Um Sporting invicto, como não se via desde 1982: "É bom sinal"

Há 36 anos que os leões não chegavam ao fim da 20.ª jornada sem perder. Desfecho pode ser igual, dizem dois campeões de 1982
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Era "uma equipa coesa, com um excelente espírito de grupo", motivada pelo treinador Malcolm Alison e alimentada pelas exibições de António Oliveira, Manuel Fernandes e Rui Jordão, que "resolviam qualquer jogo": aquele Sporting de 1981-82 fez história. E só 36 anos depois outra equipa leonina conseguiu imitar o seu percurso invicto nas primeiras 20 jornadas do campeonato. "É um bom sinal", nota Carlos Xavier, crente de que, apesar das diferenças, esta época pode ter o mesmo desfecho: a conquista do título nacional

O triunfo de quarta-feira sobre o Vitória de Guimarães (1-0) permitiu à equipa verde e branca superar a série invencível de 1994-95 (19 jornadas). Há 36 anos que os leões não chegavam à 20.ª ronda da I Liga sem derrotas. E esse é um bom indicador histórico: então, a equipa de Allison (que sofreu o primeiro desaire à 22.ª jornada, na visita ao Boavista) acabou por se sagrar campeã nacional. "A estatística não me diz muito, mas indica que o Sporting está no caminho certo", aponta, ao DN, Carlos Xavier, um dos membros da equipa de 1981-82.

António Fidalgo, outro dos campeões de há 36 anos, lembra como "os contextos são completamente diferentes": agora, o Sporting lidera a I Liga à condição (com um ponto de avanço sobre o FC Porto, a quem falta jogar a segunda parte do jogo suspenso no Estoril), enquanto em 1981-82 tinha sete pontos de avanço sobre a concorrência (numa altura em que cada vitória apenas valia dois). A imbatibilidade, por si só, não garante títulos, adverte o antigo guarda-redes - "quando estava no Benfica, em 1977-78, não fui campeão, embora não tenha perdido qualquer jogo". Mas pode ser "um fator importante" para um clube que está há muito tempo afastado das grandes conquistas.

Para Carlos Xavier e António Fidalgo há mais diferenças do que semelhanças entre as equipas de 1982 e de 2018. "Na altura, tínhamos três jogadores que resolviam, António Oliveira, Rui Jordão e Manuel Fernandes. Agora, a equipa vale pelo seu conjunto: não é só um que resolve, são todos. O golo do Mathieu [que valeu o triunfo frente ao Vitória de Guimarães] é sinónimo disso mesmo", aponta o primeiro.

"Então, o Sporting era melhor... só faltava eu jogar mais mas havia o Meszaros", ri António Fidalgo. "Tínhamos uma equipa extremamente competente a nível técnico e tático: Allison trouxe algo novo para o futebol português. E também era uma equipa extremamente competente a nível mental, coesa e com um excelente espírito de grupo: isso fez-nos ultrapassar todos os obstáculos", descreve o antigo guardião.

A equipa treinada por Jorge Jesus, que emula os feitos da de Allisson (ambas com 15 vitórias e cinco empates, ao fim de 20 jornadas), tem muitos obstáculos pela frente. Mas Carlos Xavier e António Fidalgo acreditam que tem condições para chegar a bom porto. "É uma equipa consistente, que tem estofo e qualidade e pratica bom futebol, sem perder noção do que tem de fazer [quando as coisas não saem à primeira], como se viu com o V. Guimarães", refere o antigo médio, que representou o Sporting entre 1979 e 1996 (com passagens por Académica e Real Sociedad pelo meio).

Há plantel para as três frentes?

"Não é por acaso que o Sporting está a lutar em todas as frentes. Tem um treinador com grande capacidade e com cultura de vitória. E um excelente plantel, muito equilibrado e com muitas opções, que lhe permite lutar por todos os objetivos", acrescenta o antigo guarda-redes, que jogou em Alvalade de 1979 a 1983.

Ainda assim, a I Liga é uma maratona - "mas daquelas malucas, estilo Ironman", brinca Carlos Xavier. E, mais do que da imbatibilidade, é da capacidade de aguentar o ritmo de vitórias do pelotão da frente que vai depender o êxito de ser o primeiro a cortar a meta. A sobrecarga de jogos (com os leões ainda envolvidos na Taça de Portugal e na Liga Europa) não é problema para António Fidalgo. "Quando se diz que estar em poucas frentes pode ser proveitoso, eu tenho dúvidas. Há desgaste físico, emocional e cognitivo, mas os jogadores gostam é de jogar. E, se for feita uma gestão correta do plantel, para equilibrar em todas as frentes, isso só vai elevar os índices de confiança do plantel", afirma.

Carlos Xavier também considera que, com a chegada dos reforços de inverno (entraram Lumor, Misic, Wendel, Rúben Ribeiro e Montero), "há condições para manter o Sporting em todas as frentes". O percurso, a começar pela visita ao Estoril (domingo, 18.00), "é complicado". Mas, "mantendo o nível e ganhando jogo a jogo", o antigo campeão acredita na reedição do sucesso.

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