Desportos
04 setembro 2018 às 20h20

Nike enfrenta protestos devido a campanha com Colin Kaepernick

Ex-jogador de futebol americano foi o rosto do movimento de protesto que levou vários atletas a ajoelharem-se durante o hino dos Estados Unidos. Nova campanha publicitária fez desatar pedidos de boicote a produtos da Nike

Rui Frias

Em 2016, o joelho de Colin Kaepernick liderou um movimento de protesto contra as injustiças sociais nos Estados Unidos e irritou as faixas mais conservadoras da sociedade americana, com o presidente Donald Trump à cabeça. Desde então, o antigo quarterback dos San Francisco 49ers tornou-se ícone da luta das minorias, mas também figura non grata para vários setores, entre os quais os próprios donos da NFL, a liga de futebol americano, onde Kaepernick não voltou a encontrar emprego.

Agora, a Nike resolveu associar a imagem do antigo jogador à campanha publicitária que assinala o 30.º aniversário do slogan "Just do It" e a onda de protestos não se fez esperar, com vários utilizadores nas redes sociais a apelarem ao boicote aos produtos da marca desportiva e alguns a partilharem mesmo imagens e vídeos com produtos da Nike a serem queimados.

Jogador na NFL durante seis temporadas, Colin Kaepernick já era um atleta patrocinado pela Nike desde 2011, mas tinha deixado de aparecer em campanhas da marca desde que rebentou a polémica dos protestos durante o hino americano.

Na temporada de 2016, na sequência de vários episódios de violência policial contra minorias étnicas nos Estado Unidos, Colin Kaepernick e outros jogadores dos 49ers começaram a ajoelhar-se antes do início dos jogos, no momento de escutar o hino. O movimento de protesto alastrou-se a vários jogadores de diferentes equipas e de vários desportos, provocando a ira dos adeptos mais conservadores, bem como de políticos republicanos, entre os quis Donald Trump.

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Na altura, Trump sugeriu aos donos das equipas da NFL que despedissem os jogadores que protestassem durante o hino e aconselhou Kaepernick a "encontrar um país que seja melhor para ele".

"Um atleta inspirador"

O anúncio de que o ex-jogador seria um dos rostos da nova campanha da Nike surgiu na segunda-feira, quando o próprio Kaepernick publicou no Twitter uma imagem sua a preto e branco, com o logotipo da marca, o slogan "Just do it" e a frase "Believe in something. Even if it means sacrifice everything. [Acredita em algo. Mesmo que isso signifique sacrificares tudo]".

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Segundo o jornal New York Times, Kaepernick assinou um novo contrato plurianual com a Nike e a marca vai comercializar novos produtos com a imagem do ex-jogador, incluindo calçado desportivo e uma t'shirt, além de doar dinheiro para a campanha "Know your Rights", promovida pelo antigo quarterback dos San Francisco 49ers.

"Acreditamos que o Colin é um dos atletas mais inspiradores desta geração, utilizando o poder do desporto para tentar melhorar o mundo", disse à cadeia ESPN um executivo da Nike, Gino Fisanotti. Além do mais, Kaepernick também continua a ser uma das figuras mais populares do desporto americano, tendo visto esse papel reforçado com a polémica em seu redor.

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Na justiça contra a NFL

A nova associação entre a Nike e Kaepernick foi tornada pública poucos dias depois de o ex-jogador ter visto um tribunal dar-lhe razão na sua pretensão de levar a NFL a juízo por conluio, com o quarterback a acusar a liga de uma ação concertada para nenhuma equipa lhe oferecer emprego. A NFL queria o encerramento do caso, mas um mediador viu razões suficientes para a ação poder avançar, o que pode fazer com que a liga de futebol americano seja chamada a sentar-se no banco dos réus.

Este anúncio chega também a poucos dias do arranque de mais uma temporada da NFL, com a qual a Nike chegou também a acordo, em março passado, para prolongar a sua ligação como fornecedora oficial dos equipamentos da 32 equipas até 2028.

Além de Kaepernick, a campanha do 30.º aniversário do "Just do It" engloba outros famosos atletas de diferentes desportos, como Serena Williams (ténis), LeBron James (basquetebol), Odell Beckham Jr (futebol americano)., Shaquem Griffin (futebol americano) e Lacey Baker (skate). "Especialmente orgulhosa por fazer parte da família Nike no dia de hoje", reagiu a tenista Serena Williams nas redes sociais após o anúncio de Colin Kaepernick.

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Mas as redes encheram-se também de mensagens de protesto e apelos ao boicote à Nike, como as do cantor de música country John Rich ou do antigo governador do Arkansas Mike Huckabee, entre outras que incluem mesmo vídeos de produtos da Nike a serem queimados ou deitados ao lixo.

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