Teia de Lage durou 68 minutos mas não deu para fazer história em Munique
Em 2010, Mourinho usou uma célebre frase para explicar como montou a tática do seu Inter numa eliminatória das meias-finais da Champions com o Barcelona: “Não metemos um autocarro em frente da baliza, metemos um Airbus 340 e com asas abertas.” Pois bem, Lage, pese o exagero, fez esta quarta-feira em Munique mais ou menos o mesmo. A equipa ainda aguentou 68 minutos, mas acabou castigada com um golo de Musiala no jogo da quarta jornada da Champions. Não saiu goleada como nos três jogos anteriores frente aos bávaros, é verdade, mas não se esperava um bloco tão baixo - segundo dados estatísticos do goalpoint, o clube da Luz passou a ser a equipa com menos remates tentados num jogo da Champions esta época, com apenas um, desenquadrado e de longe
O Bayern, líder da liga alemã, entrou em campo pressionado com duas derrotas na prova (Aston Villa e Barcelona), diante de um Benfica com um onze revolucionário, a começar pelo esquema de três centrais e com Kaboré, Renato Sanches e Amdouni a titulares, com o treinador a abdicar, em relação ao último jogo, de Bah (por lesão), Di María, Florentino e Pavlidis (estes por opção).
O Bayern começou com muita posse de bola e jogou quase sempre no meio campo do Benfica, mas com enormes dificuldades em furar a teia defensiva idealizada por Lage, com Kane e Musiala sempre anulados. E por isso os primeiros remates do jogo surgiram só após a meia-hora - por Laimer, fraco e ao lado, e aos 32’ por Kane para defesa de Trubin.
O Benfica defendia bem e tapava com sucesso todos os caminhos para a baliza, mas lances de ataque simplesmente não existiram na primeira parte, embora o esquema de Lage tivesse como ideia aproveitar a velocidade de Aktürkoglu e Amdouni, o que nunca aconteceu.
O Bayern carregou e aos 38’ valeram duas boas intervenções de Trubin, primeiro num remate de Kane e depois de Olise. Ao intervalo a estatística mostrava 71% de posse de bola e cinco remates à baliza dos bávaros em contraste com 29% e zero remates do Benfica.
O treinador do Benfica mexeu ao intervalo e lançou Beste e Pavlidis para os lugares de Kaboré e Amdouni. Mas manteve o esquema tático. Depois de um remate de Kane perigoso ao lado (54’), Lage voltou a ir ao banco, lançando Di María por troca com Aktürkoglou. Kompany respondeu com a entrada de Sané.
Os alemães continuaram a carregar e aos 59’ Trubin voltou a ser decisivo ao defender um remate de Leroy Sané. O guarda-redes ucraniano tornou a brilhar, desta vez com uma enorme intervenção, ao negar outro golo a Sané.
Jogar fechadinho é um risco e sobretudo frente ao Bayern. E aos 68’, os bávaros marcaram, num lance em que Kane ganhou de cabeça a Tomás Araújo e Musiala bateu Trubin.
O Benfica subiu no campo, mas foi o Bayern que continuou com o controlo do jogo. Lage ainda lançou Arthur Cabral aos 80’, mas sem efeitos práticos. O apito final chegou e as águias (com apenas um remate à baliza em 90 minutos) não conseguiram fazer história: o Bayern venceu sempre os encarnados em Munique e o Benfica continua sem conseguir ganhar aos bávaros.
Esta derrota atirou o Benfica para a 19.ª posição, longe dos lugares (oito primeiros) que garantem acesso direto aos oitavos de final, mas ainda em zona de play-off (até ao 24.º).
"Assumo as resonsabilidades. Já falei com os jogadores. Esta foi a minha estratégia, assumi perante eles que esta era a minha ideia. Já fechámos este jogo e já estamos a pensar no FC Porto", disse no final o treinador Bruno Lage.
"Acho que a lição é não tentarmos respeitar demasiado os nossos adversários, porque também temos qualidade. Sabemos que todos os jogadores que jogam pelo Benfica têm qualidade, e, por vezes, os jogos acabam e ficamos com a sensação de que algo ficou por fazer. Mas isto é futebol. Aprendemos, avançamos e tentamos fazer melhor", disse por sua vez Renato Sanches.
Já Palhinha, médio português do Bayern, revelou que não esperava um Benfica tão defensivo: "Sei o que o Benfica representa. Estava a comentar isso com uma pessoa, que não esperava que o Benfica defendesse com um bloco tão baixo. Também fizemos por isso, não os deixámos jogar. A nossa pressão foi muito boa e ainda crescemos na segunda parte."
nuno.fernandes@dn.pt