É uma experiência única, inédita em Portugal, que premeia as melhores histórias de luta e superação: cem pessoas vão correr 10 quilómetros, na próxima madrugada, debaixo da terra, sobre carris, pelo túnel da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa, entre as estações de São Sebastião e do Aeroporto. É a Discovery Underground Lisboa. Nesta prova, "não interessa o tempo ou quem chega primeiro, o que importa é desfrutar", resume Elena Hermosilla, diretora de Marketing e Digital da Discovery Espanha e Portugal, que organiza o evento em parceria com a NOS..Sim, uma corrida subterrânea pode ser algo bem mais simples do que parece. Esta, que começa às 02.30 da madrugada de hoje para amanhã, é a primeira em solo português, depois de o Discovery Channel ter promovido eventos similares em Madrid e Barcelona. "É algo pioneiro em Portugal e mesmo no mundo. É uma experiência única, que também pretende homenagear as histórias de superação dos seus participantes", sublinha Elena Hermosilla, em declarações ao DN..Após o encerramento do Metro, cerca da 01.00, tudo fica a postos para a corrida, sem ser necessário um grande trabalho logístico - o túnel estará relativamente iluminado e as pessoas vão circular onde habitualmente só passam carruagens do metropolitano, sem ser feita qualquer alteração na linha (apenas será desligada a energia). "A segurança é a maior preocupação" dos organizadores. "Teremos um staff enorme a tratar disso: pessoas a ajudar e a entregar abastecimentos de 250 em 250 metros e pessoal médico de 400 em 400 metros", descreve Elena Hermosillo, sublinhando que nas edições de Madrid e Barcelona não surgiram problemas graves - "só uma rapariga que teve de vomitar e outra que torceu o tornozelo"..As 300 pessoas que se aventuraram em Madrid e as cem que correram em Barcelona resistiram, sem grandes problemas, ao percurso subterrâneo, e por vezes íngreme, de um túnel do metropolitano. E o mesmo se espera dos cem atletas anónimos da prova lisboeta (que, antes da prova, receberão indicações sobre o percurso e os obstáculos que terão pela frente): afinal, foram escolhidos entre mais de 4000 candidatos, que se inscreveram no site do Discovery Channel - o número de participantes é limitado por questões de segurança - partilhando uma história de superação e justificando porque mereciam ser escolhidos. "Há muitos casos inspiradores", conta Elena Hermosilla..Boston e facadas.Entre eles estão Maria Madalena Barroso, de 29 anos, e Nuno Lucas, de 43. Ela recordou o choque do atentado na Maratona de Boston, em 2013, onde acabou a ajudar os bombeiros no socorro aos feridos. "Estava lá a fazer doutoramento e tinha uma colega que ia corrê-la pela primeira vez. Íamos esperá-la à meta, quando soubemos dos atentados e ficámos a auxiliar no socorro. Felizmente ela estava mais para trás e não sofreu ferimentos", conta Maria Madalena Barroso, ao DN..Ele falou de outra situação traumática. "O texto começava assim "quando acordamos numa cama de hospital, depois de levar umas facadas, passamos a ver a vida de forma diferente e a querer praticar desporto"", explica. Nuno Lucas saiu desse incidente sem sequelas graves e, depois, inspirado por um colega mais velho, dedicou-se à corrida. Agora, faz provas de longa distância, "até ultramaratonas"..Ambos os corredores - Maria Madalena é menos experiente na matéria, só se aventura em provas até dez quilómetros - se candidataram a participar na Discovery Underground Lisboa "pela novidade". "É uma coisa inédita. Tinha curiosidade, porque gosto de correr e da aventura", diz ela. "Não vou pela distância nem corro para tempos. Vou pela experiência de correr no metro e num ambiente diferente", acrescenta ele..Elena Hermosilla confirma que ambos poderão encontrar um ambiente singular, longe da competitividade de outras provas. "Em Madrid e Barcelona viu-se algo muito bonito: muitas pessoas a terminar a corrida juntas, de mãos dadas e superemocionadas. Sentiam-se muito especiais por participarem", conta..De resto, os participantes poderão ainda contar com outro fator de motivação: vão ter a companhia de Nelson Évora nos cem metros iniciais do percurso - o saltador português apadrinha a competição. "Vivi muitas horas nestes túneis do metro, pois era um dos meios de transporte que utilizava para me deslocar para os treinos. Acredito que vou reviver esses tempos. Lembro-me de que quando esperava nas estações tentava imaginar qual a velocidade a que o comboio ia e questionava--me se as carruagens ganhavam velocidade devido ao atrito causado pela proximidade das paredes dos túneis", revelou, na apresentação da Discovery Underground Lisboa, o campeão olímpico do triplo salto (Pequim 2008).."Agora, ele [Nelson Évora] vai poder esclarecer essa questão", diz Elena Hermosilla, lembrando que a "história de superação" de Nelson Évora é "particularmente inspiradora" para todos os participantes. Hoje, o saltador e os outros cem atletas levarão mais uma experiência única para contar.