06 novembro 2018 às 18h51

FC Porto acelera para os oitavos à boleia de Marega

Dragões confirmaram superioridade, com dois golos em cada metade, e ficaram a apenas um ponto de voltar a carimbar lugar entre as 16 melhores equipas da Europa. Fasquia dos 60 milhões no horizonte

Rui Frias

O FC Porto "só" tem Marega para o ataque na Liga dos Campeões (na verdade, tem Adrian Lopez e André Pereira ainda), mas Marega é quanto basta para desequilibrar a favor dos dragões a as contas deste grupo D da prova. Esconjurado o bloqueio goleador que parecia persegui-lo na principal prova do futebol europeu de clubes, o avançado maliano vai já na terceira partida consecutiva a marcar na Champions, tendo voltado a fazê-lo nesta terça-feira, frente ao Lokomotiv de Moscovo, no Dragão, contribuindo para a vitória folgada (4-1) que deixou a equipa de Sérgio Conceição quase, quase nos oitavos de final.

Este texto começa por Marega porque é por ele também que começa, na maior parte das vezes, a capacidade do FC Porto em desequilibrar os adversários. Voltou a sê-lo contra o Lokomotiv, outra vez. Numa combinação com Brahimi pela direita, o maliano encontrou logo aos dois minutos a nesga de espaço que lhe basta para furar pela defensiva contrária e serviu o golo de bandeja à entrada da pequena área. Quem aproveitou para assinalar em grande o regresso ao onze inicial foi o mexicano Herrera, que se antecipou aos adversários e empurrou para a baliza.

Sem o lesionado Aboubakar nem o brasileiro Soares, que não está inscrito, Marega tem de assumir o papel central no ataque portista na Champions, mas isso não lhe retira a capacidade para desequilibrar com as suas arrancadas em profundidade, seja em diagonais a partir das alas ou em progressão na zona central. Marega não é Mbappé, claro, mas num jogo (futebol) de equilíbrios cada vez mais apertados, quem desequilibra pode ser rei. E Marega é o principal trunfo desequilibrador do FC Porto. Voltou a sê-lo pouco antes do intervalo, quando o mexicano Herrera resolveu devolver a assistência inicial e lançou o maliano em corrida pela direita, num contra-ataque que só acabou com a bola no fundo da baliza de Guilherme (e pelo meio das pernas deste).

Yuri Semin, o veterano (71 anos) técnico russo do Lokomotiv, tinha razão para estar preocupado, de véspera, em relação a Marega. O maliano, que vive a melhor sequência goleadora (quatro jogos consecutivos a marcar) desde que voltou de Guimarães ao FC Porto, expôs na primeira parte as diferenças que separam as duas equipas.

Óliver, maestro

Não quer isto dizer que o FC Porto tenha sido apenas Marega, longe disso. Voltou a ser, e muito, Óliver Torres também, o médio espanhol que ganhou uma nova vida recentemente no Dragão e agora parece de pedra e cal no onze titular. Quem diria? A verdade é que Óliver, de quem Sérgio Conceição diz ter melhorado muito o jogo sem bola - e por isso lhe ter dado a titularidade nos últimos jogos -, dá um toque de criatividade à construção de jogo que o FC Porto não tem com outras opções. Contra o Lokomotiv, o espanhol voltou a fazer um bom jogo e saiu ovacionado pelos adeptos quando deu lugar a Sérgio Oliveira na parte final, já depois de ter assistido Corona para o terceiro golo portista, que chegou numa altura providencial, já na segunda metade, quando os russos tinham reduzido por Farfán e pareciam entusiasmados na reação.

O FC Porto foi também muito Herrera, incansável neste seu regresso ao meio-campo titular, a tentar ligar zonas de ação, tanto em processo ofensivo como defensivo. E foi quase sempre superior ao Lokomotiv, uma demasiado macia defensivamente para poder aspirar a alguma coisa na elite europeia - por alguma razão acumulou aqui a quarta derrota em outros tantos jogos neste grupo D, ficando desde já sem quaisquer hipóteses de apuramento para os oitavos de final.

A reação russa

Mas não foi, apesar dessa superioridade indiscutível, um jogo tão fácil par ao FC Porto quanto o resultado final reflete. Houve momentos em que o Lokomotiv expôs deficiências na transição defensiva portista que deixaram Sérgio Conceição à beira de um ataque de nervos, ainda na primeira parte - Eder, o herói português do Euro 2016, desperdiçou um desses lances com um remate muito torto, na área, quando estava ainda 1-0 apenas. E houve sobretudo um período inicial da segunda parte que deixou o FC Porto encostado à baliza de Casillas e que culminou com o golo de Farfán, numa altura em que a bola era quase só do Lokomotiv (chegou a ter 63% de posse após o intervalo).

Mas o golo de Corona, pouco depois, num lance que começou num mau alívio do guarda-redes Guilherme, repôs a tranquilidade entre a equipa portista e a normalidade no jogo, que acabaria depois da melhor forma, com um golaço de Otávio à entrada da área no último momento da partida, quando o Dragão estava sob dilúvio (a chuva e o vento castigaram os jogadores toda a noite).

Milhões, muitos milhões

O FC Porto de Sérgio Conceição só precisa de mais um ponto para garantir matematicamente a entrada, mais uma vez, no lote das 16 melhores equipas da Europa (os apurados para os oitavos de final da Champions). Com três vitórias consecutivas, depois do empate inicial na Alemanha diante do Schalke04, o campeão nacional lidera o grupo D com 10 pontos, dois mais do que os alemães, que visitam o Dragão na próxima jornada, a 28 de novembro. E vai engordando a receita milionária numa edição em que os prémios dispararam. Nesta altura, a SAD portista já pode fazer contas a pelo menos 53 milhões de euros (44 pela entrada na fase de grupos e 9 milhões pelos pontos obtidos até aqui), com a perspetiva de mais 9,5 milhões quase a entrar (o prémio de apuramento para os oitavos).

Ficha de jogo

Jogo no Estádio do Dragão, no Porto.

FC Porto - Lokomitv Moscovo, 4-1.

Ao intervalo: 2-0.

Marcadores:

1-0, Herrera, 02 minutos.

2-0, Marega, 43.

2-1, Farfán, 59.

3-1, Corona, 67.

4-1, Otávio, 90+3.

Equipas:

- FC Porto: Casillas, Maxi Pereira, Felipe, Éder Militão, Alex Telles, Danilo, Herrera, Óliver Torres (Sérgio Oliveira, 84), Corona (Hernâni, 77), Marega e Brahimi (Otávio, 68).

(Suplentes: Vaná, Diogo Leite, Sérgio Oliveira, Otávio, Hernâni, André Pereira e Adrián López).

Treinador: Sérgio Conceição.

- Lokomotiv Moscovo: Guilherme, Ignatyev, Corluka, Höwedes, Idowu, Anton Miranchuk, Denisov, Krychowiak, Manuel Fernandes (Farfán, 46), Aleksei Miranchuk e Éder (Smolov, 71).

(Suplentes: Kochenkov, Lysov, Mikhalik, Rotenberg, Barinov, Farfán e Smolov).

Treinador: Yuriy Semin.

Árbitro: Davide Massa (Itália).

Ação disciplinar: cartão amarelo para Corluka (03), Felipe (48), Éder Militão (61) e Otávio (84).

Assistência: 34.616 espetadores.

Figura

Marega. A capacidade do africano para desequilibrar uma defesa com a sua velocidade furiosa é um trunfo de que Sérgio Conceição não pode abdicar. Sem Aboubakar nem Soares na Champions, o maliano voltou a ter de ser o elemento central do ataque portista, mas não se deixou limitar na ação. E foi a partir da direita que desequilibrou o jogo a favor do FC Porto logo na primeira parte.

Filme do jogo