Martinelli, o ciclista que leva medicamentos às pessoas da sua aldeia
O italiano Davide Martinelli, ciclista da Astana que em fevereiro foi 23.º classificado da Volta ao Algarve, colocou a sua bicicleta ao serviço da comunidade de Lodetto, aldeia com cerca de 1500 habitantes do município de Rovato, na Lombardia, norte de Itália.
Com todas as provas canceladas, o corredor de 26 anos decidiu ajudar pessoas mais desfavorecidas que estão fechadas em casa por causa da pandemia de coronavírus. Todos os dias pega na sua bicicleta, munido de máscara, luvas e mochila, e vai distribuir medicamentos ou algo mais que seja necessário por aqueles que precisam de ajuda.
"Tudo começou graças a um grupo de rapazes de Lodetti, incluindo meu primo Stefano que se organizaram para a entrega de remédios e alimentos a pessoas, especialmente os idosos, que não têm a possibilidade de ir a Rovato comprá-los", começa por explicar numa publicação que fez nas redes sociais, onde anunciou a aquela que é a sua nova profissão, pelo menos enquanto não regressarem as provas de ciclismo e durar a crise causadas pelo covid-19.
"Ouvi várias histórias que me tocaram, de pessoas que não conseguiam ir à cidade, mas graças a estes voluntários têm resolvido os seus problemas. Ao longo dos anos tenho recebido tanto de minha comunidade, mas quase não tive a hipótese de retribuir por causa da vida que muitas vezes me leva a ficar longe de casa", acrescenta o ciclista italiano, 635.º classificado do ranking da UCI (União Ciclista Internacional).
Martinelli diz ainda sentir-se "o homem mais feliz do mundo" por poder ajudar quem mais precisa. "Estou muito ligado a Lodetto, uma comunidade de pouco mais de 1500 pessoas, onde infelizmente não há farmácia, nem mercearia", razão pela qual nasceu a sua necessidade de ir para rua. "Esta é a minha chance de me tornar útil e retribuir às muitas pessoas que me têm sempre apoiado ao longo dos anos. Tenho uma bicicleta, duas pernas, agora pouco treinadas, e uma mochila, mais nada...", sublinha.
"Hoje tive a honra de ir à farmácia recolher remédios para um casal de idosos, no total foram 30 minutos e cerca de dez quilómetros, nada de especial para uma atleta, mas quando fiz a entrega à porta, obviamente com as precauções necessárias (máscara e luvas), senti um agradecimento que ainda ecoa na minha cabeça", revela com a emoção de que se sente útil numa altura de grandes dificuldades na região da Lombardia. "Andar de bicicleta é lindo, mas ser útil aos outros não tem preço", diz.
"Como disse o presidente do meu clube de fãs, Don Ettore Piceni, em Lodetto não há farmácia e não há lojas, mas há uma comunidade unida e forte. Vamos prová-lo mais uma vez! Se você puder fazer algo pelos outros, faça-o, pois a satisfação será enorme!", remata o sprinter Davide Martinelli, que habituado a ser herói nas estradas por esse mundo fora, tornou-se agora um herói da sua aldeia.