos, indicando ainda que há alguma preocupação da família, mas que "por agora está tudo a correr bem".

Nuno Rilhas, de 45 anos, é outro dos portugueses que representa a equipa belga e não esconde o fascínio pela longevidade do companheiro que é "um exemplo a seguir".

"É fantástico, é um incentivo. Espero não o fazer e ter a coragem terminar para o ano. Uma pessoa com esta idade, que se esforça pelo país dele, que aos 52 anos assume a posição de correr e treinar como nós, para mim é um exemplo a seguir. Já lhe disse que o respeito que tenho por ele é enorme. Ele marcou um golo e vivi mais o golo dele do que se fosse um meu", contou.

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