"Sou o único treinador no mundo a vencer dois títulos em três continentes [Europa, África e Ásia] com dois clubes diferentes. Se este é o trabalho que aceito neste momento na minha carreira, não quero ser despromovido. Não quero isso no currículo. Não aceitei porque é bom estar em Portugal. Aceitei porque o Boavista é um grande clube.” As palavras são de Stuart Baxter, treinador escocês de 71 anos, a aposta do Boavista para salvar o clube da despromoção.Estreou-se com uma vitória em Faro, diante do Farense, que permitiu ao clube largar a posição de lanterna vermelha e ficar a três pontos do lugar de play-off, ocupado pelo AVS, e este domingo terá um teste complicado na receção ao Sporting, num jogo que os axadrezados têm de vencer, mas que o Sporting também está obrigado a ganhar para continuar a sonhar com o título.Baxter, amigo de Arsène Wenger, nasceu em Inglaterra, mas é filho de pais escoceses, e é um verdadeiro globetrotter. A fama de viajante começou nos tempos de jogador, tendo atuado em clubes de Inglaterra, Escócia, Austrália, Suécia e EUA. E prosseguiu como treinador, com passagens pela Suécia, Noruega, Japão, Turquia, Índia e também Portugal - foi adjunto de Malcolm Alisson no Vitória de Setúbal durante três meses, em 1987. No currículo conta passagens pela seleção de sub-19 da Inglaterra e pelas seleções principais da África do Sul (em dois momentos) e Finlândia. Ao todo foram 17 equipas diferentes de nove países e três continentes.O novo treinador do Boavista somou vários títulos, os mais importantes um campeonato sueco e duas Taças da Suécia, e ainda duas ligas sul-africanas, três Taças da África do Sul e duas Taças da Liga do mesmo país. Foi ainda responsável por promoções e livrar clubes da descida de divisão.Campeão com autocarroUm dos seus maiores feitos foi quando em 1998 se sagrou campeão sueco pelo AIK. Um título alcançado de forma muito pouco comum: venceu o troféu com o pior ataque - 25 golos em 26 jogos -, mas com a melhor defesa, 15 golos sofridos. Só para se ter uma noção, o melhor marcador da equipa fez cinco golos.“Os adversários não conseguiam jogar contra nós. Não conseguiam marcar golos. Não porque jogávamos à defesa, mas porque jogávamos de uma forma completamente diferente. Obrigávamos os defesas contrários a jogarem recuados e contra-atacávamos de forma agressiva”, contou há uns anos.Apesar de não o admitir, a verdade é que a tática defensiva é uma das suas imagens de marca. Na Suécia, onde orientou vários clubes, foi diversas vezes acusado pelos adversários e pela imprensa de estacionar autocarros. E dias antes de assinar pelo Boavista não esteve com rodeios quando um jornal sueco o entrevistou e perspetivou o embate com o Sporting e com Gyökeres. “É estacionar muitos autocarros. Veremos se o Gyökeres consegue passar por cima deles”, atirou.Uma carreira com tantos anos como treinador também teve as suas polémicas. Uma deu bastante que falar, quando em 2021, no Odisha FC, da Índia, foi despedido porque criticou as arbitragens recorrendo a um exemplo muito infeliz: “Não sei quando vamos ter um penálti. Acho que um dos meus jogadores teria que violar alguém ou ser ele próprio violado se quisesse um penálti.”É neste escocês de 71 anos, visto como salvador e de gostar de missões difíceis, que o Boavista aposta para tentar escapar à despromoção. Isto numa época difícil em que o clube já despediu dois treinadores - Cristiano Bacci e Lito Vidigal -, esteve impedido de inscrever jogadores devido a dívidas e viu no início da semana a EDP cortar a eletricidade do Bessa devido a falta de pagamento. .Boavista paga dívida ao fornecedor de eletricidade do Estádio do Bessa. Jogo com o Sporting vai realizar-se