As razões que levam Messi a querer deixar o Barcelona

Jogador argentino está no clube desde os 13 anos. Tem mais um ano de contrato, mas acionou a cláusula de saída imediata prevista no contrato. Má relação com o presidente e o secretário técnico foi sempre evidente. Dispensa de Suárez e conversa com o novo treinador levaram-no a tomar a decisão de querer rescindir.
Publicado a
Atualizado a

Parece a crónica de uma saída anunciada e orquestrada. No dia 6 de fevereiro, o jornal italiano Gazzetta dello Sport noticiou que Lionel Messi estava descontente no Barcelona e que ponderava mudar de ares. Nada mais natural, não fosse ele o melhor jogador de futebol do mundo e poder deixar o clube de sempre, o Barcelona, a custo zero, graças a uma "cláusula de fuga" prevista no contrato.

Muitos ficaram incrédulos com a notícia. Parecia mentira que um clube deixasse o melhor jogador do mundo com a porta aberta para sair sem ganhar nada com isso, ainda mais quando investiu milhões de euros na sua formação. Mas, segundo o jornal italiano, era isso que estava no contrato: Messi só tinha de avisar os catalães com 20 dias de antecedência. O Barça não desmentiu e o argentino também não. Meio ano depois, a bomba estourou mesmo. O camisola 10 do Barcelona informou o clube que o acolheu com 13 anos de que quer ir embora.

Para o jornal de Madrid Marca, "a decisão de Messi em deixar o Barça é apenas o primeiro capítulo daqueles que ainda não foram escritos no epílogo do melhor jogador da história do Barcelona". O dia 25 de agosto pode assim ficar na história do emblema blaugrana como o início do fim de uma era... a era de Messi!

Foi através de um documento enviado por burofaxe (uma espécie de fax com aviso de receção) que a decisão do argentino chegou a Camp Nou. Mas afinal o que leva Messi a querer a rescindir o seu contrato com os blaugrana?

Para começar, a frustração de ver a equipa definhar entre más decisões desportivas e administrativas. A contratação do inexperiente Abidal para o cargo de secretário técnico foi uma delas. O jogador bateu de frente com ele quando o francês deu uma entrevista em que disse, entre outras coisas, que "muitos jogadores não estavam satisfeitos nem trabalhavam muito" porque queriam despedir o então treinador Ernesto Valverde.

Uma declaração que caiu mal ao capitão, que reagiu nas redes sociais: "Os responsáveis pela área da direção desportiva também devem assumir as suas responsabilidades e, sobretudo, assumir as decisões que tomam [...] Acho que, quando se fala de jogadores, é preciso dar nomes. Caso contrário, está-se a manchar o nome de todos e a alimentar coisas que se dizem e não estão corretas."

A situação levou o presidente do Barcelona a reunir-se com ambos de emergência, mas o mal estava feito e o mundo ficou a saber que Messi estava descontente. Além disso, Bartomeu tomou a posição de Abidal, e horas depois soube-se que ele podia sair do Barcelona a custo zero. As negociações para o corte salarial da equipa durante a pandemia contribuíram ainda mais uma relação já desgastada.

No relvado as coisas não correram melhor. A política de não reforço da equipa como Messi desejava, incluindo o regresso de Neymar em vez da contratação de Griezmann, para lutar pela Champions - foram eliminados no torneio final e inédito de Lisboa, com um humilhante 8-2 pelo Bayern Munique - juntou-se ao título falhado da Liga espanhola, numa época sem brilho.

A dispensa por telefone de Luis Suárez, seu amigo e melhor parceiro, por Ronald Koeman, que entretanto assumiu o comando da equipa, foi a gota de água que fez transbordar o copo de Messi, que considera que o projeto de reconstrução levará anos para voltar ao mais alto nível. Tempo que ele, aos 33 anos, não tem.

Terá sido a saída orquestrada? No Barça há muito que se temia que isto pudesse acontecer, até porque o camisola 10 já tinha recusado renovar e só tinha mais um ano de contrato. Além disso, segundo a Imprensa espanhola, o clube já se movimentava secretamente na procura de um substituto. Lautaro Martínez e Neymar são os principais candidatos.

É muito difícil, senão impossível, para o jogador reconsiderar a sua posição, ainda mais quando há um documento oficial já enviado. O clube vai lutar com unhas e dentes para que esta cláusula de rescisão, que expirou no papel no dia 10 de junho, não possa ser executada, embora Léo e sua entourage defendam que há base legal, uma vez que os contratos foram revistos durante a pandemia. Ou seja, foi definido o dia 10 de junho para poder acionar a tal cláusula de libertação para dar 20 dias ao clube antes do fim do contrato (30 de junho)... mas por causa da pandemia os contratos foram prorrogados automaticamente com a bênção da FIFA.

A guerra está aberta, mas o mais certo é ambas as parte sentarem-se à mesa para chegar a um acordo de saída.

Recebe 71 milhões por época e dispensa 70 milhões de bónus

Mesmo que saia a custo zero, contratar o argentino não é para todos. Messi recebe cerca de 71 milhões de euros brutos por temporada em Barcelona, sendo 15% verbas de direitos de imagem. Manchester City, Manchester United, Inter Milão, Paris Saint-Germain e até a Juventus de Cristiano Ronaldo são os potenciais interessados na contratação do argentino, que tem contrato com os catalães até 30 de junho de 2021 e uma cláusula de rescisão de 700 milhões de euros.

Segundo o site Football Leaks, que em 2018 revelou o contrato do jogador, Messi receberia um bónus de 70 milhões de euros caso cumprisse o contrato até ao fim... e mesmo assim pediu para sair.

Adivinha-se uma semana quente para os lados de Camp Nou. O Barcelona regressa ao trabalho no próximo domingo e há expectativa para saber se o capitão se vai apresentar para os trabalhos de pré-temporada. O assunto está a dominar as conversas nas redes sociais um pouco por todo o mundo e na Catalunha os adeptos tomaram o partido do jogador, manifestando-se contra a sua saída em frente ao estádio, pedindo a demissão do atual presidente. Bartomeu pode ficar ligado à saída do melhor jogador do mundo a meses de ir a votos. As eleições estão marcadas para março de 2021 e, também por isso, é muito difícil para o presidente renunciar agora.

Parece assim certo que o campeonato espanhol perderá Messi e Cristiano Ronaldo em apenas dois anos e os espanhóis temem "um impacto brutal" no torneio espanhol.

Messi, seis vezes eleito o melhor futebolista do mundo para a FIFA, soma mais de 731 jogos e 634 golos pela equipa principal dos blaugrana, ao serviço dos quais conquistou dez Ligas espanholas, seis Taças do Rei de Espanha, oito Supertaças espanholas, quatro Ligas dos Campeões, três Supertaças Europeias e três Mundiais de Clubes.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt