Alemanha chumba plano da liga para o regresso do público aos estádios
Os secretários da Saúde dos 16 estados que compõem a Alemanha rejeitaram, por unanimidade, o plano elaborado pela liga de futebol para que os estádios voltem a receber público em setembro, quando arrancar a nova temporada.
Os clubes que compõem os dois escalões da Bundesliga elaboraram um plano que tinha como objetivo fazer regressar as pessoas aos estádios, ainda que de forma parcial. Esse documento defendia que, por exemplo, o campeão Bayern Munique recebesse 25 mil espectadores no Allianz Arena, que tem 75 mil lugares.
Além disso, o plano que foi submetido às Secretarias Estaduais de Saúde contemplava ainda que não fosse admitida a entrada a adeptos das equipas visitantes para precaver riscos de contaminação nas viagens, além de que seria proibida a venda de bebidas alcoólicas e os ingressos passariam a ser personalizados para identificar todos os que estariam nos estádios.
Apesar de este projeto ter sido considerado "bom para o futuro", Dilek Kalaci, senadora da Saúde de Berlim, acrescentou que o plano "não é exequível". "Neste momento, estamos sobrecarregados com o controle sanitário dos que estão voltando de férias e com eventuais surtos do vírus em escolas. Queremos evitar que nosso sistema de saúde fique sobrecarregado", lembrou.
O desejo dos clubes de futebol causou alguma estranheza na Alemanha, afinal o Governo proibiu a realização de qualquer megaevento até 31 de outubro, além de que o regresso dos adeptos aos estádios tinha ficado adiado até que houvesse segurança sanitária. No entanto, a liga alemã procura fazer face à quebra abrupta das receitas dos seus clubes, uma vez que a bilheteira era uma fonte importante de subsistência do futebol, até porque a Alemanha tem uma das melhores taxas de ocupação dos recintos da Europa.
A primeira voz discordante relativamente a este projeto foi do virologista Alexander Dalpke, que deixou a certeza de que a proibição da presença de público nos estádios era "essencial para excluir qualquer risco de contaminação".
Já Susanne Johna, presidente da associação médica Marburger Bund, deixou claro, em declarações ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung, que o regresso do futebol com público representaria "um perigo real de uma contaminação massiva". "Um único adepto infetado seria suficiente para a propagação do vírus, como se fosse um rastilho de pólvora", sublinhou, lembrando as reações que um golo provoca nas pessoas: "Em momentos como esses, todos se abraçam e ninguém pensa no coronavírus."
Curiosamente, os próprios adeptos não acolheram este plano com bons olhos, pois Jost Peter, um dos elementos da Unsere Kurve, a associação alemã de claques de futebol, assumiu que a proposta da liga "não tem nada a ver com o ambiente sociocultural dos grupos organizados", acrescentando que "a presença só de adeptos da casa não faz sentido".
Uma ideia que vai ao encontro do ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn. "Milhares de espectadores nos estádios é algo incompatível com o atual aumento de casos de pessoas infetadas pelo vírus. Em teoria, o plano da liga é bom, mas durante uma pandemia a prática é outra. Trata-se de não correr nenhum risco desnecessário", avisou.