Paulo Rodrigues: "Aos elementos da PSP é-lhes imposto que não liguem a insultos racistas ou outros"

Presidente da Associação Sindical de Profissionais da Polícia diz ao DN que estes cânticos "são habituais"
Publicado a
Atualizado a

"Aos elementos da PSP é-lhes imposto que não liguem a insultos racista ou outros", diz Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical de Profissionais da Polícia (ASPP), membro do Corpo de Intervenção da PSP, com experiência em segurança de jogos de futebol.

O operacional da polícia acrescenta que situações como a que viveu Moussa Marega, 28 anos, no jogo V. Guimarães-FC Porto, este domingo, não são inéditos. "Os cânticos são habituais", afirma Paulo Rodrigues. "Há jogos com maior ênfase e outros menos. Mas é frequente".

O presidente daquele que é o maior sindicato da PSP sublinha que "aos elementos da PSP é-lhes imposto que, até pela sociedade em geral, que não liguem aos insultos ou a qualquer outro comentário... porque no futebol tudo é permitido. É sempre pedido para não ligar pois no calor dos jogos é desculpável todo o tipo de insultos. É essa a regra, mas é da sociedade em geral. Inclusivamente dos tribunais quando há detidos por insultos".

Paulo Rodrigues lembra ainda que "até há acórdãos de juízes - claro que não se fala concretamente no racismo - a dizer que no calor dos jogos é normal determinadas atitudes pelo entusiasmo natural dos adeptos". De acordo ainda com este sindicalista "o futebol tem servido como desculpa por parte de todos, instituições inclusive, para legitimar tudo e todos".

O que Marega ouviu dos adeptos vimaranenses enquanto jogava levou-o a decidir sair de campo, apesar dos esforços de colegas da sua equipa e da formação adversária. E motivou entre o final do jogo e esta segunda-feira, reações de condenação do Presidente da República, do primeiro-ministro, de Ferro Rodrigues e de quase todos os partidos com assento na Assembleia da República - PS, Iniciativa Liberal e CDS repudiam e BE quer questionar o governo.

Contactado pelo DN, o comando distrital de Braga da PSP de Braga remeteu para o final da manhã desta segunda-feira um comunicado sobre o que aconteceu em campo e nas bancadas durante a partida entre V. Guimarães e FC Porto.

A PSP, através da direção nacional, citada pela Lusa, confirma que está a tentar identificar os adeptos suspeitos de dirigirem palavras e gestos racistas e xenófobos ao futebolista Marega, do FC Porto, cometendo assim infrações criminais e contraordenacionais.

"Não obstante não ter sido possível proceder no recinto a qualquer identificação ou detenção, em face da moldura humana e concentração de pessoas, a PSP, dentro do quadro legal indicado, está a fazer as diligências necessárias para identificar os suspeitos que cometeram as infrações criminais e contraordenacionais, levando-os perante as entidades judiciais e administrativas competentes", diz a PSP acerca do incidente no jogo Vitória de Guimarães - FC Porto para o campeonato nacional.

O DN pediu à PSP o número de adeptos que já foram identificados por insultos racistas, mas ainda não obteve resposta.

Entretanto, ao início da tarde desta segunda-feira, a Procuradoria-Geral da República resolveu ordenar a abertura de um inquérito ao episódio ocorrido, com a investigação entregue ao DCIAP de Guimarães.

Conselho de Disciplina reúne-se amanhã

A informação que consta do relatório do árbitro Luís Godinho já chegou à Federação Portuguesa de Futebol e, segundo o Expresso, está escrito que o juiz da partida se deu conta dos insultos e dos sons imitando macacos que vinham da bancada do estádio D. Afonso Henriques na sequência da marcação de um canto.

O Vitória de Guimarães informou no domingo que vai averiguar os insultos racistas de que o futebolista Marega, do FC Porto, alegadamente foi alvo, no encontro da 21.ª jornada da I Liga de futebol, realizado em Guimarães, "agindo com firmeza e consequência, em cooperação plena com as entidades judiciais competentes", lê-se em na nota publicada no sítio oficial dos vimaranenses.

O clube frisou ainda, na mesma nota, que "não deixará de censurar toda e qualquer manifestação de violência, racismo ou intolerância", tendo defendido que tais situações só geram "mais violência, mais racismo e mais intolerância" e que a "gravidade" de tais assuntos "não se coaduna com qualquer desculpabilização legitimadora de comportamentos racistas ou discriminatórios".

O Vitória de Guimarães realçou ainda que "não encara a violência e a intolerância associada ao desporto como uma luta, um combate ou até mesmo, como para alguns, uma guerra", tendo dito que baseia a sua atuação numa "identidade inclusiva, integradora e assente em valores de igualdade e universalidade", que considera ser a única "abordagem capaz de erradicar a discriminação no desporto e na sociedade".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt