Schmidt diz adeus 830 dias depois de frase marcante. Rui Costa promete sucessor em breve

Schmidt diz adeus 830 dias depois de frase marcante. Rui Costa promete sucessor em breve

Cinco pontos perdidos em quatro jornadas de exibições fracas foram a justificação apresentada pelo presidente dos encarnados para o despedimento do alemão. “Novo treinador será conhecido nos próximos dias”, garante.
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830 dias depois de ter dito a frase “quem ama o futebol, ama o Benfica”, Roger Schmidt faz as malas e deixa de ser o treinador do Benfica. O anúncio foi feito este sábado, às 17.20 horas, num curto comunicado à CMVM, em que a SAD encarnada informava que tinha iniciado  negociações “para a cessação do contrato de trabalho desportivo com efeitos imediatos”. Pouco mais de uma hora depois, o presidente Rui Costa, que em Moreira de Cónegos tinha deixado a bancada de forma intempestiva quando o Moreirense se adiantou no marcador, explicou as razões da decisão no Benfica Campus, no Seixal.

“Roger Schmidt já não é treinador do Benfica”, começou por dizer, para depois explicar a razão pela qual manteve o alemão para esta época: “Pretendíamos estabilidade, mas ao fim de quatro jornadas face aos resultados e às exibições que tivemos, consideramos que era o momento de trocar de treinador.” O presidente dos encarnados agradeceu depois o trabalho desenvolvido no clube por Schmidt – “um grande homem, com que a relação não foi minimamente beliscada” – e revelou estar “já a trabalhar” na contratação de um novo técnico, que “irá assumir funções ainda antes do regresso da equipa aos treinos”, na sequência da paragem para as seleções. 

Questionado sobre se Leonardo Jardim estaria em cima da mesa, recusou falar em nomes, acrescentando que tem “a plena convicção de que o Benfica pode conquistar títulos” ainda esta época e explicou porquê: “Não construímos um plantel para Schmidt e o próximo treinador irá confirmar que tem jogadores com qualidade suficiente para trabalhar. O objetivo é contratar alguém que adote o mesmo sistema tático.”

Confiante no futuro, Rui Costa disse que “apesar de já ter perdido cinco pontos, há margem para dar a volta à situação”. Sobre o facto de não ter rescindido com o treinador no final da última época reforçou a ideia que procurava estabilidade, mas não só: “Não temos bolas de cristal e acreditámos que era possível repetir o futebol do primeiro ano de Roger Schmidt. E foi com essa convicção que tomei a decisão. Naquele momento considerei que o melhor era continuar, agora, o melhor é sair.”

Ao mesmo tempo que vão decorrer negociações com o novo treinador “que seja uma garantia para o futuro”, irão ser negociados os termos da rescisão com Schmidt, sendo que o objetivo será não pagar os cerca de 20 milhões de euros a que terá direito.

Um divórcio anunciado

A empate em Moreira de Cónegos (1-1) foi a gota de água que fez transbordar o copo da paciência do presidente do Benfica, o único que ainda segurava o treinador alemão e que fez questão de mantê-lo no final da última época, apesar de todos os insucessos da equipa, que falhou a conquista do campeonato, foi eliminado na na fase de grupos da Liga dos Campeões, nos quartos de final da Liga Europa, nas meias-finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal.

Depressa os adeptos do Benfica se esqueceram do futebol encantador da primeira época, que valeu a Roger Schmidt  a renovação de contrato até 2026, precisamente até ao final do mandato da direção presidida por Rui Costa, que fazia questão de dizer que o alemão era o treinador do seu projeto. É certo que os encarnados acabaram por ser campeões nacionais, embora com uma quebra acentuada de rendimento da equipa. 

No final da primeira época, já se ouviam os primeiros sinais de desconfiança, que a vitória na Supertaça frente ao FCPorto, camuflaram. Só que uma entrada em falso na ILiga, com a derrota no Bessa com o Boavista, e quatro derrotas nas primeiras quatro jornadas da Champions fez disparar os alarmes dos adeptos. 

A contestação foi aumentando de tom e os lenços brancos aumentaram nas bancadas onde o Benfica jogava. A relação de Schmidt com os adeptos tornou-se mesmo insustentável, mas o presidente manteve-se imune à pressão e no final da temporada passada anunciou a continuidade do alemão, admitindo erros que seriam corrigidos para a nova época. “Sim, ficámos aquém do queríamos. Sim, foram cometidos erros que já estão identificados e vão certamente ser corrigidos para esta nova temporada”, disse o líder benfiquista a 15 de junho.

Foram feitas contratações para equilibrar o plantel, mas a saída de João Neves e David Neres, bem como as opções discutíveis para formar a equipa, que já vinham do ano anterior, irritou os adeptos, que foram ao limite com o arranque da época desastroso, com uma derrota humilhante em Famalicão, o mesmo sítio onde na época anterior o Benfica tinha entregue o campeonato ao Sporting. Seguiram-se vitórias pouco convincentes em casa com Casa Pia e Estrela da Amadora. 

Na sexta-feira, o empate nos instantes finais, de penálti, acabou por ser a gota de água que transbordou este sábado, após uma conversa entre treinador e presidente. Roger Schmidt deixa a Luz pela porta pequena, depois de um início muito prometedor. No currículo fica um título de campeão nacional e uma Supertaça em 115 jogos oficiais,  nos quais contabilizou 80 vitórias, 20 empates e  15 derrotas. Além disso, fica ainda com os créditos de ter apostado em jovens jogadores como João Neves, António Silva, Tomás Araújo, Tiago Gouveia e até JoãoRego no seu último jogo, além de ter potenciado Enzo Fernández ou Gonçalo Ramos, que à semelhança de Neves, renderam muitos milhões ao Benfica.

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