Desportos
22 setembro 2019 às 15h28

Manuel Andrade considera tardia homenagem aos campeões nacionais pelo Belenenses

O único campeão nacional de futebol pelo Belenenses ainda vivo, Manuel Andrade, diz ser um motivo de orgulho representar o plantel de 1945/46 no centenário do clube lisboeta, mas considera que a homenagem peca por tardia.

Lusa

"Felizmente, ainda estou cá. É um motivo de grande orgulho representar o plantel campeão nacional. Não estou muito habituado a estas coisas, mas fico satisfeito por poder gozar dessas regalias. Só tenho pena que não tenham começado há mais tempo, enquanto os outros eram vivos", confessou em declarações à Agência Lusa.

Com 92 anos de idade, Manuel Andrade lamentou não ser mais reconhecido pelo Belenenses e, apesar de a sua presença no dia do centenário estar confirmada, garante que não foi convidado pela direção, na qual apenas conhece o presidente.

"Vou estar presente no dia do centenário, mas não fui convidado por ninguém da direção. Nem sabem que eu existo, estou mais ligado aos veteranos. O Belenenses tinha a obrigação de falar e divulgar determinadas coisas sobre o título. Ninguém sabe o que se passou há 70 anos", criticou.

Manuel Andrade recordou histórias da inédita conquista do clube lisboeta, em 1945/46, na qual foi o melhor marcador, com apenas 18 anos.

"Tinha 18 anos, era o mais novo da equipa. Estreei-me num jogo memorável com o FC Porto. Aos 15 minutos, estávamos a perder 2-0, mas ganhámos 3-2, com três golos apontados por mim. Fui o melhor marcador nessa época, com 20 golos em 14 jogos, apesar de alguns só me darem 19 golos. Não me preocupo com isso", lembrou.

O Belenenses conquistou o campeonato nacional em Elvas, numa vitória por 2-1 em que Manuel Andrade apontou um dos golos, mas nunca sentiu a fama num futebol que, como diz, era muito diferente do atual.

"Há 70 anos, o futebol era muito diferente. Na minha altura, falava-se de um jogo até ao dia seguinte e nunca mais se falava no assunto. Hoje, podem estar um mês a falar sobre a mesma coisa", disse.

Manuel Andrade saiu do Belenenses e contou com passagens pelo Sporting, dos 'cinco violinos', e pelo Estoril, apesar de reconhecer que o maior feito da sua carreira desportiva foi a conquista do campeonato nacional pelo clube do Restelo.

"No Sporting, estive só de passagem. Já sabia que não iria jogar muito, porque tinham o Peyroteo, que era um senhor. Apesar de ter feito um brilharete na época anterior, não o iam tirar para me meter a mim. Ainda joguei com os 'cinco violinos', fui titular num jogo em Bilbau", contou.

As recentes polémicas entre o Belenenses e a SAD não foram ignoradas por Manuel Andrade, que não compreende o facto de a SAD ter ficado com a equipa da I Liga, pois afirma que o verdadeiro clube é aquele que milita, atualmente, na segunda divisão distrital de Lisboa.

"Não consigo compreender como é que um clube tem uma equipa na I Liga e outra nas distritais. Se por acaso o das distritais chega lá acima, estou para ver como resolvem isso. A SAD é uma coisa que existe há meia dúzia de anos e o clube tem 100 anos. A primeira categoria do futebol devia pertencer ao clube e não à SAD, que é apenas uma parte administrativa", disse.

Apesar de reconhecer não gostar muito de ver o futebol português, preferindo a Liga inglesa, Manuel Andrade revelou ter uma admiração especial pelo treinador Jorge Jesus, que considera estar a fazer "um trabalho extraordinário" e que os jogadores entendem as suas ideias de jogo.

"O futebol evoluiu em relação à minha altura. Tenho uma admiração muito especial pelo treinador Jorge Jesus, que revolucionou o futebol e tem feito um trabalho extraordinário por onde passa. Sabe falar com os jogadores, que percebem sempre aquilo que ele quer", confessou.

O Belenenses, fundado em 23 de setembro de 1919, comemora 100 anos de existência segunda-feira, numa data assinalada por cerimónias religiosas e homenagens a grandes figuras do clube, como Pepe, Matateu, Vicente Lucas e o plantel campeão nacional de futebol, em 1945/46.