O juiz de instrução do julgamento do ataque à Academia de Alcochete aceitou o pedido de libertação de Fernando Mendes, disse a advogada do ex-líder da Juve Leo aos jornalistas à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal. Fernando Mendes soube em maio, após um exame efetuado pelos serviços prisionais, que sofre de um grave problema oncológico tendo o pedido de libertação partido da procuradora Cândida Vilar. .Na sessão desta terça-feira, a primeira da fase de instrução do processo, a advogada do arguido, Sandra Martins, reiterou o pedido de libertação de Fernando Mendes, por motivos de saúde, tendo o juiz Carlos Delca dito que aguardava a resposta da procuradora a um pedido para se pronunciar sobre o assunto que lhe tinha enviado. Esta disse que já tinha respondido e que não se opunha. O magistrado não deu resposta durante a sessão desta tarde, mas já na rua a advogada confirmou que o pedido será aceite e cumprido esta quarta-feira..Detidos "perdidos", escusa de juiz que não "pegou" e a dúvida sobre os jornalistas.Este acabou por ser o final feliz de um dia que poderia fazer parte de um argumento de um filme. É que desde as 10.00 desta terça-feira até pouco depois das 17.00 foram várias cenas dignas de uma boa comédia..Marcada para as 10.00, a sessão começou perto das 10.30 e logo com o juiz de Instrução Criminal Carlos Delca a ler a resposta ao quarto incidente de escusa de juiz apresentado no processo e que se esperava, como aconteceu com as duas datas anteriores em que as sessões foram anuladas devido à contestação da presença do magistrado nesta fase, fizesse com que esta também não se realizasse..O juiz que tem liderado este processo desta vez decidiu não fazer a vontade aos advogados, afirmou que ia dar inicio à fase de instrução e ainda acusou os advogados de quererem adiar esta fase de forma e atingir a data de 21 de setembro - o dia em que 23 arguidos cumprem o prazo máximo de prisão preventiva e assim teriam de ser libertados.."É notória e deliberada a intenção dos arguidos de manter-se sem instrução [fase de] com a intenção de conseguir a libertação que não conseguiram com os inúmeros recursos e habeas corpus que têm interposto. Sendo ainda de notar que apenas em relação a um arguido o Tribunal da Relação de Lisboa alterou a medida. É uma maneira hábil de empatar o prazo que se encontra a decorrer", frisou Carlos Delca que assim decidiu manter a decisão de começar hoje a fase de instrução com a audição de quatro dos acusados: Hugo Ribeiro, Sérgio Santos, Celso Cordeiro e Elton Camará..Alguns advogados contestaram, mas parecia que os arguidos iam de facto começar a ser ouvidos..Mas não. Miguel Fonseca, o novo advogado do antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho, decidiu questionar a publicidade do processo ou seja a presença de jornalistas na sala. Alegando querer ver cumprida a lei que, segundo alegou, diz que a comunicação social e o público em geral não pode assistir a esta fase do processo. Posição em que não esteve sozinho..O juiz decidiu então dar a palavra à procuradora do Ministério Público Cândida Vilar, que liderou a investigação neste processo, e esta foi clara: "O arguido Bruno de Carvalho dá entrevistas sucessivas em que faz consideração relacionando-me com pessoas que não conheço [no semanário Expresso de sábado, dia 29 de junho], e agora não quer a presença da comunicação social? Entendo que deve estar presente, limitar o debate instrutório aos arguidos é possível, mas tem de ser requerido no pedido de abertura de instrução.".E, assim, este assunto também ficou encerrado. E pensou-se ser possível ouvir ainda antes de almoço os dois arguidos previstos. Mas, não passaram de falsas expectativas..Desta feita, a contestação passou pelo facto de não estarem na sala os arguidos que pediram para estar presentes - na fase de instrução os acusados que não requereram essa abertura, ou mesmo que o tenham feito, decidem se querem ou não assistir à audiência..O juiz garantiu que todos os envolvidos que tinham mostrado interesse em estar presentes foram notificados, alguns advogados dizem que não e é neste momento que se descobre que havia acusados "perdidos"..Ou seja, estavam no Estabelecimento Prisional do Montijo para onde foram levados na segunda-feira por engano da Direção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais. Como explicou ao DN fonte oficial desta entidade "verificou-se um lapso de interpretação de uma convocatória, emitida pelo Tribunal do Barreiro, para que três reclusos do Estabelecimento Prisional de Lisboa fossem conduzidos ao Campus da Justiça. Detetado o lapso em tempo útil, a diligência foi realizada pelo Estabelecimento Prisional do Montijo"..Ou seja, os três detidos a cumprir a medida de coação de prisão preventiva em Lisboa, mas na segunda-feira foram levados para a cadeia do Montijo, alguém achou que a fase de instrução iria decorrer no Barreiro, e depois quando se deu pelo erro a DGRSP teve de trazer o trio de volta a Lisboa..Tudo isto fez com que a sessão suspensa às 12.00 para recomeçar às 13.30 na realidade se iniciasse às 15.41 pois o juiz mandou chamar ao Campus de Justiça os 23 arguidos que tinham pedido a instrução. Desta forma todos poderiam assistir ao que ali se passava..Esta movimentação de detidos dos vários estabelecimentos prisionais fez atrasar a sessão da tarde, a qual acabou por ser rápida..Claro que começou com um protesto: desta feita de um advogado que pediu para o seu cliente ser dispensado de estar presente pois está em convalescença de uma operação às costas e foi obrigado pelos serviços prisionais, frisou, a deslocar-se a Lisboa. Acabou dispensado de regressar à sala de audiências esta quarta-feira..Passadas estas vicissitudes iniciou-se a audição dos quatro acusados de participarem no ataque à Academia do Sporting a 15 de maio do ano passado..Foram interrogatórios rápidos - todos desmentiram ter batido em alguém, atirado tochas, entrado no balneários e cometido algum ato de terrorismo e um deles disse que só se lembrava de ter passado seis horas no DIAP no dia 15 de maio sem comer nem beber -, apenas com o de Sérgio Santos a prolongar-se um pouco mais (chegou aos 20 minutos) para garantir que chegou à Academia depois dos acontecimentos, que tinha, tal como Fernando Mendes, falado com Jorge Jesus, que os militares da GNR que chegaram ao recinto lhe perguntaram se tinha alguma coisa a ver com o que tinha acontecido e como disse que não "foram embora"..A procuradora ainda o interrogou - o que foi motivo para o advogado de Bruno de Carvalho entrar em novo diálogo com o juiz pois alegava que quem tem de fazer as perguntas é o juiz e não os advogados e MP, estes têm de dizer ao magistrado o que querem perguntar e depois este apresenta a questão - perguntando se não estava "escondido debaixo de uma árvore". Sérgio Santos desmentiu, voltou a afirmar que tinha falado com o treinador Jorge Jesus e que só espero "pelo Torres" [outro acusado]" para este lhe dar boleia pois mora no Barreiro e não tinha como ir para casa.."Esta é a realidade. Caí lá de pára-quedas. Não sou de violência, não fiz nada naquela academia. Já tenho idade suficiente para não me meter em loucuras", frisou..Pouco mais de uma hora durou então a primeira sessão desta fase do processo relacionado com o ataque à Academia do Sporting e quando se preparava o encerramento já depois de estar marcada o debate instrutório para ao de julho - a advogada Sandra Martins, de Fernando Mendes, diz querer reiterar o pedido para a libertação deste seu cliente pois já estavam no processo todos os relatórios médicos pedidos..O juiz Carlos Delca explica então que ainda não tinha decidido nada pois aguardava uma resposta da procuradora que, ao seu lado, garante já ter dado e que não tinha nada a opôr à libertação..Perante este cenário, o magistrado diz então que iria proferir o despacho de libertação o que vai possibilitar que o antigo e carismático líder da Juventude Leonina seja colocado em liberdade, provavelmente esta quarta-feira..Foi, assim, o final feliz para um dia muito atribulado neste processo em que estão acusadas 44 pessoas de vários crimes, sendo o principal e o mais criticado pelos advogados o de terrorismo..Depois dos quatro arguidos desta terça-feira - Hugo Ribeiro, Celso Cordeiro, Sérgio Santos, Elton Camará - amanhã será a vez de Eduardo Nicodemus e Bruno de Carvalho prestarem depoimento. E com a presença de familiares e amigos autorizada pelo juiz depois de questionado pelo advogado do antigo líder leonino..O Ministério Público acusou 41 arguidos, todos membros da Juve Leo, em coautoria de 40 crimes de ameaça agravada; 19 de ofensa à integridade física qualificada; 38 de sequestro mas classificados como terrorismo; dois de dano com violência; um de detenção de arma proibida e um de introdução em lugar vedado ao público. Há ainda acusações individuais de tráfico de estupefaciente..[Notícia atualizada às 18.50]