Bruno Lage: vinho, licores e o fim dos estágios
Bruno Lage, treinador do Benfica, aproveitou nesta sexta-feira a conferência de imprensa de antevisão ao jogo deste sábado (19.00) com o Gil Vicente para explicar a razão pela qual acabou com os estágios da equipa na véspera dos jogos.
"O objetivo foi aproximar o trabalho de um grande clube como é o Benfica aos grandes clubes europeus. Não temos de imitar ninguém, mas temos de ir ao encontro do que é o conforto para os nossos jogadores. Vamos jogar sábado, quarta e sábado e cada jogador passa três ou quatro noites em casa, se a viagem for longa, como será a ida à Rússia, estaremos duas ou três noites fora de casa", começou por dizer.
O técnico diz preferir que na véspera de um jogo em casa os jogadores "fiquem no conforto da sua casa". "Temos várias ferramentas para que isso possa acontecer. Existe uma hora de recolher, às 19.00, mas, em vez de estar aqui, estão em casa, se for caso disso nós fornecemos daqui a refeição para o jogador e para a sua família em casa. Todos usam a pulseira de controlo do sono", explicou.
Bruno Lage revelou ainda o que é feito no dia do jogo: "Estão aqui para o pequeno-almoço e ficam cá, temos reuniões e preparamos o jogo... Em Inglaterra a equipa só se concentra às 16.00 para um jogo às 19.00. Fomos ao encontro daquilo que é melhor para o jogador, porque temos dados que comprovam que em casa descansam melhor. Nos primeiros 15 dias a pré-época foi aqui no Seixal, com treinos bidiários, eles iam a casa e tudo correu bem. Não é por perder um jogo com o FC Porto que se põe tudo em causa."
Ainda assim, o treinador encarnado garantiu que "há exceções" a esta normalidade: "Quando há o regresso das seleções, como temos muita informação para passar, fazemos estágio."
E para desmistificar a importância dos estágios, Bruno Lage concluiu a conferência com um olhar para o passado. "Todos nós já ouvimos histórias de estágios de há dez ou 15 anos. Havia treinadores que até deixavam beber um copo de vinho de véspera e os mais velhos o que faziam? Traziam o mais novo para junto deles e diziam que ele também bebia... e depois o que acontecia, vem uma chávena com cafezinho e piscava o olho para trazê-la porque, afinal, não vinha café, vinha um licorzinho. E estava em estágio e já tinha dois copos de vinho e um licor no bucho. Aqui os jogadores têm todos os procedimentos e põem tudo em causa... é entre isto e ter um jogador que tem um furo e telefona a dizer que não consegue estar às 19.00 em casa. O que foi o jogador e o que é agora é diferente... temos de evoluir. Ganha-se e perde-se dentro do campo, não é fora dele."
A finalizar, Bruno Lage lançou um nome de forma enigmática: "Como sou um gajo porreiro, vou dar-vos um nome. Adam Reach... é um jogador como o Chiquinho, não tem um bigode como o André Almeida, é mais parecido com o Chris Waddle."
Adam Reach é um médio ofensivo inglês de 26 anos, joga no Sheffield Wednesday há quatro temporadas, tendo sido orientado por Carlos Carvalhal e Bruno Lage, que era treinador adjunto, nas épocas 2016-2017 e 2017-2018. No entanto, não é conhecida nenhuma história que envolva o jogador e o técnico do Benfica, que nas próximas semanas deverá desvendar este mistério.
Antes desse esclarecimento, Bruno Lage explicou ainda a atuação do clube no mercado de transferências no que diz respeito à contratação de um guarda-redes para competir com Vlachodimos... e até falou nos nomes dos alvos.
"O Vlachodimos foi a primeira pessoa a ser informada de que pretendíamos mais um guarda-redes para tornar a posição competitiva", começou por dizer, para depois começar a explicar todo o processo: "Sabendo que tínhamos dois jovens valores, Zlobin e Svilar, entendemos que poderíamos trazer alguém com mais experiência pelo lugar e dar mais competição ao Odysseas. Ele percebeu e a partir daí começámos a atacar o mercado. O primeiro a ser abordado foi Cillessen, mas em dois ou três dias percebemos que era difícil trazê-lo, porque, devido ao facto de não conseguirmos determinado tipo de jogadores, e de não termos um campeonato competitivo, ele não quis vir para Portugal e preferiu ir para o Valência."
Bruno Lage revelou depois as opções que se seguiram: "A segunda foi o Fabianski. Num dia, não por ele, que achava um grande desafio jogar a Liga dos Campeões, percebemos que não era possível porque o West Ham tinha acabado de contratá-lo. O terceiro surgiu quando o Buffon regressou à Juventus e atacámos o Petin e conseguimos, mas infelizmente não chegámos a um acordo final devido a uma lesão, detetado pela competência do nosso departamento médico. Por último, o Gulácsi porque recebemos a informação de que o clube lhe tinha prometido um projeto diferente, mas ficámos logo a saber que o Leipzig disse que não negociava a uma semana do fecho do mercado. Podem verificar o nível competitivo que queríamos atingir tendo em conta a qualidade destes jogadores. Sempre dissemos que era preciso trazer jogadores de qualidade para aumentar a competitividade do plantel para disputarmos o campeonato e a Champions."
Sobre o facto de Zivkovic, Franco Cervi e Fejsa terem continuado no plantel apesar de terem estado com possibilidade de deixarem o clube, Bruno Lage deixou uma garantia: "No dia 2 ou 3, quando fechou o mercado, falei com todos os jogadores com perspetivas de sair. Todos eles contam neste momento. Mas contam mesmo."
O brasileiro Morato foi o último reforço a chegar à Luz neste verão e o treinador do Benfica teve oportunidade de trabalhar com o defesa central nos últimos dias, tendo até participado no jogo-treino com o Estoril. "É um jogador que nos pode trazer muito a médio prazo, tem de crescer e terá o seu espaço para jogar como muitos outros na equipa B e treinar com a A. O resto depende deles e das oportunidades que vão surgir", frisou.
Bruno Lage reafirmou que a ambição para esta época é "vencer todas as competições internas e fazer competições europeias ao nível do que é o Benfica" e foi com essa ideia que foi "construído o plantel com critério".
Sobre o regresso ao Estádio da Luz, depois da derrota frente ao FC Porto, Bruno Lage lembrou que a equipa procura sempre "a perfeição e de fazer sempre bem no jogo seguinte". "Como não podemos levar para dentro do campo o que já ganhámos, também não vamos levar o que já perdemos. Temos é de estar determinados."
Na ordem do dia continua a falta de golos dos avançados Raúl de Tomás e Seferovic, Bruno Lage não fugiu à pergunta e revelou que esse assunto não lhe tira o sono: "Se não marcássemos golos, estaríamos todos preocupados, mas como a equipa tem feito golos... Temos de olhar para o que a equipa produz e ela tem um estilo e cria muitas oportunidades de golo."
O técnico encarnado revelou depois que não vai poder contar com Florentino Luís (recupera de uma lesão no menisco interno do joelho direito) para o jogo com o Gil Vicente, uma vez que ainda recupera de lesão, o mesmo acontecendo com Gabriel. Com orgulho, Bruno Lage admitiu depois que Adel Taarabt "chegou diferente" da seleção, pois "veio como capitão da equipa de Marrocos e com uma ambição enorme de continuar a trabalhar bem".
Vítor Oliveira, treinador do Gil Vicente, garantiu que a sua equipa não irá entrar no Estádio da Luz, porque se o fizesse estaria sujeito a uma derrota pesada, algo com que Bruno Lage concordou. "É a avaliação correta. É um treinador com muita experiência, com muitos títulos, com uma carreira invejável e que disse a verdade porque foi isso que vi, uma equipa do Gil Vicente nos cinco primeiros jogos, com boa organização e com cuidados de organização defensiva como fez com o FC Porto e com os olhos na baliza do adversário quando recupera a bola, por isso é que temos de estar ao nosso melhor nível", frisou.
Questionado sobre se Leonel Pontes poderá conseguir o mesmo percurso no Sporting do que ele no Benfica, deixou claro que essa é uma questão de qualidade: "Com qualquer pessoa competente pode acontecer o que me aconteceu. Com dedicação e compromisso podemos conseguir coisas fantásticas. O que sinto é que tive a sorte de ter pessoas que reconheceram a minha competência e apostaram em mim."