Thomas reconquista Algarve e renova voto de fidelidade a Froome
Discreto, regular e fiel. Eis Geraint Thomas, o ciclista da Sky, que repetiu a proeza de 2015 e se tornou bicampeão da Volta ao Algarve. Na derradeira subida da prova, o já clássico Malhão, o britânico soube ser frio para não responder ao ataque eletrizante de Alberto Contador, vencedor da etapa, e explorar na perfeição o colapso de Tony Martin.
Mas vamos por partes. Ainda ofegante e com a amarela "fresca" no corpo, o galês de 29 anos apareceu junto dos jornalistas. Para sublinhar a felicidade de uma vitória mais exigente que a da temporada transata e reforçada de simbolismo. Sobretudo por, desta feita, ser assumidamente chefe de fila da multimilionária Sky - em 2015, esse estatuto era de Richie Porte, agora na BMC.
"No ano passado, vencer foi um bónus. Vir aqui com responsabilidade foi diferente, estou contente por ter estado à altura", atirou Thomas, de forma contida, para depois reforçar a explicação: "Estava sob grande pressão porque no ano passado vim ajudar o Richie e desta vez tinha os rapazes a trabalharem para mim. Foi bom finalizar o trabalho e ganhar para lhes poder agradecer."
Discreto fora da bicicleta, regular em cima dela - basta ver que deixa Portugal com a amarela sem qualquer vitória em etapas -, nem o abanão de Contador fez Thomas entrar em pânico. Numa jornada com início em Almodôvar e final no Alto do Malhão, em Loulé, a lógica foi simples: "Quando o [Alberto] Contador atacou, procurámos manter a calma e não nos precipitámos na perseguição. Mantivemos o ritmo para conseguirmos vencer a geral", contou o atleta, cada vez mais "formatado" para provas de uma semana.
Ainda longe de poder ser considerado um voltista, não são estes triunfos que o levam a fugir ao guião. E a quebrar a lealdade que jurou a Christopher Froome e ao conjunto liderador por Dave Brailsford. Imagina ganhar uma grande volta (Giro, Tour ou Vuelta) já nesta temporada? Thomas corta rente essa ideia: "Gostava de ganhar uma grande volta em qualquer ano, mas para ser honesto o meu plano é ajudar o "Froomie" na Volta a França."
Em todo o caso, o homem que se inspirou em Jan Üllrich para deixar de seguir as incidências velocipédicas no sofá e passar a vivê-las in loco quase todo o ano não descarta melhorar a performance pessoal de 2015, em que foi 15.º - chegou a ocupar o sexto posto da geral individual, mas falhou em dias decisivos da Grande Boucle. "Se, depois disso, puder procurar um resultado para mim, vou tentar", confessou antes de recolher para junto do seu staff.
Contador brilha no ocaso de Martin
Quanto à etapa, aos 169 quilómetros que acertaram as contas da geral, os dados estavam lançados e tudo se aclarou ainda mais quando logo na primeira ascensão ao Malhão Tony Martin disse "adeus" à possibilidade de fazer o tri na "Algarvia". O "motor" do alemão da Etixx-Quick Step partiu - cedeu 18 minutos para os principais adversários - e a margem da Sky para gerir o rumo dos acontecimentos cresceu.
Thomas já não tinha sobre a cabeça a espada de Dâmocles de ter de atacar e os seus homens empurraram para outros as despesas da corrida. A Tinkoff e a Movistar morderam o isco e pegaram no pelotão. Contador aproveitou e saltou do grupo em solitário. Chegou isolado, engrossou para três o número de triunfos naquele local e ainda esperou 20 segundos por Fabio Aru (Astana), Thibaut Pinot (FDJ) e Amaro Antunes (LA Alumínios-Antarte) - o melhor português na geral ao terminar em décimo.
"Estou contente com esta vitória. Saio daqui com um bom resultado. Esta é uma corrida que me traz sorte para a temporada", disse El Pistolero, que subiria a terceiro da geral individual, em tom de vaticínio para o Tour. Descontraído, Thomas cruzava a meta a 28 segundos. A amarela estava garantida, até porque o virtual segundo, Ion Izagirre (Movistar), vinha mais atrás - finalizou a 30 segundos de Contador.
Leões melhores do que dragões
No primeiro frente-a-frente entre o Sporting-Tavira e a W52-FC Porto-Porto Canal, a comparação era inevitável: os leões levaram a melhor. Na geral individual, o capitão dos verdes e brancos, Rinaldo Nocentini, terminou em 29.º (a 5.03 minutos de Thomas), e o melhor dos azuis e brancos - que não contaram com o vencedor das últimas duas edições da Volta a Portugal, Gustavo Veloso - foi Rui Vinhas, dois postos abaixo (a 6.10 do camisola amarela).
Na classificação coletiva, o Sporting-Tavira foi mesmo a melhor formação lusa (13.ª, à frente da Efapel), enquanto a W52-FC Porto-Porto Canal não foi além do penúltimo lugar, superando apenas os russos da Gazprom-RusVelo.