Queria ser treinador, mas não o deixavam por estar numa cadeira de rodas. Agora já pode

Carlos é portador de uma doença neurodegenerativa e anda de cadeira de rodas desde a infância.
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Carlos Rodrigo tem 36 anos e queria ser treinador de futebol, mas não o deixavam por estar numa cadeira de rodas. O espanhol bateu-se na justiça contra a federação espanhola de futebol e para poder cumprir o sonho de treinar e ganhou a causa. Já treina o Madrid CFF, um clube de futebol feminino sediado em Madrid, que atualmente joga na primeira divisão espanhola e prepara-se para ser um dos primeiros técnicos UEFA em cadeira de rodas.

"Eles não me deixam treinar porque estou numa cadeira de rodas", denunciou o treinador em entrevista ao jornal Marca, em outubro, antes de iniciar uma batalha pelos direitos. Menos de três meses depois a cadeira de rodas já anda pelos relvados e Carlos já orienta uma equipa e espera pela certificação do curso, que começou em novembro. "Ainda não acredito que isto aconteceu mesmo. Isso só mostra que há barreiras que podem ser quebradas se, juntos, pedirmos àqueles que têm o poder de derrubá-las. Se o meu avô estivesse aqui, ele ficaria orgulhoso do que o mister alcançou", afirmou.

Carlos é portador de uma doença neurodegenerativa e anda de cadeira de rodas desde a infância. O avô passou-lhe a paixão pelo futebol e à medida que foi crescendo pensou que as limitações físicas que o impediam de jogar não o limitaria na sua grande paixão, a do treino. Até que a Federação deitou os sonhos dele por terra. Quando se preparava para fazer o curso de treinador, descobriu que as regras da federação estipulam que um técnico tenha "aptidão física".

"Não podia aceitar isso, eu não consigo rematar uma bola, mas posso perfeitamente executar o trabalho de um treinador. Não posso correr, mas tenho as habilidades necessárias para gerir uma equipa e tenho ainda os conhecimentos, experiência e vocação necessária para fazê-lo. Nos tempos livres fui diretor de atividades juvenis, geri atividades desportivas e cresci colado a uma bola e a assistir a centenas de jogos", explicou Carlos Rodrigo que decidiu embarcar numa batalha jurídica contra o organismo espanhol.

E começou por usar a lei espanhola, que se refere aos direitos das pessoas com deficiência na perspetiva da inclusão social. E Carlos Rodrigo sentia que estava a descriminado. Por isso lançou uma petição para que a norma da federação fosse mudada. Em pouco mais de uma semana contava já com mais de 75 mil assinaturas. "Não esperava que tanta gente fosse solidário com a minha causa", confessou ao El País.

Desde aí sentiu que podia fazer a diferença e fez. Um mês depois recebeu um telefonema com a boa notícia. "A Real Federação Espanhola de Futebol modificou os requisitos da chamada para cursos de treinador que oferece, para que todas as pessoas possam ter acesso em condições de igualdade, assim, a mudança significará uma adaptação dos testes específicos para pessoas com deficiências físicas", contou o espanhol revelando que os responsáveis da federação lhe disseram que já tinham a mudança planeada e que o pedido dele tinha "sido a gota de água".

Não é caso único

Sohail Rehman tinha 22 anos quando o Manchester United o contratou em 2014. Sofria de atrofia muscular e nunca tinga jogado futebol, mas, tal como Carlos Rodrigo sonhava ser treinador. Sohail sempre foi adepto do clube, até que recebeu uma carta, em Abril de 2013, de Alex Ferguson, treinador que na altura estava a terminar a aventura de 27 anos no banco dos red devils, a dar-lhe esperança.

Pouco depois o clube anunciou a contratação de Sohail Rehman como treinador das camadas jovens do clube. O jovem, então com 22 anos, entrou para a história como o primeiro treinador numa cadeira de rodas a orientar jogadores sem deficiências físicas num clube profissional. "É de loucos. Agora vou poder ir ao centro de treinos e ver os jogadores. É uma sensação estranha", confessou na altura ao Sunday Express.

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