Um amor dourado: como o casal Monteiro chegou ao título europeu
Ele insistiu. Ela cedeu. E juntos João Pedro Monteiro e Daniela Dodean Monteiro escreveram uma história de amor com final feliz, tornando-se o primeiro casal - leia-se marido e mulher - a sagrar-se campeão da Europa de pares mistos. Foi um desfecho "muito especial e gratificante", para uma dupla que "funcionou na perfeição", e mais um momento alto do ténis de mesa português - desta vez, com igual contributo romeno.
João, português de 33 anos, e Daniela, romena de 28, são os protagonistas deste amor dourado - uma façanha rara no desporto, até a nível global. Nos Campeonatos da Europa do final da semana passada em Budapeste (Hungria), os mesatenistas - casados há três anos - competiram pela primeira vez lado-a-lado e chegaram ao lugar mais alto do pódio. "Eu tinha receio. É preciso ter coragem para jogar com o marido, porque podia correr mal. Mas ele insistiu para tentarmos... e funcionou na perfeição", revela, ao DN, Daniela Dodean Monteiro.
"É sempre diferente estar a jogar com a pessoa que amamos. Tentámos não pensar como marido e mulher mas apenas como parceiros de jogo e o meu estilo encaixou muito bem no dela", descreve, por sua vez, João Pedro Monteiro. O resultado foi uma caminhada triunfal até ao título europeu, incluindo uma reviravolta épica na final - onde estiveram a perder por 0-2 e tiveram de salvar um match point, diante dos suecos Mattias Karlsson e Matilda Ekholm (5-11, 10-12, 11-5, 11-6 e 14-12 ).
No fim, João e Daniela, que se conheceram e apaixonaram quando ambos jogavam em Itália, celebraram uma façanha inédita. Mesmo que haja mais casais no meio do ténis de mesa - "por exemplo, o Marcos Freitas tem uma namorada luxemburguesa", nota ele -, é pouco comum competirem juntos. "É raro encontrar um par assim, porque habitualmente competimos com um atleta do próprio país. Mas o nosso estilo, ele a jogar com a mão esquerda, eu com a direita, é perfeito para combinarmos", explica ela.
"Não estávamos à espera"
Daniela Dodean , ainda solteira e adolescente, até já se sagrara campeã da Europa de pares mistos, em juniores, ao lado de um português - Marcos Freitas (em 2005). Mas este triunfo é bem mais emblemático para o desporto nacional. "Sermos o primeiro casal a vencer um Campeonato da Europa é um marco histórico. Não estávamos à espera de ganhar na primeira vez em que competimos juntos. É muito especial e gratificante para nós", sublinha o mesatenista natural da Guarda.
Para João Pedro Monteiro, este é o terceiro ano seguido a amealhar ouro nos Campeonatos da Europa: em 2014 tinha alcançado o título de equipas, por Portugal, e em 2015 o de pares, ao lado do austríaco Stefan Fegerl. Para Daniela Dodean, é mais um ponto alto numa carreira carregada de medalhas internacionais, desde as camadas jovens. A romena também trouxe de Budapeste o bronze no torneio de pares femininos - conquistado ao lado da compatriota Eliza Samara.
De regresso a Portugal
De resto, no que a participação portuguesa diz respeito, os Campeonatos da Europa renderam mais duas medalhas: prata para Fu Yu no torneio individual feminino e bronze para João Geraldo e Tiago Apolónia em pares masculinos. "São provas de que Portugal continua a conquistar grandes resultados a nível internacional", aponta João Pedro Monteiro.
Este ano, apesar da prestação abaixo das expectativas no torneio de equipas dos Jogos Olímpicos (eliminação na primeira ronda, perante a Áustria), é histórico para o ténis de mesa nacional, pois marca o regresso a casa de dois dos membros mais ilustres da sua geração de ouro. João Pedro Monteiro e Marcos Freitas deixaram a Áustria e treinam, desde setembro, no Centro de Alto Rendimento de Vila Nova de Gaia - embora continuem a competir por equipas estrangeira. "Tive a possibilidade de regressar com condições equivalentes às do estrangeiro e está a correr tudo bem", garante João.
A filha e o futuro
Com ele vieram Daniela, que também treina no Centro de Alto Rendimento (instalado no Parque da Lavandeira, em Oliveira do Douro) e a filha do casal, Lara Melissa, de ano e meio. Mas nem pai nem mãe anseiam por ver a filha a seguir-lhes as raquetadas no mundo da bola de celulóide. "Não vou pressioná-la para jogar, fará o que gostar", diz João. "Este é um mundo muito difícil: eu já tive três operações aos joelhos, o João uma às costas. E são precisos muitos sacrifícios: comecei a jogar aos seis anos, participei no primeiro Campeonato da Europa aos 12 e quase não tive juventude. Por isso, ela fará o que quiser", completa Daniela.
Quanto ao futuro competitivo dos dois, há menos reservas. Por agora, há muitos desafios pela frente para ambos, no campeonato francês e na Liga dos Campeões (ele ao serviço do ASTT Chartres, ela do TT Saint-Quentinois) - que os obrigam a constantes viagens. Mas João Pedro Monteiro já aponta aos Campeonatos do Mundo, que decorrem em maio de 2017: "Ainda não tivemos muito tempo para falar mas, se for o desejo dos dois, acho que podemos tentar novamente a nossa sorte". "Não sei, temos de ver", reage Daniela. Se ele insistir e ela ceder, talvez se escreva mais uma história dourada.