Noite mágica de João Félix deixa Benfica a sonhar na Liga Europa
O Benfica garantiu esta quinta-feira, no Estádio da Luz, uma importante vantagem de 4-2 sobre o Eintracht Frankfurt, na primeira mão dos quartos-de-final da Liga Europa. Um resultado que acaba por saber a pouco, uma vez que a equipa de Bruno Lage chegou a ter uma vantagem de três golos, que daria um maior conforto para a viagem à Alemanha na próxima semana, mas um golo de Gonçalo Paciência acabou por recolocar a de Adolf Hütter dentro da discussão pela chegada às meias-finais.
A noite foi de João Félix. Três golos, uma assistência e uma exibição em cheio, que o tornaram no futebolista português mais jovem (19 anos) de sempre a fazer um hat-trick nas provas europeias, superando... Eusébio, que em 1962 já tinha 20 anos. Entrou ainda para a história dos encarnados como o oitavo jogador nascido em Portugal a fazer três golos nas competições da UEFA (o último tinha sido Pacheco em 1992 com os eslovenos do Belvedur Isola). Mas há mais: é o mais jovem de sempre a marcar três golos num jogo da Liga Europa
Adolf Hütter, treinador do Eintracht, tinha avisado que o perigo vinha João Félix e acertou em cheio. Só não contava, por certo, que o Benfica se apresentasse em campo com oito alterações em relação ao último jogo e sem um ponta-de-lança, pois Seferovic ficou no banco e Jonas cumpriu castigo.
A estratégia de Bruno Lage terá surpreendido os alemães, uma vez que os três centrais não tinham qualquer jogador para marcar. João Félix era o homem mais adiantado, mas sem posição fixa no terreno, apoiado por Gedson Fernandes, que foi um autêntico segundo avançado em situação ofensiva e terceiro médio quando era preciso defender. Nas alas Franco Cervi e Rafa Silva procuravam acelerar nos seus corredores.
É verdade que o Eintracht entrou muito melhor no jogo, com maior posse de bola e uma rápida e agressiva reação à perda da bola que colocava dificuldades de posicionamento à equipa do Benfica, que surgia com dois médios de maior contenção como são Fejsa e Samaris. No regresso à Luz, Luka Jovic apareceu em boa posição para marcar logo aos três minutos, valendo o corte de Grimaldo no momento certo.
Aos poucos o Benfica foi equilibrando o jogo, ganhando confiança e impondo a estratégia que estava planeada para a partida. E eis que na primeira vez que o ataque conseguiu iludir a defesa alemã, com João Félix a recuar no terreno e a isolar Gedson, surge o penálti cometido por N'Dicka, que acabou por ser expulso, pois o médio português estava em boa posição para marcar. João Félix dava então início à sua noite mágica, batendo Kevin Trapp para delirio dos impacientes adeptos benfiquistas.
A vantagem numérica abria excelentes perspetivas para a equipa de Bruno Lage, mas a verdade é que o Eintracht é uma equipa muito bem sincronizada, com os jogadores muito rápidos na frente e a saberem bem onde aparecer para criar desiquilíbrios no adversário. E dessa forma que os encarnados estiveram sempre em sentido, perante a dinâmica ofensiva imprimida por Kostic, Ante Rebic e Luka Jovic, que beneficiavam de um meio-campo de combate.
E foi num erro de Fejsa, que Rebic aproveitou para lançar mais uma ataque rápido, oferecendo a Luka Jovic o golo que marcava o regresso à Luz, onde não se conseguiu impôr de águia ao peito. Confirmava-se aquilo que é uma imagem de marca deste Eintracht: à mínima falha do adversário não perdoa.
Só que o empate lançou o Benfica para o ataque e praticamente na resposta, João Félix pegou na bola fora da área e arrancou um disparo fortíssimo que não deu hipóteses a Trapp. Os encarnados voltavam a ganhar vantagem e num momento importantíssimo da partida... O 2-1 foi uma espécie de balão de oxigénio para a equipa de Bruno Lage, que antes do intervalo poderia ter aumentado a contagem não fosse uma excelente intervenção do seu guarda-redes a remate de Franco Cervi. Ainda antes do apito para o descanso, mais um susto quando a bola voltou a entrar na baliza encarnada, um lance que o árbitro assistente anulou por fora de jogo de Danny Da Costa, que estava em fora de jogo perturbando a visão de Vlachodimos.
Era preciso um Benfica inteligente na segunda parte para conseguir aproveitar o facto de estar a jogar com mais um homem em campo. Foi um início do segundo tempo a todo o gás, perante um adversário que pareceu entrar mais cauteloso, recuando mais as suas linhas para aproveitar o contra-ataque. É que a desvantagem de 2-1 era um resultado favorável.
Só que aos 50 minutos, um canto de Grimaldo foi desviado por João Félix (pois claro!) ao primeiro poste para que Rúben Dias só tivesse de empurrar de cabeça para o fundo da baliza. Estava feito o 3-1, mas o quarto não demoraria muito tempo. Quem? Félix. O menino de 19 anos recebeu um cruzamento rasteiro de Grimaldo e voltou a bater Trapp, inscrevendo o seu nome na história da Liga Europa e do futebol português.
O Benfica tinha uma vantagem de três golos e o Eintracht por momentos perdeu a cabeça. O jogo ficou partido, com os alemães a quererem ir para a frente a todo o custo. O Benfica tinha ali uma excelente oportunidade para aumentar a vantagem, teria apenas de aproveitar os espaços abertos na retaguarda do adversário. E o quinto golo esteve muito perto de acontecer quando João Félix inventou um passe fantástico para isolar Seferovic. O suíço que tinha acabado de entrar rematou e Trapp fez a defesa da noite com o pé.
Não marcou o Benfica, aproveitou o Eintracht para beneficiar de mais um erro defensivo dos encarnados, na sequência de um canto. Jardel abordou mal o lance e o português Gonçalo Paciência colocou de cabeça a bola ao ângulo da baliza, fazendo reentrar os alemães na corrida às meias-finais da Liga Europa.
Um golo que, no fundo, acaba por ser amargo para os encarnados, que assim já não vão viajar para a Alemanha tão tranquilos, pois um 2-0 garante o apuramento ao Eintracht.
Quatro remates à baliza, três golos e uma noite para mais tarde recordar. Foi a primeira vez que fez um hat-trick como sénior e contrariou aqueles que já diziam que se tratava, afinal, de um jogador normal. Não é. E o Eintracht sabia-o, mas não conseguiu evitar que o seu talento iluminasse a noite da Luz. João Félix ainda protagonizou o passe do qual resultou penálti e isolou Seferovic, que perdeu o quinto golo. Além do avançado, destaque ainda para Samaris e Gedson, fundamentais na estratégia encarnada.
FICHA DO JOGO
Estádio da Luz
Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)
Benfica - Vlachodimos; Corchia (Pizzi, 66'), Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Gedson Fernandes, Fejsa, Samaris (Zivkovic, 85'), Franco Cervi; Rafa Silva (Seferovic, 60'), João Félix
Treinador: Bruno Lage
Eintracht Frankfurt - Kevin Trapp; Abraham, Hinteregger, N'Dicka; Danny da Costa, Sebastian Rode (Gacinovic, 85'), Hasebe, Gelson Fernandes, Kostic; Luka Jovic (Jonathan De Guzmán, 60'), Ante Rebic (Gonçalo Paciência, 68')
Treinador: Adolf Hütter
Cartão amarelo a Luka Jovic (4'), Ante Rebic (26'), Samaris (82') e Hasebe (82'). Cartão vermelho a N'Dicka (20')
Golos: 1-0, João Félix (21' gp); 1-1, Luka Jovic (40'); 2-1, João Félix (43'); 3-1, Rúben Dias (50'); 4-1, João Félix (54'); 4-2, Gonçalo Paciência (72')