Sergio García vence Masters: uma redenção repleta de simbolismo
Cumpriu-se o destino, tantas vezes adiado, do veterano espanhol, que conquistou o seu primeiro major no dia em que "Seve" Ballesteros faria 60 anos. Mudança foi chave do sucesso
Juntaram-se todas as peças para uma redenção repleta de simbolismo. No ano em que as promessas-eternamente-adiadas começaram a ir além do quase, no dia em que o lendário Severiano Ballesteros faria 60 anos, e quando encontrou, por fim, a calma que antes lhe faltava nos momentos decisivos, Sergio García cumpriu o seu destino. Aos 37 anos, o golfista espanhol venceu o Masters de Augusta, o primeiro título major da sua longa carreira.
Domingo (já madrugada de ontem, em Portugal), viveu-se um dia de emoções fortes no Augusta National Golf Club (Geórgia, EUA): a luta pela conquista da 81.ª edição do Masters, o primeiro dos quatro majors do principal circuito mundial de golfe foi renhida até ao limite. Depois de terem iniciado o último dia do torneio igualados no 1.º lugar, Sergio García e o inglês Justin Rose acabaram igualmente empatados, com 279 pancadas, nove abaixo do par. O espanhol resolveu a contenda, com um birdie logo no início do play-off de desempate. E, visivelmente comovido, pôde, finalmente, celebrar.
A passadeira fora estendida por Dustin Johnson. O norte-americano, com fama de falhar nos momentos decisivos e sucumbir perante os seus demónios interiores, foi o primeiro a rasgar o rótulo de promessa-eternamente-adiada, este ano, ao chegar à liderança do ranking mundial, em meados de fevereiro. Johnson era o favorito a vencer o Masters mas foi obrigado a desistir devido a uma lesão nas costas. E abriu caminho à afirmação de outro golfista há muito remetido ao estatuto de perdedor.
Sergio Garcia "já tinha imaginado este momento muitas vezes", desde que se estreou em Augusta, em 1999, ainda como amador. Esse foi o ano da última vitória de um espanhol num major. O natural de Borriol (Castellón) tardou em repetir os sucessos alcançados por Seve Ballesteros (vencedor do Masters em 1980 e 1983 e do Open Britânico em 1979, 1984 e 1988 ) e José María Olazábal (campeão do Masters em 1994 e 1999). E, após ter sido 2.º no PGA Championship (1999 e 2008) e no Open britânico (2007 e 2014), parecia incapaz de alguma vez imitar os mais ilustres compatriotas.
Contudo, García encontrou a calma que antes lhe faltava... na hora H: a mudança psicológica, com o auxílio da noiva, Angela Akins, foi a chave do sucesso. "Foi um longo caminho até chegar aqui. Sabia que jogava bem mas nunca me tinha sentido tão calmo numa quarta volta de um torneio do Grand Slam com neste domingo", reconheceu o espanhol, após experimentar a emblemática jaqueta verde entregue ao vencedor do Masters de Augusta.
"Quando comecei, pensava que um dia ganharia aqui um major. Mas, com o passar dos anos, esse pensamento mudou e comecei a sentir-me desconfortável em Augusta. Há três ou quatro anos fizemos as pazes: aprendi a aceitar que Augusta te dá tanto quanto tira de ti. E creio que é por isso que estou aqui, agora, com esta jaqueta", explicou ainda Sergio García. "A verdade é que continuo a ser o mesmo, mas muito satisfeito e muito orgulhoso, pela forma como estive em campo e por toda a gente que me apoiou desde o princípio da carreira", disse ainda o golfista espanhol, que conquistou o primeiro grande título à 74.ª participação num major.
De resto, o regresso do golfe espanhol às grandes conquistas internacionais teve um simbolismo ainda maior por ter acontecido no dia em que Severiano Ballesteros (falecido em 2011, vítima de um tumor no cérebro) faria 60 anos. "É uma coincidência emocionante. Unir-me a ele e a Olazábal, os meus ídolos de sempre, é realmente fabuloso", concluiu Sergio García.