Igreja e agente de jogadores. A nova vida de Jardel depois do álcool, do sexo e das drogas
Mário Jardel, ex-jogador do FC Porto e do Sporting, voltou a abrir o coração e a falar dos vícios que o impediram de fazer uma grande carreira internacional e que quase lhe deram cabo da vida. Numa longa entrevista ao site brasileiro globoesporte, o ex-jogador garante que está recuperado e que se sente um homem novo. Frequenta a igreja três vezes por semana, está ligado ao agenciamento de jogadores e diz que apesar de ter deixado a política, ainda era capaz de voltar. Revela ainda que tem vários bens penhorados e fala dos tempos em que jogou com Cristiano Ronaldo no Sporting... e de quase ter sido cunhado do avançado português.
Aqui ficam as principais passagens da entrevista.
"Estou numa outra vida, muito feliz por poder dizer que nunca me senti tão bem. Houve uma mudança radical, uma transformação tremenda. Hoje tenho muita fé em Deus, que vai manter-me muito tempo assim. É uma vida nova, sem bebida, sem drogas, sem prostituição. Estou há quatro meses sem tomar remédios para dormir. Sou uma pessoa renovada e bem consciente de que posso servir a sociedade com este resgate, com palestras, com várias coisas que estão a surgir devagarinho. A vida está mais saborosa. A cada dia fico mais contente com minha atitude, com esta mudança."
"Moro em Fortaleza. Vou à igreja três vezes por semana. Faço trabalho de intermediário de jogadores, levando para Porto Alegre, para o Brasil e para o mundo, principalmente Portugal. Fico no telefone, vou ver jogos. Levo uma vida social com pessoas certas. Algumas amizades têm que ser cortadas. Estou num caminho com direção, bem agradável, bem tranquilo, com paz espiritual. E estou muito feliz de poder dar esta entrevista, revelando que hoje sou uma nova pessoa. Vou à praia, a aniversários, ao cinema. Voltei a ter aquela vida que eu tinha antes."
"Há cinco ou seis meses senti que precisava de mudar. Estava a tomar muitos remédios para a depressão e comecei a frequentar a igreja. Cada um tem sua religião, e ela precisa ser respeitada. A minha mulher, a Sandra, também me ajudou muito. É uma luta. Não é fácil. Tenho estado muito seguro da minha serenidade, do meu equilíbrio mental, e isso tem-me fortalecido. Às vezes, caio na real, porque as pessoas dizem 'Jardel, tu és o único brasileiro com duas Botas de Ouro na Europa, foi artilheiro da Libertadores, artilheiro da Champions League, campeão. Tu tens que te valorizar mais'. Comecei a dar-me mais valor. Senti que não dava mais para continuar naquela vida desgraçada, uma vida que não levava a nada."
"Depois daquela situação em Porto Alegre, como deputado... Até hoje tenho os meus bens bloqueados por causa daquela situação. Tinha largado a droga, e há pouco tempo larguei a bebida também. Você vai num churrasco, tem a bebida, tem a droga. É como o Casagrande fala nas entrevistas. Você chega, é conhecido, vai ter tudo. Muitas coisas na vida têm origens hereditárias. É uma luta diária. Mas sei que essa vida não é pra mim. Já passou. Espero manter-me para resto da vida assim. Tenho a certeza de que vai dar tudo certo."
"Vou fazer 46 anos, foram oito a nove anos em que andei num mundo muito cruel. Se pudesse, eu não faria o que fiz. Quero viver intensamente e tentar recuperar esses anos perdidos de outra maneira, usando a minha capacidade, o meu conhecimento e o meu nome para ajudar, fazer ações sociais, passar uma imagem... Sei que é difícil, porque notícia ruim corre rápido, e notícia boa... Hoje vocês estão tendo uma notícia muito boa, que é o Jardel está bem."
"Quando você tem muito dinheiro, está cheio de amigos. Quando não tem, todo mundo desaparece. E eu também me distanciei deles. Percebi que, quando ganhava milhões por mês, estava cheio de amigo para eu pagar a conta, e agora não. Agora os amigos saíram."
"[A primeira vez que usou drogas foi em Portugal?] Não. Foi nas férias, em Fortaleza. Depois passava um ano sem, depois usava. Os problemas foram afunilando, e fui achando que conseguia sair. Tenho muita consciência de que se continuasse usando diariamente, era vela preta. Só consumia cocaína."
"Fui artilheiro cinco anos (em Portugal). Sou o melhor brasileiro da história do futebol português. Os brasileiros chegavam lá e diziam que iam ser artilheiros. Eu dizia: "Beleza, no final das contas a gente vê". Eu tinha contrato des objetivos com o FC Porto. Eu chegava para o presidente e dizia: 'Quero isso aqui, mas só se eu for campeão e artilheiro". Só no último ano no FC Porto que eu não fui. Só fui artilheiro, e o Sporting foi campeão. Chegava Donizete, chegava Valdir, e o pessoal falava que ia ser artilheiro. Eu falava: 'No final a gente vê'. Tive a oportunidade de ir para a Turquia com o Taffarel. Falo com ele até hoje. Ganhei a Supertaça Europeia. Voltei para Sporting com o Cristiano Ronaldo, por dois anos, e até hoje o Sporting não ganhou mais títulos, depois de mim e do Cristiano Ronaldo. Muitas pessoas ligam-me do mundo todo para falar do Cristiano Ronaldo, porque ele teve um caso com a minha irmã (Jordana). Realmente, teve um namorico ali. Lógico que eu queria que o Cristiano Ronaldo fosse meu cunhado, mas não aconteceu. Faz parte da vida. Hoje, onde eu chego, ele recebe-me. Temos essa cumplicidade."
"Não é exagero. Com certeza o Ronaldo aprendeu muito comigo. Foram dois anos. Minha média na Europa era de 55, 60 golos por ano. Aqui no Brasil a média é de 25, 30. Eu fazia o dobro. E ganhava bem menos do que ganham hoje. Mas ele aprendeu muito. Tempo de bola... Se você tiver a oportunidade de perguntar para o Cristiano Ronaldo se ele lembra do Jardel cabeceando nos treinos, ele vai dizer que sim. Se disser que não, vai estar mentindo."
"[O que aconteceu como deputado?] Estive mal, com depressão, no vício, e o que posso ter feito de errado foi aquele dinheiro passado do assessor para a próxima campanha, que a gente tinha combinado, e o resto estou com a consciência tranquila, não fiz nada de errado. Tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, nada foi provado, e hoje durmo tranquilo. Espero que o Ministério Público encontre uma solução para desbloquear os meus bens, porque preciso viver. Tenho bens bloqueados que ganhei antes da política. Há bens em nome da minha família que estão bloqueados, e as pessoas cobram-me. Antigamente, eu não dormia. Agora durmo tranquilo. Gastei o dinheiro que eu tinha com advogados. Muito dinheiro."
"[Voltar à política] Nada é por acaso. Até hoje as pessoas convidam-me, porque sou muito carismático, muito humilde. Não tive capacidade, reconheço. Fui mal assessorado, reconheço. Se for para entrar na política, vai ser completamente diferente. Vejo essa possibilidade, pela pessoa que sou, mas com uma assessoria diferente, com pessoas diferentes. Tentando não errar. É uma coisa que muita gente faz na política, separar um dinheiro para se manter. E disso aí eu não tinha noção. Não estava com a capacidade mental legal, com aquele stresse, o uso de coisas que não eram da vida. Mas se for para entrar de novo na política, se for a vontade de Deus, vou entrar, mas com os pés no chão."